Os family offices continuam focados em reequilibrar as carteiras de seus clientes para enfrentar o atual cenário de mercado. Por enquanto, não planejam grandes mudanças, mas seguirão as tendências que surgiram em 2023. O que é relevante é que estão preocupados com os riscos geopolíticos e a possibilidade de conflitos em grande escala. Em um horizonte de cinco anos, também consideram a mudança climática como um risco principal, junto com altos níveis de dívida.
Segundo o último relatório do UBS, as carteiras passaram a ter alocações mais equilibradas, com a maior ponderação em renda fixa de mercados desenvolvidos dos últimos cinco anos. A confiança na gestão ativa também aumentou como forma de diversificar carteiras, e a inteligência artificial (IA) está no topo das temáticas de investimento. Além disso, os investimentos alternativos continuam sendo uma parte importante das carteiras, proporcionando uma fonte adicional de diversificação e rentabilidade.
“Nossa pesquisa de 2024 mostra que os family offices seguiram adiante com os planos de realizar as mudanças significativas na alocação estratégica de ativos previstas no relatório de 2023. Ao aumentar as ponderações em renda fixa de mercados desenvolvidos, conseguiram um maior equilíbrio entre bônus e renda variável”, afirmou George Athanasopoulos, chefe global de Patrimônio Familiar e Institucional e co-chefe de Mercados Globais do UBS. A entidade realizou este relatório com dados que representam famílias com um patrimônio líquido médio de 2,6 bilhões de dólares e abrangem mais de 600 bilhões de dólares em capital.
Para Benjamin Cavalli, chefe global de gestão patrimonial de clientes estratégicos do UBS, “este conjunto de dados maior e mais abrangente em escala global nos permitiu fazer uma análise mais profunda e obter informações sobre o impacto dos negócios operacionais dos family offices em sua alocação de ativos, o que nos possibilita oferecer conclusões e aconselhamento personalizado”.
Alocação de Ativos
O relatório do UBS lança algumas conclusões chave. Em primeiro lugar, as carteiras dos family offices recuperaram um maior equilíbrio entre bônus e ações. “Essa tendência, possivelmente devido ao desejo de se adaptar a um contexto mundial de inflação moderada e taxas de juros em queda, parece refletir as elevadas rentabilidades dos bônus e é coerente com as mudanças previstas no relatório do ano passado”, explica o documento.
Em média, os family offices mantiveram as maiores alocações regionais na América do Norte (50%), mais de um quarto (27%) na Europa Ocidental e 17% na Ásia-Pacífico ou China e sua área de influência. No futuro, América do Norte e Ásia-Pacífico (excluindo China e sua área de influência) serão os principais destinos das novas alocações, já que mais de um terço prevê aumentá-las nessas regiões nos próximos cinco anos (38% e 35%, respectivamente).
Outra conclusão é que, assim como as carteiras equilibradas, a gestão ativa parece estar voltando à moda. Em um contexto de rápido avanço tecnológico, expectativas de taxas de juros variáveis e crescimento desigual, a maior dispersão dos retornos apresenta oportunidades para a gestão ativa. 39% dos family offices em escala global afirmam confiar mais na seleção de gestores ou na gestão ativa para melhorar a diversificação da carteira, um aumento de 4% em relação a 2023. Em termos de investimentos alternativos, um terço (33%) dos family offices recorre aos fundos de investimento livre (hedge funds) para diversificação.
Do ponto de vista temático, a IA generativa é a mais popular das temáticas de investimento, com mais de três quartos (78%) dos family offices afirmando que é provável que seja uma área de investimento nos próximos dois ou três anos.
Principais Preocupações
Embora as economias pareçam estar se estabilizando, a geopolítica é a principal preocupação para os family offices, seguida pela mudança climática a médio prazo. Em um horizonte de 12 meses, 58% estão preocupados com a possibilidade de um conflito geopolítico em grande escala. Também preocupa o fato de que os bancos centrais só possam baixar as taxas de juros lentamente, com 37% dos family offices declarando estar preocupados com a alta das taxas de juros e 39% com a maior inflação.
Quando se pede que considerem um horizonte de cinco anos, as preocupações a longo prazo se tornam mais evidentes. Embora os conflitos geopolíticos continuem sendo a principal preocupação (62%), quase metade (49%) se preocupa com a mudança climática e quase a mesma porcentagem (48%) se preocupa com uma crise da dívida, num momento em que os países ocidentais enfrentam altos níveis de dívida pública que podem parecer insustentáveis.
Nesse sentido, à medida que aumenta a atenção à sustentabilidade, os family offices buscam maior sofisticação. “A sustentabilidade está se tornando um tema cada vez mais importante que afeta não apenas as carteiras de investimento dos family offices, mas também as perspectivas a longo prazo das empresas em operação”, aponta o relatório.
Segundo os dados, 57% dos family offices com um negócio operacional já consideram aspectos de sustentabilidade ou têm planos de incorporá-los no futuro. À medida que o tema da sustentabilidade amadurece, os family offices precisam de mais informações e aconselhamento. Nesse sentido, 37% dos entrevistados consideram que uma melhor análise de dados para medir o impacto dos investimentos e/ou das operações empresariais ajudaria a alcançar os objetivos de sustentabilidade e/ou impacto.
