Em dois dias repletos de palestras e conversas sobre oportunidades na região andina, a Credicorp Capital voltou a demonstrar sua capacidade de captar a situação regional e mundial do ponto de vista dos investimentos. Política monetária, IA, mineração, economia dos EUA, gestão das emoções, reuniões individuais… a décima primeira edição do Investor Conference de Lima também trouxe um anúncio: pela primeira vez, em 2025, o evento acontecerá em Santiago, no Chile.
O evento foi realizado nos salões do hotel Swissôtel, no bairro San Isidro de Lima, reunindo os principais executivos da firma e representantes de empresas emissoras de instrumentos de oferta pública. A conferência também contou com workshops especializados em diferentes classes de ativos, focados em gestão de ativos e no mercado de capitais, além de reuniões individuais com dezenas de empresas do Chile, Colômbia, Panamá e Peru. Além disso, foi anunciado que o próxima Investor Conference será realizada fora do Peru pela primeira vez em sua história de uma década, transferindo-se para a capital chilena, Santiago.
Após as palavras de abertura, feitas pelo CEO da empresa matriz peruana, Eduardo Montero, o palco foi ocupado por uma série de palestrantes durante os dois dias seguintes, incluindo o presidente do Banco Central de Reserva do Peru (BCRP), Julio Velarde; altos executivos de três mineradoras que operam no Peru, Southern Copper, Buenaventura e Nexa; e o doutor em biologia molecular, Estanislao Bachrach.
O auge da IA
Considerando que os avanços tecnológicos em inteligência artificial estão animando os investidores este ano, com a promessa de uma revolução produtiva comparada por alguns à Revolução Industrial, não foi surpresa que o evento da Credicorp tivesse mais de um segmento dedicado ao tema. O painel principal contou com a participação de James Chen, gestor de portfólio da Global AI Strategies da Allianz Global Investors, e Mario Rodríguez, Country Manager da Microsoft no Peru, que delinearam algumas das aplicações dessa tecnologia, como a gestão de dados, o processo de conhecer os clientes, a redução de custos e a otimização de processos.
“É uma realidade. Já não é o futuro”, advertiu Rodríguez, convidando os presentes a “não terem medo da mudança”. Isso inclui a presença da inteligência artificial nas esferas mais íntimas, com o executivo prevendo que as pessoas terão acesso a um assistente pessoal permanente.
Por sua vez, Chen garantiu que estamos no “início de um momento” relevante e que “essa evolução vai transformar o mundo”. “Essas ferramentas estão apenas começando a melhorar diferentes empresas”, acrescentou, indicando que existem variáveis em todos os setores econômicos nas quais a inteligência artificial pode contribuir, tornando importante identificar os vencedores e perdedores dessa tendência.
Peru, segundo Velarde
O presidente do Banco Central de Reserva do Peru, Julio Velarde, foi o convidado especial no primeiro dia do Investor Conference da Credicorp Capital. Sua gestão à frente da política monetária peruana nos últimos 18 anos o transformou em uma espécie de rockstar no mercado peruano, e seus resultados foram refletidos em sua apresentação no seminário.
“Temos uma política monetária que conseguiu conter a inflação sem recessão”, destacou Velarde, acrescentando que há uma tendência de queda no déficit fiscal, o país tem a dívida pública mais baixa da América Latina e que são visíveis recuperações importantes em diferentes setores da economia. “A mudança é notável. Todos os indicadores apontam para uma melhora”, afirmou a autoridade monetária.
O economista também mencionou alguns marcos legislativos recentes. Velarde celebrou a rejeição da tentativa de reforma judicial — “teria sido um desastre”, afirmou — e destacou a aprovação da reforma no sistema de pensões. “Se conseguir frear os saques, essa é a melhor lei”, indicou.
Perspectivas para a mineração
A mineração, uma das indústrias mais relevantes da economia andina, também teve seu momento de destaque na conferência da Credicorp Capital, com um painel especializado. Nele, Raúl Jacob, CFO da Southern Copper; Daniel Domínguez, CFO da Buenaventura; e José Carlos del Valle, CFO da Nexa, compartilharam suas perspectivas sobre os mercados de metais preciosos e industriais, detalhando as principais variáveis.
