“Com muita frequência, as pessoas ignoram o lado das oportunidades.” Esta é uma observação de Michelle Dunstan, diretora de Responsabilidade da Janus Henderson. A especialista, que se juntou à empresa em 2023, destaca que, pelo menos no caso da abordagem baseada em sustentabilidade, “as pessoas geralmente se concentram no risco, mas há muitas oportunidades em ESG”.
Ela cita exemplos como a capacidade das empresas de se adaptarem a diferentes regulamentações e mudanças nos padrões de consumo, sua habilidade para atrair e reter talentos, ou sua capacidade de determinar como sua gama de produtos e serviços pode afetar a transição energética. Essa presença de oportunidades, e a chance de abordá-las a partir de uma organização como a Janus Henderson, motivaram Dunstan a liderar a estratégia de investimento em sustentabilidade após quase 20 anos desempenhando diversas funções na AllianceBernstein.
Antes de tomar qualquer decisão, a primeira coisa que Dunstan fez ao assumir seu cargo foi iniciar um processo de escuta ativa dentro da organização para entender em quais áreas poderiam ser feitas melhorias e, especialmente, saber a opinião dos clientes. Foi aí que ela percebeu que um dos aspectos que a empresa precisava trabalhar mais era justamente a comunicação: “Já estávamos fazendo uma boa análise e um ótimo engajamento dentro da empresa, mas não estávamos contando às pessoas tanto quanto deveríamos”, explica.
Assim, uma das primeiras decisões que tomou em seu novo cargo foi melhorar a área de relatórios, divulgando o relatório de responsabilidade (a versão da Janus Henderson dos relatórios de sustentabilidade), além de organizar uma série de eventos para divulgar e formar sobre algumas das áreas de trabalho da empresa, como segurança hídrica, transição hídrica e um evento sobre o uso responsável da inteligência artificial que será realizado em outubro.
Diretrizes da nova estratégia
Dunstan dedicou seu primeiro ano na empresa a desenvolver a nova estratégia de investimento responsável da Janus Henderson, que se apoia em três pilares. O primeiro deles é a própria política de responsabilidade corporativa aplicada internamente: “Se vamos pedir às empresas em nosso portfólio que façam as coisas melhor ou de maneira diferente, nossas próprias práticas precisam refletir o que esperamos dos outros”, resume.
O segundo pilar é a integração dos critérios ESG na plataforma de investimentos da Janus Henderson, algo que Dunstan considera fundamental: “Quando existe uma consideração material do ponto de vista financeiro, ambiental, social ou de governança, deveríamos integrá-la em cada fase adequada do nosso processo. Acreditamos que isso nos torna melhores investidores”, afirma. A especialista esclarece que a abordagem da Janus Henderson para a integração ESG é “reflexiva, prática, baseada na pesquisa e com visão de futuro”. Isso implica utilizar uma abordagem que não se baseia tanto no que aconteceu no passado, mas em buscar potenciais líderes do futuro: “Não se trata de aplicar exclusões, não se trata de olhar uma classificação e dizer que é boa ou ruim. Trata-se dessa análise minuciosa”, destaca a especialista.
O terceiro pilar da estratégia é o desenvolvimento de produtos. Dunstan destaca o caráter pioneiro da empresa em sustentabilidade, possuindo uma estratégia de renda variável sustentável com um histórico de 30 anos. No entanto, a especialista constatou que “por alguma razão, nos últimos anos, o novo enfoque em inovação de produtos ESG havia desacelerado”. Isso a levou a impulsionar uma aceleração que se concretizou nos Brighter Future Funds, uma gama de fundos ESG que inclui uma estratégia que investe em transição climática, uma que investe em renda variável e outra em renda fixa, além de algumas outras ainda em desenvolvimento. O ponto de partida para desenvolver os produtos dessa gama é que realmente possam impulsionar uma mudança no mundo real enquanto geram retornos atraentes para os clientes.
Dessa forma, os esforços se concentram em três vetores: líderes, em processo de melhoria ou transição e fornecedores ou facilitadores de soluções. Na primeira categoria estão as empresas que já estão bem posicionadas para enfrentar o futuro, preservar seus fluxos de caixa e proteger seus múltiplos em um ambiente de transição energética. Na segunda categoria, a especialista coloca as empresas que talvez não estejam hoje nas melhores posições, mas cujos produtos e serviços são necessários para o mundo de hoje e do amanhã, além de mostrarem um compromisso firme para melhorar seus parâmetros. Finalmente, na terceira categoria estão as empresas cujos produtos e serviços permitem que outras empresas melhorem os seus. Aqui, por exemplo, encontram-se empresas de mineração de cobre, um metal essencial para impulsionar a transição. “Existe uma correlação entre a melhoria dos ratings ESG e as empresas que estão melhorando e geram alfa”, comenta.
Dunstan destaca que, especialmente para a segunda e a terceira categoria, são áreas que estão crescendo mais rápido que a economia e um bom terreno para capturar retornos financeiros atraentes, mas que precisam de equipes de análise potentes para identificar corretamente as oportunidades para investir nos líderes do amanhã e determinar até que ponto o compromisso das empresas com a transição é real e alcançável.
Apresentando a ESG Explore
A diretora de Responsabilidade Corporativa valoriza a plataforma de analistas que a Janus Henderson desenvolveu ao longo de seus 90 anos de história, sendo os esforços de pesquisa dos fatores ESG um dos últimos capítulos dessa longa história. De fato, Dunstan sublinha o grande esforço de análise interna para melhorar essa dimensão do investimento, que se concretizou no desenvolvimento da ferramenta ESG Explore, lançada recentemente. “O mundo dos dados ESG é muito grande e diversificado, mas ainda está na sua infância. Há muito por desenvolver ainda”, explica a especialista.
Ela descreve a ESG Explore como um sistema de dados proprietário que integra análises próprias e de terceiros, estrutura-os e os coloca à disposição das equipes de investimento, riscos e conformidade legal da Janus Henderson e também de seus clientes “de uma maneira que é lógica e está alinhada com o processo de análise”.
Cat Ziac Boyd, diretora global da estratégia ESG e operações, explica que a plataforma é composta por diferentes módulos que crescerão em número à medida que a equipe tiver capacidade para explorar novos grupos de dados. Atualmente, entre os dados disponíveis estão ratings ESG próprios para emissores e portfólios, bem como dados relacionados à medição da mudança climática. “A estruturação dos dados ESG é o santo graal neste momento”, afirma Boyd.
O esforço e os planos em torno da ESG Explore são ambiciosos, pois a intenção da empresa é continuar expandindo a plataforma com cada vez mais dados próprios e cada vez mais detalhados. Por exemplo, a diretora global da estratégia ESG explica que serão incorporados até o final do ano dados que indiquem a implicação das diferentes empresas em negócios que possam ser considerados controversos de forma mais detalhada. Entre as temáticas de outros módulos que serão integrados no futuro está também a regulamentação, que incluirá aspectos como a taxonomia europeia, os ODS ou dados relacionados com proxy voting.
A empresa também planeja incorporar uma ferramenta que possa quantificar uma série de dados em torno da transição climática, como por exemplo determinar o grau de compromisso das políticas de uma empresa com a transição, o grau de credibilidade desse compromisso e quão realista ele pode ser.
Finalmente, outro dos frentes abertos é o fechamento de uma aliança de longo prazo com uma instituição acadêmica para poder desenvolver uma pesquisa com um nível superior de profundidade, um acordo que Boyd espera fechar em muito curto prazo. “Para nós, é importante co-desenvolver esta linha de pesquisa e fornecer algo único ao mercado”, conclui a especialista.