Resultados por Regiões
Analisando os resultados da pesquisa por regiões, destaca-se que os family offices dos EUA têm as menores alocações (7%) em renda fixa, em média, e 59% daqueles com renda fixa afirmam fazê-lo para se beneficiar dos altos rendimentos. “Suas carteiras são as mais inclinadas para a América do Norte (82%) e apenas 8% são alocadas para a Europa Ocidental, em média”, apontam as conclusões.
Nos Estados Unidos, a renda fixa de alta qualidade e duração curta é a forma de diversificação mais popular (47%). 83% dos family offices americanos consideram provável investir em IA. Nos próximos 12 meses, a principal preocupação dos family offices americanos é a possibilidade de um conflito geopolítico em grande escala (57%), enquanto, nos próximos cinco anos, o que mais preocupa é o aumento dos impostos (73%).
Na América Latina, em comparação com a tendência mundial, os family offices são os que mais alocam, em média, em renda fixa (27% em bônus de mercados desenvolvidos, 7% em bônus de mercados emergentes). Além disso, aqueles que mantêm investimentos em renda fixa o fazem principalmente para preservar o capital (63%), ajudar a equilibrar o risco (58%) e aproveitar as altas rentabilidades (54%). As posições em ativos líquidos são as menos numerosas, em média, na América Latina (5%). “Nos próximos 12 meses, a principal preocupação é a inflação (60%), enquanto nos próximos cinco anos são a mudança climática (48%) e as disrupções tecnológicas que afetam seu negócio operacional e/ou investimentos (48%)”, destaca o relatório do UBS.
Na Europa, excluindo a Suíça, o relatório indica que 38% dos family offices europeus acreditam que as taxas de juros reais americanas oscilarão em torno de zero. “Em comparação com as médias mundiais, a proporção de family offices na Europa que prevê realizar mudanças na sua alocação estratégica de ativos em 2024 é a mais alta (42%) e, em média, há um forte viés nacional na alocação das suas carteiras para a Europa Ocidental (49%)”, afirmam as conclusões.
Além disso, em comparação com a tendência mundial, a porcentagem de family offices que estão cobertos contra riscos financeiros é maior na Europa (67%). Hoje e nos próximos cinco anos, o que mais preocupa os family offices europeus é um conflito geopolítico em grande escala (61% e 71%, respectivamente).
No caso da Suíça, 38% dos family offices acreditam que as taxas de juros reais americanas oscilarão em torno de zero. Em comparação com as médias mundiais, eles têm as maiores alocações, em média, para renda variável (29% do mercado desenvolvido, 2% do mercado emergente) e apenas 11% planejam mudar sua alocação estratégica de ativos em 2024. “Os family offices suíços têm um forte viés nacional, alocando em média 54% de suas carteiras na Europa Ocidental, e investem em metais preciosos para melhorar a diversificação de suas carteiras (34%). 76% dos family offices suíços provavelmente investirão em tecnologia de saúde nos próximos dois ou três anos. Em um horizonte de 12 meses e nos próximos cinco anos, o que mais preocupa os family offices suíços é a possibilidade de um conflito geopolítico em grande escala (62% e 71%, respectivamente)”, explica o relatório do UBS.
Asia e Oriente Médio
A região asiática merece uma distinção entre o sudeste asiático e o norte da Ásia. No caso dos family offices do sudeste asiático, 88% acreditam que as taxas de juros reais serão positivas por mais tempo. Segundo o UBS, confiam mais na seleção de gestores e/ou na gestão ativa para diversificar as carteiras (50%). Um dado interessante é que, em comparação com seus homólogos globais, as alocações no setor imobiliário são as mais baixas (6%), em média. “Um conflito geopolítico em grande escala e uma maior inflação são as principais preocupações (55% em cada caso) nos próximos 12 meses, enquanto nos próximos cinco anos são o aumento dos impostos (59%) e a mudança climática (56%)”, apontam.
No caso dos family offices do norte da Ásia, eles têm, em média, quantidades significativas de ativos líquidos (14%) e as maiores alocações para a China e sua área de influência (24%) de todas as regiões. Em comparação com a tendência global, a probabilidade de que invistam em IA nos próximos dois ou três anos é a mais alta (89%). Preferem a renda fixa de alta qualidade e curta duração para melhorar a diversificação da carteira (45%). Em um prazo de 12 meses e nos próximos cinco anos, a principal preocupação dos family offices do norte da Ásia é a possibilidade de um conflito geopolítico em grande escala (56% e 70%, respectivamente).
Por último, em comparação com a tendência global, os family offices do Oriente Médio têm as maiores alocações em bens imóveis (15%), em média, e recorrem menos que a média global à renda fixa de curta duração e alta qualidade (10%) para melhorar a diversificação da carteira. Nos próximos 12 meses, a maior preocupação é um conflito geopolítico em grande escala (68%) e, nos próximos cinco anos, o que mais temem é uma crise nos mercados financeiros (57%).