Os fundos soberanos cresceram 14% e superaram os 13 trilhões de dólares em ativos sob gestão em 2023, segundo o Relatório de Fundos Soberanos desenvolvido pela IE University em colaboração com o ICEX-Invest na Espanha. Este estudo confirma a força dos fundos soberanos, que alcançaram 13,2 trilhões de dólares em ativos geridos em 2023, em comparação com 11,6 trilhões de dólares em 2022.
Segundo os autores, o relatório comprova a resiliência das estratégias de investimento de longo prazo em um contexto de instabilidade geopolítica e fragmentação global. “Em um ambiente mundial marcado pelas tensões entre os Estados Unidos e a China, juntamente com o avanço do protecionismo, os fundos soberanos adotaram abordagens de investimento prudentes e regionalizadas, concentrando-se em setores estratégicos industriais, infraestrutura digital e energia, principalmente as renováveis. Por sua vez, os fundos soberanos do Oriente Médio se orientam para mercados como a Índia, ao mesmo tempo em que reforçam a inovação e as infraestruturas em seus próprios países”, indicam.
Na opinião de Javier Capapé, diretor do Sovereign Wealth Research do Center for the Governance of Change (CGC) da IE University, “os fundos mostram uma força extraordinária, aumentando em número e ativos sob gestão em um contexto de menor investimento internacional e se preparando para o futuro ao tomar posições em setores industriais, energia e infraestrutura digital”.
Um dos atores mais destacados nesse cenário é o Government Pension Fund Global da Noruega, que continua sendo o fundo soberano mais grande, aproximando-se da simbólica marca de dois trilhões. Por sua vez, a China Investment Corporation (CIC) e a State Administration of Foreign Exchange (SAFE) permanecem em segundo e terceiro lugares pelo segundo ano consecutivo: a CIC possui 1,3 trilhões de dólares e a SAFE 1,1 trilhões. Os 4º, 5º e 6º lugares são ocupados atualmente pelos fundos do Oriente Médio, a Abu Dhabi Investment Authority (estimada em 993 bilhões de USD), o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIF), com 978 bilhões de USD, e a Kuwait Investment Authority (KIA), com uma estimativa atualizada de 969 bilhões de USD em ativos sob gestão.
Segundo explica o relatório, esse crescimento foi acompanhado por um aumento no número de operações, bem como em sua envergadura. O estudo mostra um crescimento substancial da atividade dos fundos soberanos, com 473 investimentos, quase 50 operações a mais do que no Relatório de 2023, e um crescimento notável do valor total das operações, que alcançou 211 bilhões de dólares, quase o dobro do valor do relatório anterior.
Em relação ao destino do investimento, os autores do relatório detectaram uma mudança no foco de atenção da tecnologia para as finanças, que lideram o número de operações. Conforme mostra o relatório, setores como saúde, energia e indústria também estão ganhando protagonismo. Os principais fundos soberanos também lideram projetos de infraestrutura em grande escala em setores como energias renováveis, transporte urbano e infraestruturas digitais, alinhados com as tendências globais de descarbonização e transformação digital. “Em um ambiente marcado pelos elevados juros, essas entidades aproveitaram sua capacidade de investimento em capital para identificar e materializar oportunidades estratégicas com uma eficiência operacional surpreendente”, destacam.
Para onde está indo o investimento?
As conclusões do relatório mostram que os fluxos de investimento soberano estão cada vez mais se direcionando para o Sul Global, especialmente para a Índia, que se beneficia de um forte crescimento econômico e de políticas voltadas para a transição ecológica. Embora os Estados Unidos ainda sejam um dos principais destinos, seu peso relativo nos fluxos globais diminuiu, o que evidencia a crescente influência dos mercados emergentes.
O relatório deste ano destaca o estudo de caso da nova Autoridade de Investimentos da Indonésia (INA), criada em 2021, cujo capital foi aportado de forma inovadora e não atua como um fundo soberano de poupança tradicional. Em vez disso, emprega estratégias de co-investimento para atrair capital estrangeiro para setores chave como infraestrutura, energia verde e logística, a fim de enfrentar os desafios do século XXI do quarto país mais populoso do mundo. Seu enfoque na redução do risco de investimento contribui significativamente para os objetivos estratégicos da Indonésia, como segurança energética e diversificação econômica, prioridades fundamentais no contexto geopolítico atual.
Outra tendência observada no relatório é o claro compromisso de longo prazo dos fundos soberanos, com uma forte aposta em startups de inteligência artificial e em projetos voltados para a produção sustentável de alimentos. E dentro do campo da sustentabilidade, e em resposta à escassez mundial de água, fundos como o PIF da Arábia Saudita e o QIA do Catar estão impulsionando iniciativas de resiliência hídrica tanto a nível nacional quanto internacional.
Nesta mesma linha, o Center for the Governance of Change da IE lançou a Sovereign Impact Initiative (SII), que busca transformar a cultura de investimento dos fundos soberanos. Sua missão inclui fomentar investimentos de impacto, fortalecer o desenvolvimento de capacidades e promover a pesquisa. Por fim, as parcerias entre fundos soberanos estão se consolidando como um fator crucial para alcançar objetivos comuns em questões climáticas e de sustentabilidade, identificar novos acordos de co-investimento e compartilhar conhecimentos-chave.