No mercado de renda variável, os máximos históricos podem despertar sentimentos contraditórios. Segundo destacam as firmas de investimento, historicamente, os mercados de alta se prolongaram por muito mais tempo do que os mercados de baixa, provocando novos máximos em cada ciclo e oportunidades. Por exemplo, após a apresentação dos resultados dos bancos norte-americanos, os bons resultados refletem o bom momento em que esse setor se encontra no último trimestre antes da queda nas taxas de juros, prevista para setembro pelo Fed e pelo BCE.
No último relatório da Edmond de Rothschild AM, os últimos acontecimentos políticos nos EUA reforçaram a grande rotação que vem ocorrendo desde os dados de inflação de algumas semanas atrás. “Os investidores estão substituindo as empresas de grande capitalização pelas small caps, os valores tecnológicos pelos energéticos e imobiliários e o growth pelo value”, apontam.
“Com o impulso das ações energéticas, o mercado americano continua marcando novos máximos, afastando-se do comportamento lateral da bolsa europeia, que não consegue atingir novos máximos desde abril. Os problemas na China afetam o principal setor na Europa, deixando-o para trás nas subidas das bolsas”, explicam desde a Activotrade.
Quando o mercado atinge um novo máximo, os investidores podem chegar à conclusão de que o mercado atingiu o topo e eles perderam a oportunidade. Segundo a Capital Group, nada mais longe da realidade. “Em períodos longos, os mercados tendem a subir e alcançam múltiplos níveis máximos ao longo de um ciclo”, afirmam.
Todos sabemos que é evidente que as quedas do mercado são inevitáveis e podem ocorrer a qualquer momento. Mas, na opinião da Capital Group, a história nos mostrou que os momentos em que os mercados atingiram novos máximos ofereceram uma via de acesso atraente para os investidores de longo prazo. “Desde 1950, cada vez que o índice S&P 500 atingiu seu primeiro máximo histórico em pelo menos um ano, a rentabilidade média da renda variável foi de 17,1% nos doze meses seguintes. Exceto no início da crise financeira global em 2007, um investidor teria obtido ganhos em todos esses períodos”, explicam desde a Capital Group.
“Essa é a razão que nos leva a focar em temáticas como a globalização, a produtividade e a inovação, que impulsionam enormemente o crescimento. Vamos ter que enfrentar quedas no mercado, mas essas quedas não mudaram a trajetória de longo prazo. Por isso, costumo me posicionar a favor da valorização do mercado”, acrescenta Martin Jacobs, gestor de renda variável da Capital Group.
Na opinião de Yves Bonzon, CIO (Chief Investment Officer) do banco privado suíço Julius Baer, o comportamento do mercado tem sido bom no que vai do ano, e parece que os pessimistas capitularam pelo bem de suas carreiras. “Consequentemente, não custaria muito reajustar o indicador de ganância (sentimento de alta) e medo (sentimento de baixa) novamente em direção ao medo. A relação risco/benefício para a segunda metade do ano é a menos atraente que vimos em muito tempo. Para ser claro, continuamos acreditando que a tendência principal é de alta. Portanto, estamos tentando nos proteger contra uma correção intermediária em uma tendência de alta”, afirma Bonzon.
Para o CIO da Julius Baer, a narrativa está mudando agora para uma rotação saudável, mas não de forma imediata. “Embora ainda esteja por ver, não estamos convencidos da probabilidade de uma virada rápida e conveniente para um mercado de alta de renda variável norte-americana muito mais amplo, no qual o S&P 500, ponderado igualmente, superará de repente seu primo ponderado por capitalização de mercado. Em outras palavras, a economia pode desfrutar de condições semelhantes às de Cachinhos Dourados, mas os mercados geralmente não são tão gentis. Duvidamos que o cenário de Cachinhos Dourados para a renda variável, com um mercado amplo em alta, tenha começado na última quinta-feira”, argumenta.
Segundo Bonzon, outra prova de que ainda não se iniciou uma rotação sustentável é a evolução decepcionante da renda variável europeia e chinesa. “Se essa rotação está em andamento, a renda variável europeia e chinesa não parece estar se beneficiando dela. Acreditamos que as probabilidades de uma correção são maiores do que as de uma rotação sustentável. Não podemos deixar de apontar os distúrbios que provavelmente teriam inundado os EUA se a tentativa de assassinato do ex-presidente Trump tivesse sido bem-sucedida”, afirma.
Perspectivas para o segundo semestre
Segundo a avaliação da DPAM, estamos em um ciclo atípico caracterizado por um crescimento econômico persistente em meio a uma política monetária restritiva, o que suscita inquietação tanto para os Bulls quanto para os Bears. “O equilíbrio entre a desinflação, o crescimento, as altas taxas de juros e o impacto dos temas seculares de longo prazo continua. Os otimistas atualmente levam a melhor, como demonstram os novos máximos do mercado”, afirma Johan Van Geeteruyen, CIO de Renda Variável Fundamental na DPAM.
Nesse contexto, Van Geeteruyen considera que os investidores ainda não reagiram e preferem as grandes capitalizações até que melhore a estabilidade econômica, e que o endurecimento da política monetária também afetou as pequenas capitalizações. “Acreditamos que a melhor estratégia é acumular posições gradualmente, já que vários catalisadores, como os cortes de juros do BCE, a melhoria das condições macroeconômicas e o baixo posicionamento, sugerem uma mudança iminente. A recente melhora dos fluxos, com o retorno dos investidores norte-americanos, também pode ser um forte catalisador”, aponta.
Segundo suas previsões, o mercado espera uma recuperação do crescimento em 2024 e 2025. Consideram que o PMI composto subiu acima de 50, graças à solidez do PMI de serviços, e o PMI manufatureiro melhorou de 45 no início do ano para mais de 47. Esse ponto de inflexão historicamente indica um desempenho superior iminente das pequenas capitalizações, que são sensíveis às melhorias econômicas, mas estão em níveis de valorização recessivos há mais de dois anos.
“Continuamos neutros nos EUA devido aos problemas de valorização, mas tendemos a sobreponderar a Europa. Evitamos subponderar os EUA por seu dinamismo e sua condição de porto seguro. Os fatores que respaldam nossa posição de sobreponderação na Europa são a melhoria dos indicadores macroeconômicos, o aumento da confiança empresarial, a recuperação da atividade empresarial, a atrativa distribuição de capital e a subvalorizada difusão da IA”, aponta Van Geeteruyen.