Domínguez descreveu os fatores do bom momento do ouro, destacando que “o tema sociopolítico é um risco”, o que levou os bancos centrais internacionais a comprar o metal dourado. Embora a demanda do banco central chinês tenha diminuído, o executivo afirmou que isso foi compensado por uma maior demanda de investidores institucionais e de varejo. A prata, por sua vez, pode continuar a aumentar de preço, já que também tem uso industrial, relacionado aos painéis solares.
Sobre o mercado de cobre, Jacob indicou que a recente queda no preço do metal está associada ao aumento dos estoques, especialmente na China. No entanto, as perspectivas futuras parecem favoráveis. O executivo da Southern Copper destacou que, enquanto há um ano se projetava um superávit para 2024, agora se projeta um déficit de cerca de 100.000 toneladas. Embora seja um “déficit pequeno”, disse o executivo, é um sinal positivo para o commodity.
Por fim, Del Valle, da Nexa, referiu-se aos mercados de zinco — que tem os mesmos impulsionadores que o cobre — e de chumbo. Com 2024 impactando a rentabilidade das refinarias, o que levou a indústria a focar em manter suas operações, espera-se um cenário com custos elevados, baixa disponibilidade de reservas e oferta limitada, acompanhados de um aumento na demanda. “Somos bastante positivos em relação aos fundamentos”, comentou.
A visão macroeconômica
Daniel Velandia, diretor executivo de Pesquisa e economista-chefe da Credicorp Capital, delineou o panorama econômico e político da América Latina — declarando-se desde o início como “um otimista” — e sua visão internacional. Para o economista, estamos atualmente em um “ponto de inflexão na economia global”, com maior volatilidade e “ansiedade nos mercados”.
No entanto, o profissional destacou que finalmente chegou o esperado corte nas taxas de juros pelo Federal Reserve dos EUA. Além disso, observou que o mercado vem “há dois anos prevendo uma recessão que ainda não chegou”, o que sugere que, embora não se descarte que possa ocorrer no futuro, poderia tratar-se de uma recessão técnica.
No cenário regional, as economias do Chile, Peru e Colômbia estão passando por uma recessão técnica, com certas melhorias em questões como a incerteza política — mais acentuada no Chile e no Peru, destacou Velandia — e alguns desafios persistentes, como o investimento. A longo prazo, o economista prevê que o “pêndulo político” pode voltar a favorecer o mercado, coincidindo em 2026: os três países com novos presidentes e a integração de suas bolsas de valores já em andamento.
Recomendações em RV e RF
Após Daniel Velandia, economista-chefe da empresa, atualizar sua visão econômica no segundo dia do evento, as líderes das áreas de estudos de ações e títulos de renda fixa apresentaram os pontos principais do *Andean Investor Guide* para 2025.
Stefanía Mosquera, líder regional de *Equity Research* da Credicorp Capital, destacou os efeitos dos ciclos de recuperação das economias andinas nos diversos setores das bolsas de valores e apontou as empresas favoritas da firma em cada setor. Os principais destaques da empresa são: as chilenas **Cencosud**, **Empresas Copec** e **Latam Airlines**; as colombianas **PF Bancolombia** e **GEB**; e as peruanas **Inretail**, **Ferreycorp** e **Buenaventura**.
Por outro lado, Josefina Valdivia, chefe de *Fixed Income Research*, comentou as perspectivas para a renda fixa andina, enfatizando que o maior otimismo em relação ao crescimento reduziu os prêmios de risco. Mesmo com uma queda nas taxas de rendimento (*yields*), que ainda estão acima dos níveis da última década, e com um mercado mais dinâmico de emissões, recomenda-se focar em empresas que não planejem investimentos de capital (*capex*) significativos, a fim de “manter a disciplina financeira”.
