A investidora norte-americana Aileen Lee cunhou o termo “unicórnio” para se referir às startups que conseguem alcançar uma capitalização de um bilhão de dólares antes de completar dez anos de vida e sem chegar a abrir capital. Inicialmente, o nome era irônico, referindo-se a empresas que eram tão abundantes quanto unicórnios na vida real, mas nos últimos anos, testemunhamos um grande crescimento de empresas que se encaixam nessa descrição, embora tenham sido mais comuns nos EUA do que na Europa. “Na Europa, nascem muitos ‘unicórnios’, mas acabam fazendo suas IPOs nos EUA porque a maioria dessas empresas recebe apoio financeiro de investidores norte-americanos”, esclarece Andrea Rossi, CEO do grupo M&G.
A M&G apoia empresas de crescimento em segmentos como biotecnologia e tecnologias relacionadas às mudanças climáticas por meio de veículos de private equity, como sua estratégia Catalyst. A postura geral da empresa é que é imprescindível apoiar a inovação com financiamento suficiente para que as empresas permaneçam na Europa.
Para Joseph Pinto, CEO da M&G Investments, uma proposta chave para incentivar esse crescimento de empresas que atinjam grande porte e garantir sua presença no Velho Continente seria tornar realmente efetiva a união de capitais: “É um assunto muito presente em nossa agenda. Seria a resposta à concorrência com os EUA e permitiria um maior desenvolvimento de grandes empresas”, explicou Pinto, que acrescentou que o papel que a M&G deseja desempenhar nesse campo passa por “influenciar para que as autoridades europeias tomem consciência da importância disso”, especialmente porque muitos investidores internacionais ainda relutam em investir na Europa. “De uma perspectiva de talento, a Europa não é um segundo prato dos EUA, o problema é que estamos muito fragmentados e não há tantos fundos europeus dispostos a financiar ‘unicórnios’”, corroborou Rossi.
Rossi e Pinto compartilharam recentemente com jornalistas, em um encontro realizado pela M&G Investments em Londres, seus pontos de vista sobre para onde deve evoluir a gestora, que já conta com um patrimônio de 400 bilhões de dólares em ativos sob gestão (dados de dezembro de 2023). Lá, disseram que o crescimento no segmento de ativos privados é uma das principais metas de crescimento que a M&G estabeleceu em seu plano de negócios para os próximos anos.
Potencial na Europa, crescimento na Ásia
Dentro dos ativos privados, ambos os CEOs também destacaram as oportunidades de investimento em dívida privada. Explicaram que o volume de dívida privada nos EUA é o dobro do europeu, onde os bancos ainda desempenham um papel predominante como financiadores, por isso consideram que há potencial para expandir esse segmento na zona do euro. “Precisamos de um tamanho de mercado crível para apoiar mais investimentos em infraestruturas e desenvolvimento de pequenas e médias empresas, onde a maior parte do financiamento ainda vem dos bancos locais”, afirmou Andrea Rossi.
Tanto Rossi quanto Pinto afirmaram que a regulamentação também deveria desempenhar um papel crucial, por exemplo, ao relaxar os requisitos de investimento das seguradoras em ativos privados. Nesse sentido, destacaram algumas novidades regulatórias recentes como positivas, como a flexibilização do investimento mínimo inicial requerido para investir em ELTIFs: “Precisamos que o investidor de varejo tenha mais acesso a todas as classes de ativos, incluindo os privados”, insistiu Rossi.
Pinto, por sua vez, afirmou que a democratização do mercado de ativos privados é uma das grandes tendências de investimento em que a M&G Investments deseja participar, e detalhou que parte da estratégia da empresa a esse respeito passou por aproveitar sinergias com sua matriz, a Prudential, para transformar alguns produtos da seguradora e aproximá-los dos investidores de varejo, dando-lhes formato de ELTIF em alguns casos.
Pinto acrescentou que a empresa tem trabalhado há algum tempo no desenvolvimento de um produto no formato UCITS similar ao Pru Fund, de distribuição no Reino Unido e um dos produtos emblemáticos da casa nesse mercado, mas que ainda estão muito focados na busca de distribuidores e na adaptação do produto às necessidades dos investidores europeus mais conservadores. O CEO da M&G Investments adiantou que os investidores podem esperar mais propostas da empresa no campo da gestão ativa, afirmando categoricamente que a gestora “não tem nenhuma intenção de entrar na gestão passiva” e que a estratégia da empresa se concentrará mais em “inovar dentro da gestão ativa”.
O CEO da M&G Investments explicou que ações como essa visam cumprir dois dos objetivos que estabeleceu para impulsionar o crescimento da divisão de gestão de ativos da M&G: maior inovação na oferta de produtos e crescimento dos negócios por meio da ampliação da base de clientes. O terceiro objetivo, detalhou Pinto, passa pela proatividade da empresa em fazer mais negócios na região da Ásia.