A Gama Investimentos, gestora de feeder funds que tem a HMC Capital como acionista, se prepara para oferecer novos fundos e estratégias nos próximos meses, algumas das quais inéditas no país, mas populares nos exterior. A casa, que hoje conta com R$ 4 bilhões AUM, divididas em 12 estratégias, tem 12 novos fundos globais num pipeline. Parte deles passou a mirar uma atuação no Brasil após mudanças trazidas na nova regulação 175 da CVM, explica Ian Caó, sócio e CIO. Ele espera que a gestora dobre o capital sob gestão até o final desse ano.
“Estamos otimistas com esse novo ambiente regulatório, com a possibilidade trazer novas estratégias para investidores qualificados, como fundos de total return e também de semi-líquidos alternativos, além de ampliar possibilidades para o investidor pessoa física”, afirma o CIO em conversa com a Funds Society. É em relação a essa última classe de ativos que a Gama deve anunciar ao público a primeira parceria dessa nova leva de estratégias, trazendo ao Brasil o primeiro fundo de ‘semi-líquidos’ do país.
Esses veículos de investimento combinam a liquidez intermediária entre fundos de alta liquidez e fundos de baixa liquidez, permitindo resgates em períodos mensais, trimestrais ou semestrais, e investindo em ativos diversificados como crédito privado, imóveis e private equity.
“Essas estratégias sempre ficaram muito restritas a investidores institucionais, a family offices, até clientes ultra high net worth. E agora podemos trazer produtos que dão exposição a essa classe de ativos, numa estrutura de fundo quase aberta, com liquidez trimestral, esse tipo de coisa”, diz Caó, que enxerga nessa mudança uma evolução do mercado no Brasil, dialogando até mesmo com a democratização dos investimentos. “Agora você está aproximando a carteira potencial do investidor de R$ 500 reais, da carteira potencial do maior family office do país”, diz.
Já os fundos de total return visam obter retornos absolutos positivos, independentemente das condições de mercado, utilizando uma ampla gama de estratégias como posições long e short, derivativos e alocação dinâmica de ativos, sem se fixar a um índice de referência específico. É o caso da hedge fund Bridgewater, de Ray Dalio, a maior do mundo no setor, cujos produtos já eram disponibilizados pela Gama, mas com a maioria dos fundos só para investidores profissionais, à exceção de alguns que estavam em plataforma UCITS e que podiam ser acessados pelos investidores qualificados. Com a mudança da 175, amplia-se o escopo de produtos da gestora americana (e de outras) a esse público.
As novidades da 175 para os feeder funds
Foram duas as mudanças trazidas pela resolução CVM 175, que ampliaram as possibilidades aos investidores e às gestoras. Uma delas diz respeito aos investidores qualificados, trazendo novas regras sobre jurisdições. Anteriormente, a resolução 555 exigia que os fundos possuíssem um órgão regulador em sua jurisdição de origem, que verificasse se os requisitos estavam de acordo com o que a legislação brasileira pedia.
Na prática, isso limitava aos investidores qualificados a optarem apenas por fundos UCITS, da Europa. Agora, não há mais necessidade de haver esse regulador no exterior conferindo se os fundos se adequam à legislação do Brasil, bastando que estejam em um ambiente supervisionado e tenham um administrador reconhecido. Com isso, fundos das ilhas Cayman e de Delaware, EUA, podem entrar no Brasil.
Já a outra mudança amplia às gestoras oferecerem fundos com 100% de alocação no exterior para o público geral, ante os 40% definidos pela última modificação sobre o tema dentro da regulação anterior, a CVM 555, realizada em 2020. Dessa forma, a Gama, que atende gestoras globais como a Oaktree, que tem Howard Marks como um dos sócios fundadores, MAN Group, ZENO, Pearl Diver, Acadian, entre outras, deve ampliar seu escopo de investidores e produtos, trazendo novas estratégias também ao público geral.
Mesmo com o cenário econômico local, que atualmente conta com um forte apetite pela renda fixa em meio aos juros altos, o CIO afirma que os novos produtos vão atrair investidores. “Comparando com os produtos brasileiros você é competitivo. O juro tá 10,50%, o fundo rende 14%… o comparativo de crédito local rende 11%”, diz.