Os altos e baixos do processo de normalização monetária levado a cabo pelos bancos centrais ao redor do mundo afetaram diversas variáveis da indústria de investimentos. Uma delas – como já se previa quando as taxas começaram a cair – é a indústria de fundos mútuos do Chile, que tem visto um crescimento no número de participantes de seus veículos nos últimos anos, impulsionado pela queda nas taxas dos depósitos a prazo.
Entre o final de setembro de 2022 e o final de maio de 2023, os depósitos a prazo se mantiveram em uma faixa estável, em torno de seus níveis mais altos dos últimos anos, com o sistema bancário local mantendo taxas de captação em torno de 0,9%, de acordo com dados do Banco Central do Chile (BCCh). Desde então, a queda tem sido contínua.
Durante 2024, as taxas de captação média entre 30 e 89 dias em pesos caíram 26 pontos-base, acompanhando a queda nas taxas entre 90 dias e um ano em pesos. Atualmente (com o último dado disponível de 10 de janeiro), essas taxas estão em 0,38% e 0,42%, respectivamente. Assim, acumulam quedas de cerca de 50 pontos-base desde o pico das taxas de depósitos a prazo.
No entanto, do outro lado da moeda, esse retrocesso foi acompanhado por um boom na indústria de fundos mútuos local, que viu um aumento no número de participantes e no patrimônio sob sua gestão. Dados da Associação de Administradoras de Fundos Mútuos (AAFM) mostram que o número de participantes não institucionais dos veículos aumentou em 366.233 durante 2024.
Com isso, a indústria adicionou 538.318 investidores desde que as taxas de captação começaram a cair, até o fechamento de maio de 2023. Isso representa um aumento de 17,8% nesse período, com cerca de 3,6 milhões de aportantes não institucionais na sexta-feira passada.
Paralelamente, nesse período, foi registrado um aumento de 77% no patrimônio líquido administrado pelos fundos mútuos registrados na AAFM – que incluem estratégias nacionais e estrangeiras, produtos APV, etc. – alcançando 79.941.024 milhões de pesos chilenos (cerca de 7,9 bilhões de dólares).
Uma dinâmica favorável
Profissionais da indústria afirmam que a dinâmica das taxas de depósitos a prazo gerou um ambiente favorável para os fundos mútuos no país andino.
“À medida que as taxas dos depósitos a prazo foram diminuindo, os investidores passaram a buscar outras alternativas de investimento para maximizar os retornos, o que gerou bons resultados durante 2024”, explica Rodrigo Barros, gerente de renda fixa da Bci Asset Management, à Funds Society. De modo geral, boa parte dos ativos teve bons resultados a nível global.
Essa mudança no comportamento dos investidores, acrescenta ele, “fez com que o grande crescimento de pessoas investindo em depósitos a prazo desde 2022 fosse migrando aos poucos para os fundos mútuos, gerando um forte crescimento na indústria”.
Especificamente, foi registrado um movimento de migração de veículos de money market para dívida com maior duração. “Muitos investidores migraram de depósitos a prazo para fundos mútuos de renda fixa de prazos mais longos devido à expectativa de obter ganhos de capital à medida que as taxas dos depósitos se tornaram menos atraentes”, indica Guillermo Marín Bull, gerente de Ativos Locais da Inversiones Security.
Para frente, a expectativa é que os tipos de juros continuem caindo no país andino, aumentando o atrativo relativo dos fundos mútuos em relação aos depósitos a prazo.
Perspectivas futuras
Nesse sentido, os próximos passos do BCCh serão cruciais. “À medida que a taxa de juros que o Banco Central define (que basicamente regula o custo dos fundos interbancários a um dia) diminui, as demais taxas de instrumentos financeiros como depósitos a prazo e bônus também corrigem para baixo”, explica Marín.
A expectativa da Inversiones Security, destaca o executivo, é que a entidade continue a reduzir a Taxa de Política Monetária (TPM) durante 2025, fechando o ano em 4,5%. “As taxas dos depósitos a prazo devem continuar diminuindo e perdendo competitividade em relação aos fundos mútuos de renda fixa”, prevê.
Barros, da Bci AM, observa que o último informe de política monetária (IPoM) do banco central chileno indica que continuarão os cortes. “Para 2025, o banco central, em sua última correção, sinalizou que suas expectativas são de que a TPM chegue a níveis entre 4,5% e 4,25% em dezembro de 2025. O mercado, na curva swap, ao contrário do banco central, precifica que o banco central não fará mais cortes e manterá a taxa em torno de 5% durante todo o ano de 2025”, explica.
Nesse cenário, espera-se que o comportamento dos investidores seja similar ao observado em 2024, buscando alternativas com maior rentabilidade. “A expectativa é que os investidores dispostos a assumir baixo risco estejam investidos em fundos de curto prazo de renda fixa, enquanto os que aceitam um pouco mais de risco invistam em fundos balanceados”, afirma.
Outro fator-chave será a volatilidade. Se ela for alta, prevê o executivo, poderá haver um maior crescimento em estratégias conservadoras, enquanto o contrário poderia gerar um aumento nos veículos que investem em ativos de maior risco.