O crescimento dos mercados privados tem ocorrido até agora principalmente devido à demanda de investidores institucionais, como fundos soberanos, seguradoras e fundos de pensão, entre outros. No entanto, diversos especialistas da M&G Investments observam a ampliação do número de temas de conversa em torno dos mercados privados, assim como um maior interesse por diversas formas de acesso a esses mercados, como por exemplo através de estratégias de impacto. “Há três grandes mudanças neste mercado que são grandes demais para serem ignoradas: o tamanho do conjunto de oportunidades, o aumento do número de geografias e a própria definição do que são ativos privados, que se ampliou”, explica Ciaran Mulligan, CIO de Gestão de Investimentos e Supervisão e codiretor do escritório de Tesouraria e Investimento da M&G Life.
Oportunidades por Segmentos
A crise financeira global representou um ponto de inflexão para os mercados privados do ponto de vista da originação de crédito, transferindo grande parte do protagonismo que os bancos detinham para outros players mais ágeis no mercado. Emmanuel Deblanc, CIO de Mercados Privados da M&G Investments, afirma que, para operar em mercados privados, “é importante o tamanho e ter um bom nome, porque isso inspira confiança nos bancos e tem um efeito multiplicador, fazendo com que os bancos se sintam confortáveis com a subscrição dos ativos”.
O especialista também observa que o ecossistema de investimento evoluiu, dando como exemplo que agora muitos fundos de infraestrutura têm sua própria equipe de financiamento, permitindo captar fluxos além dos bancos. Ele também nota que o papel dos bancos evoluiu e agora eles atuam mais como facilitadores do que no passado, assessorando nas transações sem necessariamente assumir posições em seus balanços.
Deblanc acrescenta que a emergência de grandes temáticas estruturais de investimento também está impactando este universo, citando especificamente a transição climática: “Trazerá um crescimento chave para esta classe de ativos, permitindo o acesso a investimentos temáticos em energia e infraestrutura social”. “Os investimentos em transição energética abrem uma grande carga de investimento por risco e volume; estamos observando um crescimento muito mais rápido do que o esperado há cinco anos, acelerado pelos eventos geopolíticos dos últimos anos”, acrescenta o especialista.
Quanto ao crédito privado, Deblanc afirma que o universo de investimento se expandiu e amadureceu significativamente, embora ainda seja um mercado “ineficiente, muito complexo e no qual é necessário compreender o contexto local”. Ciaran Mulligan acrescenta a essas observações o incremento das capacidades na Europa e, em menor medida, em mercados emergentes, onde investidores profissionais como a M&G estão começando a considerar as possibilidades deste universo via empréstimos alavancados, direct lending e dívida corporativa. O especialista esclarece que o horizonte de investimento é crucial para investir nessa classe de ativos, com uma duração recomendada de 15 a 25 anos. Com isso em mente, as operações “considerarão que os níveis de endividamento aumentarão no futuro”. No caso específico da M&G, a estratégia de investimento em crédito privado se concentra em empresas com receitas entre 40 e 100 milhões de euros, por considerar que é um segmento com menos atividade.
O crédito estruturado é o último segmento citado por Deblanc, particularmente no segmento de ABS. O especialista lembra que este é um mercado em que “há menos players, porque é um ativo complexo em um mercado fechado”, mas em contrapartida, oferece a possibilidade de um diferencial com pontos adicionais de rentabilidade. O especialista observa que os requisitos de capital aumentaram, uma tendência acelerada pela queda do Silicon Valley Bank, que abre novas oportunidades para os investidores em “um segmento muito sofisticado do mercado”.
A M&G Investments gere 84 bilhões de euros em ativos privados, dos quais o segmento com maior patrimônio é o imobiliário, com mais de 39 bilhões de euros.
Uma Fase de Transição
Deblanc não vê risco sistêmico nos mercados privados, e considera que o ambiente atual, no qual o PIB global se moverá entre 2% e 3% e onde não há excesso de demanda, é benigno para este universo de investimento. Dito isso, ele afirma que o mercado está passando por uma fase de transição, pois a grande diferença que costumava existir entre compradores e vendedores está se estreitando. É uma tendência que ele acredita que se acelerará a partir do quarto trimestre de 2024, resultando em um aumento da dispersão entre gestores: “Os bons gestores se tornarão mais visíveis”, conclui.
Neal Brooks, diretor global de Produto e Distribuição da M&G Investments, admite que o crescimento do mercado de ativos privados desacelerou nos últimos meses devido ao ambiente de ‘higher for longer’, mas prevê que a demanda se manterá a ponto de esperar que o universo total de investimento atinja 13 trilhões de dólares até 2028, principalmente em três áreas: infraestrutura, private equity e private debt. Brooks fala de um apetite crescente por parte dos clientes, mas também de governos e reguladores, o que ele acredita que permitirá a abertura dos mercados, permitindo o acesso a um maior número de empresas. Este crescimento ocorrerá, na opinião do especialista, em detrimento de outros veículos tradicionalmente utilizados para ganhar exposição a esses mercados, como os hedge funds.
Finalmente, Brooks destacou a importância do momento atual em termos de desenvolvimento de estratégias de produto que sejam acessíveis a uma ampla gama de investidores, dado que, atualmente, 80% das empresas que têm mais de 100 bilhões de receitas não estão listadas em um mercado público. Ele também observou a crescente tendência de empresas listadas serem retiradas da bolsa para voltar a ser privadas. A M&G está avançando no desenvolvimento de novas estruturas que buscam facilitar esse acesso, por exemplo, através do lançamento de ELTIFs. “A educação financeira é muito importante, os próprios clientes estão cientes de que precisam dela para ajudá-los a alocar corretamente seu capital”, conclui Brooks.