Na sua opinião, “esses países se beneficiam principalmente da forte recuperação do turismo após a pandemia e do apoio do Fundo de Recuperação da UE, em forma de subsídios e empréstimos. Dependendo do país periférico, o apoio monetário do Fundo de Recuperação da UE representa entre 3% e 9% do PIB desembolsado ao longo de cinco anos.”
Segundo a análise de Tisserand, isso ajuda a explicar os melhores resultados econômicos em comparação com outros países da zona do euro e o estreitamento relativo do diferencial com o bund alemão. “As agências de classificação seguiram o exemplo e melhoraram a sua classificação/perspectiva de forma mais positiva para esses países, reduzindo o prêmio de risco que os investidores exigem para possuir a dívida. Esperamos que a tendência continue nos próximos meses, enquanto o prêmio de risco deve continuar mais elevado para a França”, esclarece.
Sobre o que acontece com a França, Mauro Valle, diretor de renda fixa da Generali AM, parte da Generali Investments, aponta que os diferenciais franceses estão em torno do nível de 70-80 pontos base, aguardando a consolidação fiscal e a aprovação da lei fiscal. Manter o déficit fiscal abaixo de 5% parece uma tarefa bastante difícil para o primeiro-ministro Michel Barnier. “O risco de que a França seja rebaixada e perca sua classificação AA não é marginal. Fitch e Moody’s colocaram o país em perspectiva negativa nas últimas semanas, e estará no foco dos investidores no futuro próximo”, lembra Valle.
Visão por países
Segundo sua visão, agora estamos em um mundo diferente no que se refere às classificações dos governos. “França e Espanha estão cotando muito próximas, e ambas provavelmente deveriam ser classificadas como semi-periféricas, com a Espanha se separando do mundo periférico e a França se aproximando dele. Gostamos dos Bonos do Tesouro espanhol: continuam oferecendo um bom rendimento, considerando as perspectivas de classificação e o forte crescimento econômico, e sem o Procedimento de Déficit Excessivo para gerenciar”, afirma o especialista da Generali AM.
Nesse sentido, Tisserand acrescenta: “As eleições parlamentares francesas de junho passado resultaram em um parlamento fragmentado, com pouco apetite por compromissos por parte dos partidos políticos. O governo do primeiro-ministro Barnier anunciou um plano de redução do déficit de 60 bilhões de euros, que ainda está pendente de aprovação. Esperamos que os debates sobre o orçamento de 2025 continuem tensos e acabem resultando em uma aprovação forçada nos termos do artigo 49.3 da Constituição. Não serão debatidas nem aprovadas reformas estruturais com um parlamento assim no médio prazo, o que enfraquecerá de forma duradoura a credibilidade fiscal do país. O diferencial com o bund alemão a 10 anos deverá continuar mais elevado do que no passado (entre 55 e 80 pb), mas não esperamos um agravamento mais acentuado, a menos que o governo caia, o que por enquanto é pouco provável.”
Por fim, Valle observa que, apesar da consolidação observada nas últimas semanas, a Grécia, com seu diferencial abaixo de 90 pontos base em relação à Alemanha, ainda representa uma boa oportunidade. “Esperamos que os diferenciais continuem a se consolidar e a classificação possa voltar a ser de triplo B em um futuro próximo”, conclui.”