A tecnologia revolucionou muitos aspectos do mundo imobiliário, mas para a startup chilena Wbuild, a tokenização é o mecanismo que realmente vai mudar o mundo do investimento imobiliário. E o ponto de partida da sua aposta é uma plataforma de investimento em ativos americanos, oferecendo imóveis num dos mercados mais apetecíveis do mundo a um público mais vasto.
“Se existe uma tecnologia que vai mudar o mundo dos fundos, ela se chama tokenização”, afirma o cofundador e CEO da empresa, Daniel Pardo. “Há anos compramos ações pelo celular, mas não imóveis. Agora podemos fazê-lo e isso muda a dinâmica de como posso aceder a outros tipos de ativos”, acrescenta, em entrevista à Funds Society.
Os investimentos são feitos por meio de empresas que contêm os ativos –grupos de ativos imobiliários ou unitários, dependendo do investimento–, cuja titularidade é dividida em ações, às quais estão associadas “ações digitais”, conforme descreve o executivo, que são negociadas em a plataforma. Todos os processos são registrados e contabilizados automaticamente.
A Wbuild utiliza uma combinação de blockchain, inteligência artificial e estruturas jurídicas sofisticadas –as mesmas estruturas simplificadas tradicionalmente utilizadas por indivíduos com elevado património líquido– para abrir o acesso a diferentes ativos, incluindo propriedades individuais (como apartamentos), projetos de desenvolvimento e até fundos imobiliários.
Isto permite que as pessoas invistam o valor que desejarem e obtenham participação em um ou mais ativos imobiliários e nos fluxos gerados pelos seus rendimentos. “Queremos que qualquer pessoa, independentemente da sua capacidade de investimento, possa montar a sua própria carteira de investimentos imobiliários”, explica.
Além disso, a plataforma oferece um mercado secundário, onde as pessoas podem negociar suas ações com maior liquidez do que no mercado privado tradicional. A custódia dos recursos, por sua vez, fica na conta da mesma empresa em que os usuários investem.
“Isso rompe as barreiras fronteiriças dos investimentos”, diz Pardo, reduzindo as passagens para investir no exterior. Assim, o objetivo é democratizar o acesso a uma categoria que se tornou mais popular no Chile.
Por que ativos americanos? “Para os chilenos, há muito menos acesso a investimentos nos EUA do que no Chile, porque não estão no ambiente em que vivem. Então, focamos nos EUA, mas depois vamos abrir em outros mercados”, avança o cofundador da startup.
O futuro do investimento imobiliário
Além do mercado imobiliário, a tokenização é uma tecnologia que emerge como revolucionária para a indústria de investimentos. “Há uma tendência muito forte de tokenização”, diz Pardo.
Em particular, o executivo destaca que este mecanismo permite abrir o acesso a todos os tipos de projetos que atualmente são inacessíveis aos investidores individuais. Isto inclui ativos de energia e armazéns, por exemplo.
As estimativas da indústria apoiam essa suspeita, segundo Pardo. “Mais ou menos, os cálculos concordam que, entre agora e 2030, 10% do PIB mundial será tokenizado, será baseado nesta tecnologia”, comenta.
Além disso, observa ele, o Citi projeta que 7,5% dos fundos imobiliários globais serão tokenizados até esse ano.
Isso se deve principalmente a três motivos, segundo o profissional. Em primeiro lugar, esta tecnologia democratiza os investimentos, através da redução de custos. Além disso, proporciona maior transparência e segurança, graças aos mecanismos de contabilidade inerentes à tecnologia blockchain. Por fim, a eficiência permite maior liquidez, com o seu mercado secundário de ações.
Esse modelo, garante Pardo, não oferece benefícios apenas para investidores, mas também para fornecedores de ativos imobiliários, como fundos ou incorporadoras. “Estamos abrindo as portas para novos mercados”, através da democratização e do seu alcance regional, indica.
Planos de expansão
A Wbuild foi criada em maio de 2022 e dedicou seu primeiro ano ao desenvolvimento da tecnologia da plataforma, lançando seus negócios em março de 2023. Atualmente, possui mais de 2.800 usuários, espalhados por 14 países –fora e dentro da América Latina–, com cerca de um milhão dólares e meio em ativos. Seus fundadores são Pardo e o advogado Andrés Carey.
No futuro, as coisas parecem positivas, afirma o CEO da empresa, principalmente considerando que conseguiram entrar na aceleradora Reach. Este programa, destaca, é “o número um do mundo” no segmento de tecnologia imobiliária e conta com o apoio da americana National Association of Realtors.
Isso, explica, abriu as portas para o mundo, principalmente no México, onde vêm ganhando força entre os investidores.
Nesse sentido, a expansão para outros mercados está nos planos. Pardo comenta que estão trabalhando no México, Espanha, Uruguai e Chile, explorando paralelamente questões regulatórias e técnicas. O objetivo é abrir novos mercados “daqui a dois anos”.
“No primeiro semestre do ano que vem vamos abrir um novo mercado. Estamos na discussão do que será, porque tem a ver com os avanços que temos e os projetos que podemos acessar”, afirma.
Além disso, têm interesse em fortalecer o seu mercado secundário, incorporando protocolos de terceiros para se conectar a outras plataformas e aumentar a liquidez; e expandir a plataforma com novos tipos de ativos tokenizados para negociação. Por exemplo, preparam-se para incorporar projetos de conservação e, mais tarde, de energia.