O caminho dos juros no Brasil não é muito promissor, ante questões domésticas e externas, devendo manter a taxa Selic em 10,50%, e podendo retomar um ciclo de alta no futuro ante a expectativa de inflação desancorada e acima da meta dos agentes econômicos, segundo a Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset.
“Estimamos a taxa de juros parada em 10,50%. Se tivermos um movimento, será de alta” estima Genta, durante o 13º Seminário Gestão de Investimentos nas EFPC, promovido pela Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar), no painel ‘Insights sobre as perspectivas da bolsa brasileira e as oportunidades em um contexto econômico em evolução‘.
O economista vê o diretor Gabriel Galípolo como o provável novo presidente do Banco Central, visto que o diretor da autarquia esteve com Lula na reunião de ontem (25), que definiu a meta contínua de inflação em 3%. Segundo Genta, o comportamento da autarquia ante uma nova composição deve continuar sendo técnica, mas com os diretores assumindo mais risco.
“O perfil pode ser um pouco diferente. Acho que vai ser um BC um pouco mais tomador de risco, mas do ponto de vista estritamente técnico. No ano que vem não acho que começamos a cortar juros na largada. Nosso problema não vai ser o Banco Central não”, diz, sobre as questões fiscais em discussão no Brasil.
Ele vê nas questões domésticas uma busca constante do governo central pelo aumento de arrecadação via aumento “brutal” de carga tributária, reflexo do que avalia como um aumento de despesas “numa velocidade muito maior do que o governo esperava”. Uma das principais preocupações do economista é em relação ao gasto com a Previdência: “O salário mínimo vai crescer inflação +3% ao ano e a Previdência vai crescer mais que o salário mínimo”, diz, sobre a atual indexação do INSS.
Um dos pontos levantados pelo economista é o aumento de beneficiários do BPC (Benefício de Prestação Continuada), que está em ritmo de crescimento, aumentando também a despesa da Previdência, apesar de não haver contribuição prévia.
Segundo Genta, a “insegurança jurídica é muito grande no país, pois o governo tem editado MPs (Medidas Provisórias) para tentar arrecadar o orçamento do ano seguinte com a conta fechada”. Dessa forma, enxerga um fiscal muito “estimulativo”, com o monetário “tendo que ser restritivo”.
Cenário internacional joga contra o Brasil
“Para piorar, estamos num mundo com juros mais altos”, diz o economista. Ele afirma que historicamente, quando há uma taxa maior de juros nos EUA, há juros mais altos nos países emergentes. “Mesmo que fizermos um belíssimo dever de casa, teremos juros mais altos no Brasil”, diz, condicionando a melhora local após um eventual corte de juros pelo Federal Reserve, o qual a XP Asset projeta para dezembro, sendo o único corte no ano.
Um dos fatores, diz, são as eleições americanas. “O Fed historicamente evita mexer nos juros durante as eleições”, afirma, adicionando que vê o grande problema dos EUA hoje como a questão fiscal do país, em meio a sua crescente dívida trilionária. “Acho que nenhum dos dois candidatos é uma boa alternativa”, diz.
Bolsa brasileira atingiu seu o fundo?
Segundo Marcos Peixoto, gestor de Renda variável da XP Asset, a bolsa local está muito ‘descolada’ da realidade dos mercados globais de renda variável, com o pior desempenho entre as principais bolsas do mundo.
Segundo Peixoto, um dos aspectos que tem tirado mais recursos da bolsa, que vêm registrando resgates sequenciais nos investimentos de estrangeiros, nos últimos meses, é o “mercado muito pujante lá fora, principalmente no setor de IA (Inteligência Artificial), que tem dragado recursos do resto do mundo”.
Nesse contexto, a indústria de investimentos tem ficado em dos menores percentuais de renda variável da história, segundo dados compilados pelo asset, mas com indícios de que o movimento de saída está amenizando: “Estamos vendo uma desaceleração dos resgates. Quando menos tem, menos vai sair”, diz. O gestor afirma ainda que há um dado importante a ser analisado pelos investidores: “O múltiplo da bolsa está em mínimas históricas”.
Ele diz que as empresas estão registrando bons resultados, com alavancagem das companhias em um patamar conforátvel. Segundo Peixoto, a XP não fez nenhuma revisão negativa de lucro nos últimos trimestres. “Quando há fundamento, lucro, tem valuation. É hora de comprar”, afirma.