Nem tudo está perdido. Em um momento marcado por tensões geopolíticas e preocupações com um aumento generalizado das tarifas, o comércio mundial continuará crescendo, segundo o mais recente relatório DHL Trade Atlas 2025.
De acordo com o documento, que analisa 200 países e territórios, o crescimento do comércio global demonstrou ser surpreendentemente resiliente diante das recentes perturbações, e é provável que esse padrão se mantenha, mesmo com a política tarifária dos EUA.
Um crescimento comercial mais rápido do que na década anterior
Segundo as últimas previsões, o comércio de bens crescerá a uma taxa composta anual de 3,1% entre 2024 e 2029. Esses números acompanham aproximadamente o crescimento do PIB e representam um crescimento comercial ligeiramente mais rápido do que na década anterior. Mesmo que o novo governo dos EUA implemente todos os aumentos tarifários propostos e outros países adotem medidas retaliatórias, espera-se que o comércio mundial continue crescendo nos próximos cinco anos — embora em um ritmo bem mais lento, segundo o relatório.
Como explica John Pearson, CEO da DHL Express, o DHL Trade Atlas 2025 apresenta dados muito encorajadores. “Ainda há um potencial de crescimento significativo para o comércio em economias avançadas e emergentes ao redor do mundo. É impressionante ver que o comércio internacional continua resistindo a todos os desafios imagináveis — da crise financeira de 2008 à pandemia de COVID-19, passando pelas tarifas e conflitos geopolíticos. No atual ambiente global de negócios, a DHL pode ajudar seus clientes a reavaliar suas cadeias de suprimento, estabelecendo um equilíbrio entre custo e risco para torná-las eficientes e seguras”, afirma.
Novos líderes em crescimento comercial: Índia, Vietnã, Indonésia e Filipinas
A previsão é que quatro países se destaquem entre os 30 primeiros tanto em velocidade quanto em volume absoluto de crescimento comercial entre 2024 e 2029: Índia, Vietnã, Indonésia e Filipinas. “A Índia também se destaca como o terceiro país com maior previsão de crescimento comercial absoluto (6% adicionais no comércio global), ficando atrás apenas da China (12%) e dos Estados Unidos (10%). Os países com maior crescimento absoluto estão espalhados entre a Ásia, Europa e América do Norte. Ao mesmo tempo, entre os que devem apresentar crescimento comercial mais rápido, também há vários países da África e América Latina”, aponta a DHL.
Considerando o mesmo período de 2024 a 2029, espera-se o crescimento mais rápido do comércio em volume na Ásia Meridional e Central, África Subsaariana e nos países da ASEAN, com taxas anuais compostas entre 5% e 6%. Todas as demais regiões devem crescer entre 2% e 4%.
O comércio internacional da Espanha crescerá 2,4% até 2029
Segundo os dados da análise, a Espanha movimentou, em 2024, US$ 878,58 bilhões em comércio global. Deste total, 46,7% foram exportações (US$ 410,18 bilhões) e 53,3% importações (US$ 468,4 bilhões). Com relação às previsões para o período 2024-2029, espera-se um aumento de 2,4% no comércio global da Espanha.
Os 5 principais produtos exportados pela Espanha em 2024 foram veículos (com a Alemanha como principal destino), máquinas industriais, máquinas e equipamentos elétricos, combustíveis minerais, óleos e ceras (com a França como principal destino nesses três casos), e produtos farmacêuticos (com a Suíça como principal destino).
No lado das importações, a Nigéria foi o principal fornecedor de combustíveis minerais, óleos e ceras em 2024, a Alemanha foi a maior fonte de veículos e máquinas industriais, a China liderou nas máquinas e equipamentos elétricos, e os Estados Unidos foram o principal fornecedor de produtos farmacêuticos.
Apesar do interesse generalizado por nearshoring — ou seja, aproximar a produção dos clientes — o DHL Trade Atlas 2025 mostra que, no geral, não houve maior regionalização no comércio. Os fluxos comerciais reais, na verdade, apontam para a direção oposta. Nos nove primeiros meses de 2024, a distância média percorrida por mercadorias comercializadas atingiu o recorde de 5.000 quilômetros, enquanto a proporção do comércio realizado dentro das grandes regiões caiu para um novo mínimo de 51%.
Motivos para otimismo diante das mudanças na política dos EUA
O DHL Trade Atlas 2025 destaca vários motivos para otimismo em relação ao futuro do comércio mundial, mesmo diante de uma guinada mais restritiva na política comercial dos EUA. A maioria dos países continua vendo o comércio como uma oportunidade econômica essencial, e as barreiras tarifárias americanas podem até fortalecer os laços entre outros países. Além disso, muitas das ameaças tarifárias feitas por Trump podem acabar sendo diferentes do proposto originalmente ou adiadas, para evitar uma alta da inflação interna.
Também é importante lembrar que a participação dos Estados Unidos nas importações mundiais hoje é de 13%, e sua participação nas exportações é de 9% — o suficiente para que as políticas americanas tenham impactos significativos, mas não a ponto de determinar sozinhas os rumos do comércio global.
Nesse sentido, Steven A. Altman, pesquisador acadêmico e diretor da Iniciativa de Globalização da DHL no Centro para o Futuro da Gestão da NYU Stern, é direto: “Embora as ameaças ao sistema de comércio mundial devam ser levadas a sério, o comércio global tem demonstrado grande resiliência devido aos enormes benefícios que oferece às economias e sociedades. Mesmo que os EUA se afastem do comércio — com um custo significativo —, não é provável que outros países sigam o mesmo caminho, porque os países menores sofreriam demais com uma retirada global do comércio.”
Por fim, o DHL Trade Atlas 2025 traz uma atualização sobre as mudanças nos padrões comerciais impulsionadas pela geopolítica. Embora o comércio entre os blocos aliados dos EUA e da China tenha diminuído em 2022 e 2023 em comparação ao comércio dentro desses blocos, as quedas foram pequenas e não continuaram em 2024.
Estados Unidos e China reduziram suas participações no comércio mútuo, mas não o suficiente para caracterizar uma “dissociação” significativa. O comércio direto entre os dois caiu de 3,5% do comércio mundial em 2016 para 2,6% nos nove primeiros meses de 2024. No entanto, os EUA ainda recebem da China uma proporção de importações semelhante à do restante do mundo. Além disso, há indícios de subdeclaração nas importações americanas vindas da China. E quando se consideram os insumos chineses contidos em bens importados por outros países, os dados também não sugerem uma queda significativa da dependência dos EUA de produtos fabricados na China.