O ambiente econômico global, marcado por incertezas políticas, riscos de recessão nos Estados Unidos e choques tarifários, tem moldado as decisões de alocação de grandes gestores de fundos, segundo o relatório Global Market Perspectives 2Q25 (leia na íntegra) da Principal Asset Management.
De acordo com o documento, a economia norte-americana enfrenta um dos maiores choques de política econômica das últimas décadas. A imposição de tarifas generalizadas sobre importações pode elevar a taxa efetiva de tarifas para 25% — o maior nível desde 1908 — com impacto potencial de queda de 2,5 pontos percentuais no crescimento do PIB dos EUA. “As tarifas foram implementadas antes das políticas de estímulo, e em uma escala muito superior ao que o mercado antecipava”, alerta a equipe da Principal.
Perspectiva de recessão e resposta da política monetária
A possibilidade de uma recessão nos EUA em 2025 cresceu significativamente, impulsionada por perda de confiança empresarial e pressões inflacionárias causadas pelas tarifas. Embora os dados de atividade permaneçam relativamente fortes, a Principal ressalta que “se o pessimismo persistir, os efeitos devem começar a aparecer também nos dados duros”.
A resposta do Federal Reserve será limitada. Apesar da expectativa de cortes na taxa de juros ainda neste ano, a autoridade monetária enfrenta um dilema entre apoiar o crescimento e conter pressões inflacionárias. “Esperamos três ou quatro cortes de juros em 2025, mas o caminho ficou mais estreito e incerto”, diz o relatório.
Alocação estratégica: qualidade, liquidez e diversificação
Em meio ao cenário volátil, os gestores têm priorizado ativos de maior qualidade e liquidez. A renda fixa tem recuperado protagonismo, com destaque para títulos de crédito com grau de investimento. “A renda fixa continua cumprindo seu papel de amortecedor em carteiras”, afirma o estudo.
Já no mercado acionário, o foco está em empresas com geração robusta de caixa, enquanto os setores mais defensivos ganham tração. A valorização de empresas de tecnologia, especialmente o grupo conhecido como “Magnificent 7”, perdeu fôlego. “A exposição internacional está se tornando mais estrutural. Europa e China estão ampliando seus estímulos e têm sustentado melhor os preços dos ativos”, observa a equipe da gestora.
Fundos globais diversificados ganham força
O relatório destaca o aumento expressivo do volume aplicado em fundos de mercado monetário — um indicativo da aversão a risco dos investidores institucionais. Em contrapartida, gestores vêm ampliando a diversificação internacional e interclasses, com apostas em crédito emergente seletivo, REITs, infraestrutura e estratégias descorrelacionadas.
“A diversificação global e entre classes segue sendo essencial. Os diferenciais de avaliação entre mercados se estreitaram, o que amplia o universo de oportunidades para gestores ativos”, aponta o material.
A expectativa é que, mesmo em um cenário de desaceleração, o crescimento modesto seja suficiente para preservar retornos positivos em classes de ativos selecionadas. Mas, segundo os analistas, a janela de atuação exige cautela: “O mercado está prestes a atingir o pico de tarifas e incerteza. A liquidez será uma ferramenta-chave para capturar oportunidades quando houver reversão no sentimento”.