O mercado global de ETFs atingiu um novo recorde de ativos sob gestão, superando 11,6 trilhões de dólares no final de 2023, impulsionado por um desempenho robusto do mercado e uma clara preferência dos investidores por essa classe de ativos. Segundo a análise da EY em seu último relatório sobre essa indústria, na última década emergiram duas tendências claras: o desenvolvimento dos ETFs ativos e a entrada dos ETFs no universo dos criptoativos. Será que a tokenização será o próximo passo nessa evolução?
“Os ativos digitais estão começando a ganhar tração, particularmente com as aprovações da SEC para ETFs de bitcoin à vista, e poderiam começar a pavimentar o caminho para a tokenização de ativos, embora persistam desafios em termos de liquidez e desajustes na liquidação. Os esforços para encurtar os prazos de liquidação poderiam acelerar a trajetória da tokenização nos ETFs”, aponta o relatório. Após a chegada dos ETFs de bitcoin à vista, seguiu-se a aprovação dos veículos que investem em ethereum em maio passado.
De acordo com o relatório da EY, o interesse dos investidores por ativos digitais e tokenização está aumentando. De fato, a empresa de consultoria considera que, nos últimos anos, muitos passos foram dados à medida que os mercados financeiros se moveram nessa direção. “Os ETFs fisicamente respaldados por ativos digitais têm estado presentes nos mercados europeus há vários anos, oferecidos por provedores como Shares e ETC Group, o que permitiu aos participantes do mercado negociar essa classe de ativos na bolsa na Europa, embora sujeitos a certas restrições em termos de distribuição. Em janeiro de 2024, a SEC também aprovou recentemente solicitações para 11 ETFs de bitcoin à vista apresentadas por empresas como Fidelity e Invesco, além da conversão do Grayscale Bitcoin Trust em um ETF. Esta aprovação mudou fundamentalmente a forma desse segmento da indústria, que passou de maioritariamente não regulado, operando a partir da Europa com menos de 13 bilhões de dólares no final de novembro de 2023, para principalmente regulado, operando a partir dos EUA com quase 53 bilhões de dólares no final de janeiro de 2024”, explicam.
Na Europa, a Comissão Europeia está realizando uma revisão ampla da diretiva sobre os ativos elegíveis para os UCITS. Segundo a EY, essa revisão, que potencialmente poderia abrir a porta para os ativos digitais no futuro, os requisitos de diversificação sob UCITS fariam com que os produtos de exposição única (como os ETFs de bitcoin à vista aprovados pela SEC) permanecessem como ETPs na Europa, semelhante aos produtos de commodities e ações de exposição única.
“No entanto, a aprovação desses produtos pela SEC é fundamental e verá uma adoção mais ampla e uma maior familiarização com os ativos digitais entre os participantes do mercado financeiro convencional”, esclarece o relatório.
Segundo sua avaliação, aclamado como a próxima revolução dos mercados financeiros, esse movimento certamente impulsionará o que vem a seguir para a indústria. “Resta saber se essa é a aprovação de outro tipo de produto em tendência ou um passo a mais em direção à tokenização em toda a indústria de gestão de ativos. E com isso, surgem perguntas sobre a longevidade da estrutura de ETF, dado que as liquidações em tempo real estarão em jogo”, apontam.
Segundo a análise da EY, embora a transição dos ETFs para um produto tokenizado seja um cenário de médio a longo prazo, a indústria já está trabalhando em esforços para acelerar a liquidação em toda a cadeia de valor. “Em maio de 2024, EUA e Canadá passarão de T+2 para T+1 nos prazos de liquidação de valores mobiliários. Para encurtar os prazos de liquidação, os provedores têm trabalhado para melhorar seus sistemas de negociação e automatizar os processos manuais sempre que possível, o que, em última análise, trará eficiências operacionais, economia de custos e redução do risco de liquidação”, indica.
Em sua opinião, isso terá um impacto profundo na indústria de ETFs a nível global: “Criará desajustes de liquidez entre os ETFs que são negociados na Europa (com liquidação em T+2) e suas carteiras de valores mobiliários dos EUA (com liquidação em T+1), ou os ETFs que são negociados nos EUA (com liquidação em T+1) e suas carteiras de valores mobiliários europeus (com liquidação em T+2). Isso adiciona custos de financiamento adicionais à sua comercialização, pois os criadores de mercado autorizados para esses ETFs precisarão fechar a lacuna entre os ciclos de liquidação do mercado primário e secundário. Quando a liquidação em T+1 se tornar rotina nos EUA, e os participantes do mercado operarem em um ciclo mais curto, esperamos que haja chamadas para que a Europa siga o mesmo caminho, e a Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários (ESMA) já está consultando sobre isso”.
Nesse sentido, reconhecem que a Europa é um mercado de negociação muito mais complexo que os EUA, com múltiplas bolsas de valores, moedas, idiomas e sistemas legais. Encortar o prazo de liquidação será muito mais difícil do que nos EUA.”, consideram. No entanto, uma vez feito, os investidores exigirão que a indústria encurte novamente o ciclo? “A tokenização poderia ser o próximo passo se a indústria buscar acelerar ainda mais o ciclo e oferecer uma solução para a liquidação em tempo real. A indústria mais ampla de gestores de ativos está buscando a tokenização para aumentar a eficiência e a liquidez no comércio de ativos alternativos (como capital privado ou renda fixa) e desbloquear novas fontes de capital”, argumentam.
De fato, a EY lembra que alguns provedores têm explorado projetos piloto para tokenizar a emissão de fundos e trabalhar nos desafios comerciais, legais e tecnológicos antes de explorar uma expansão disso. “A FCA no Reino Unido anunciou que está trabalhando com a indústria, e a Investment Association no Reino Unido publicou recentemente um plano para a implementação da tokenização nesse campo. A tokenização tem o potencial de mudar fundamentalmente o ecossistema da gestão de ativos. Poderia melhorar a velocidade de liquidação e abrir novos caminhos tanto para os investidores quanto para os gestores de ETFs”, concluem no relatório.