Apesar da sofisticação que atravessa o mercado imobiliário de Miami, com o preço das propriedades longe do poder de compra de uma pessoa média, a cidade continua atuando como um ímã para os latino-americanos, especialmente argentinos e colombianos, que aparecem nos primeiros lugares do ranking de compradores internacionais de imóveis.
A Argentina aparece no primeiro lugar, com 18% de participação de mercado, seguida pela Colômbia, com 14%, no topo dos principais compradores globais da Miami Realtors referente ao mês de fevereiro passado, que detalha o comportamento do investimento estrangeiro em imóveis durante o período de agosto de 2023 a julho de 2024.
Os primeiros lugares do ranking se completam com o Canadá, que ocupa a terceira posição, mas com uma participação de mercado bem menor, representando 8% do investimento internacional na compra de imóveis em Miami. Em seguida vêm Brasil (6%), México (6%) e Venezuela (5%). A Flórida volta a ser o destino número 1 dos compradores estrangeiros nos Estados Unidos pelo 16º ano consecutivo.
“Argentina e Colômbia sempre foram mercados fortes no sul da Flórida”, explicou Peggy Olin, CEO da OneWorld Properties, especializada no segmento de luxo do setor.
Diante das mudanças políticas e econômicas nessas regiões da América Latina, “os compradores sentiram a necessidade de investir em um mercado com uma moeda estável, onde também possam se beneficiar de um investimento futuro. Miami tem um grande potencial de crescimento econômico, o que ficou evidente nos últimos 10 anos, transformando a cidade em um local altamente demandado por empresas renomadas que transferiram suas sedes, posicionando-se como o novo Wall Street do sul”, acrescentou.
Masoud Shojaee, CEO da Shoma Group, uma incorporadora imobiliária do sul da Flórida com mais de 30 anos de história, compartilhou uma visão semelhante: “A instabilidade política e econômica na Argentina e na Colômbia está impulsionando indivíduos de alto poder aquisitivo a investir em imóveis em Miami como um refúgio seguro, já que a cidade lhes oferece uma economia estável, um mercado baseado no dólar, uma forte valorização dos imóveis e um estilo de vida que é familiar para os compradores latino-americanos.”
Desde a Redfin Corporation, Demián Pack apontou que os argentinos investiram, entre agosto de 2023 e julho de 2024, quase 400 milhões de dólares em imóveis em Miami, em parte porque a cidade é a mais próxima dos Estados Unidos para eles. Além disso, sem optar por imóveis de luxo, com cerca de 300.000 dólares é possível comprar um apartamento, concretizando algo “aspiracional e, ao mesmo tempo, resguardando seu capital no exterior, com possibilidades de valorização e segurança, principalmente em momentos de instabilidade em seus países.”
Projeções
Os especialistas consultados pela Funds Society esperam que essa tendência se acelere daqui para frente. “Esperamos um crescimento constante na demanda de compradores argentinos e colombianos, particularmente nos segmentos de pré-venda e luxo”, afirmou Shojaee, acrescentando que um dos projetos de sua empresa, a Shoma Group, recebeu uma “notável participação desses compradores”. Trata-se do Shoma Bay, um edifício de 24 andares à beira-mar e com uma localização estratégica.
Peggy Olin concordou que a tendência “permanecerá forte”, devido a fatores como a estabilidade econômica dos Estados Unidos e de Miami, cidade vista como um “local seguro para os compradores da região, que buscam um investimento de longo prazo. Essa situação continuará mesmo com a flutuação da moeda em seus países.”
“Ainda há grande interesse pelos imóveis em Miami, apesar do aumento dos preços e das altas taxas de juros que impactam o crédito imobiliário”, observou também Demián Pack. Quase 70% das compras de imóveis feitas por argentinos em Miami são pagas à vista; no caso dos colombianos, o percentual é um pouco menor, cerca de 60%.
Fora da Argentina e da Colômbia, “México e Brasil são dois dos países que continuam entre os principais compradores internacionais em Miami, e essa é uma tendência bem marcada nos últimos meses”, acrescentou a CEO da OneWorld Properties. Desde a Shoma Group, Masoud Shojaee concordou: “O Brasil continua sendo um ator-chave, e os compradores mexicanos também estão ganhando espaço.” Já Demián Pack, da Redfin Corporation, vê a mesma tendência no mercado: “O interesse dos mexicanos pelos imóveis em Miami está crescendo; antes, esse segmento investia principalmente no Texas e na Califórnia.”