Philippe Setbon está há três meses no comando da Natixis IM e já tem uma visão clara sobre o momento pelo qual a indústria está passando: “Estou convencido de que o que vivemos na última década foi um ambiente de mercado anormal. Viver com taxas de juros a zero e quase sem volatilidade não era normal e tampouco um contexto favorável para os investidores, para a alocação de capital e para a economia em geral. Este período parece ter terminado e agora sim estamos voltando à normalidade. Isso significa taxas de juros mais altas por mais tempo, maior volatilidade, dispersão e diferenças entre as avaliações”.
Setbon, que foi nomeado CEO da gestora em dezembro em substituição a Tim Ryan, que anunciou sua decisão de continuar sua carreira profissional fora do grupo, possui uma vasta experiência na indústria. Até o momento de sua nomeação na Natixis IM, ele era CEO da Ostrum AM (empresa afiliada da Natixis IM) e também ocupa desde junho de 2022 o cargo de presidente do Conselho de Administração da AEFG, organização que reúne o setor de gestão de ativos na França.
Essa experiência lhe permite lançar uma segunda mensagem fundamental: “Diante deste novo ambiente, acredito que a gestão ativa é a melhor maneira, não a única, mas sim a melhor, para gerenciar ativos durante a próxima década. A gestão ativa de carteiras voltou e os gestores ativos serão a melhor resposta para este novo ambiente”. Em sua opinião, a gestão ativa será absolutamente crucial após uma década de taxas de juros a zero e insiste: “quando falo de gestão ativa, falo de ser verdadeiramente ativo, de abrir as carteiras e gerenciá-las com convicção e seleção real”.
Nesse sentido, ele usa como exemplo os ativos alternativos, sobre os quais reconhece que há “um crescente apetite”, tanto pelo ativo como pela gestão ativa sobre eles. “Os ativos privados são, digamos, a ilustração de uma gestão de carteira ativa e de alta convicção. É nisso que se baseia a gestão ativa, na alta convicção. O que isso significa? A gestão ativa de carteiras voltou e temos o potencial de pensar que os gestores da Natixis IM estão entre os melhores, para oferecer qualidade no serviço e nos rendimentos, neste novo ambiente. Assim, sim, a gestão ativa das carteiras voltou e os gestores ativos são a melhor opção neste contexto”, ele insiste.
Para fundamentar sua afirmação, Setbon foca no modelo multigestor da companhia. Ele destaca que a Natixis IM, com 1,2 trilhões de dólares em ativos sob gestão, conta com mais de 350 analistas e mais de 800 gestores de carteira. Em sua opinião, a vantagem desse modelo é que oferece uma “infraestrutura comum”, mas permite que “todos os times de investimento desenvolvam sua própria filosofia e processo de investimento”, o que, segundo suas palavras, os tornam “únicos”.
“Nossa proposta de valor se baseia em três pilares: agilidade, escalabilidade e alinhamento de interesses com o investidor. Começo pelo último ponto, o alinhamento de interesses. Acredito que o modelo multigestor é o que melhor permite alinhar o interesse do cliente com o da equipe de investimento e com o do acionista. Isso está integrado em nosso modelo. Quanto à agilidade, estamos abertos a adaptar nosso processo às necessidades e tendências emergentes de nossos clientes, por isso sempre enriquecemos nossa oferta”, explica.
Para Setbon, os melhores exemplos desses três atributos da companhia são encontrados em algumas das últimas operações corporativas em que a firma esteve envolvida, entre elas, ele destaca a compra da SunFunder pela Mirova em 2022 e a aquisição do Loomis Euro Credit Team em 2021. “São dois casos de agilidade e de escalabilidade, o que é totalmente fundamental. Todos sabemos que precisamos alcançar a escala crítica na medida do possível para sermos competitivos e para otimizar a operacionalidade de nossa empresa e a escalabilidade de nosso modelo”, acrescenta.
Estes dois exemplos citados por Setbon em seu primeiro encontro com a imprensa europeia levantam a questão sobre se está nos planos da Natixis IM comprar novas empresas ou equipes de gestão para reforçar seu posicionamento. A isso, o CEO da empresa deixa a porta aberta: “Acho que sempre temos que buscar formas de fazer evoluir nossa oferta para continuar satisfazendo as necessidades de nossos clientes, já que o relevante é esse ponto, as necessidades do cliente. Temos duas formas de fazer isso, pode ser por crescimento orgânico, que é o que fazemos diariamente, mas também pode ser através de operações de aquisição, como o exemplo que mencionei antes, mas por que não?”
Apesar de Setbon não aprofundar mais sobre a possibilidade de anunciar novas aquisições, ele enfatiza sua presença mundial. “Acredito que somos únicos porque somos globais e diversificados. De fato, somos a casa de gestão de ativos mais americana da Europa e estamos orgulhosos disso. Em segundo lugar, temos empresas de investimento em todas as partes do mundo. Nos EUA, na Europa e em Singapura. Temos mais de 50 escritórios com equipe de vendas, com o time, digamos, aplicado aos nossos clientes a nível local, em todo o mundo, nos EUA, na América do Sul, na Europa, no Oriente Médio, na Ásia e no Pacífico. Assim, somos globais e estamos diversificados graças à nossa ampla gama de estratégias e soluções de investimento”, conclui.