Mercados Emergentes e América Latina
Em um painel dedicado aos mercados emergentes, Gino Bettocchi, diretor de investimentos da Credicorp Capital Asset Management, mencionou um cenário de leve desaceleração, onde as previsões para a América Latina superam as de outros mercados emergentes. Ele destacou a importância de monitorar o comportamento dos consumidores nos EUA, as políticas do Federal Reserve, a economia chinesa e as eleições americanas, prevendo um “pouso suave” para a economia dos EUA.
Axel Christensen, diretor de investimentos para a América Latina da BlackRock, alertou sobre a importância de acompanhar a dívida pública, especialmente nos EUA, já que pode impactar as taxas de longo prazo. Ele destacou que as oportunidades de crescimento estão nas “megaforças” identificadas pela BlackRock: fragmentação geopolítica, redesenho das cadeias produtivas, transição energética, mudanças demográficas, inteligência artificial e o futuro das finanças. Segundo ele, esses fatores beneficiam os mercados emergentes, com destaque para a Índia, que superou a China como o maior mercado emergente de crescimento, e o México, impulsionado pelo *nearshoring*.
A *Credicorp Capital Asset Management* compartilhou otimismo em relação à região. Santiago Arias, diretor de renda variável da gestora, destacou que o *friend-shoring*, a transição energética e a digitalização favorecem a América Latina, além do fato de que a região já avançou na normalização da política monetária, permitindo que os países continuem reduzindo as taxas de juros.
Gerenciando as emoções
Após uma manhã de números e projeções, a apresentação de Estanislao Bachrach, PhD em Biologia Molecular, trouxe um novo fôlego à conferência. Especialista em criatividade, inovação, liderança e mudança, ele explicou como as emoções impactam as atitudes e decisões das pessoas em diversos contextos, inclusive no trabalho. Bachrach enfatizou que mais de 90% das decisões são emocionais, e que a chave para melhorar a tomada de decisões é regular as emoções, substituindo pensamentos negativos por “pensamentos precisos” através da visualização.
Workshops e reuniões individuais
Além das palestras, o evento da Credicorp Capital contou com duas séries de workshops paralelos, dedicados a temas de gestão de ativos e mercado de capitais.
No lado da gestão de ativos, houve um espaço dedicado ao mercado de faturas, com a participação de Ricardo Gallo, presidente da APEFAC; Guadalupe Melendez, líder de Factoring do BCP; e Alfredo Harz, sócio-diretor da Sartor. Além disso, um segmento dedicado à transição energética e o “distante” 2045 contou com as visões de Christian Rouquerol, MD da Tikehau Capital; Pierre Abadie, MD e CCO da Tikehau Capital; e Rosmary Lozano, VP de Investimentos Sustentáveis da Credicorp Capital. Finalmente, um painel dedicado aos investimentos imobiliários reuniu Alejandro Camino, gerente geral da Parque Arauco Peru; Claudio Chamorro, CEO da Megacentro; e Ana Cecilia Galvez, da Associação de Empresas Imobiliárias do Peru.
No lado do mercado de capitais, o primeiro painel foi sobre recomendações de investimento, com Velandia, Mosquera e Valdivia, da equipe de Pesquisa. Em seguida, um espaço dedicado à integração das bolsas de valores do Chile, Peru e Colômbia foi protagonizado por Miguel Angel Zapatero, gerente corporativo de Clientes e Negócios na Nuam exchange, a matriz das três praças bursáteis. Finalmente, Diego Mora, Country Manager para Colômbia, Peru e AC da BlackRock, apresentou sua perspectiva sobre a evolução e tendências do mercado de ETFs.
Durante os dois dias da conferência, uma das peças centrais foram as reuniões individuais com representantes corporativos, focadas em empresas e institucionais. Isso incluiu grandes nomes de diversos setores, como bancos, varejo, celulose, mineração e energia, entre outros. No total, de acordo com o portal do evento, 60 empresas participaram desta iniciativa. Dessas, 26 são do Chile, 19 do Peru, 13 da Colômbia e as duas restantes do Panamá.