Em meio às turbulências do mercado, a Aiva celebrou sua 20ª conferência em Punta del Este mantendo sua própria agenda e rumo, com uma proposta cada vez mais respaldada pela tecnologia e pela expansão do negócio para toda a América Latina. Elizabeth Rey, Chairman da Aiva, fez com que fossem hasteadas as 15 bandeiras dos países da região presentes no Hotel Enjoy, enquanto Agustín Queirolo, Managing Partner, falou sobre seus objetivos: alcançar a escalabilidade e a especialização do negócio.
O retrato atual da Aiva
A empresa criada no Uruguai e baseada na Zonamerica conta com cerca de 3,7 bilhões de dólares sob administração (no fechamento do ano passado) e em 2024 obteve captações recordes de capital no valor de aproximadamente 290 milhões de dólares.
Os sócios e clientes da Aiva estão distribuídos por toda a região, com presença na Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, Costa Rica, Peru, México, Colômbia, Paraguai, Nicarágua, Bolívia, Equador, Panamá, Honduras e Guatemala.
A conferência de Punta del Este foi o cenário para exibir o avanço tecnológico da empresa, que recorre tanto a parceiros internacionais (como StoneX ou Investor Trust) quanto a desenvolvimentos próprios de inteligência artificial e formação permanente.
“Vamos ver ferramentas e soluções novas como nunca vimos nas 19 edições anteriores”, disse Agustín Queirolo — e não decepcionou.
Plataforma viva
Lançada em 2024, a iAdvisors é uma materialização do que pode ser aplicado em finanças por meio da inteligência artificial. A plataforma é capaz de propor uma carteira de fundos mútuos com base no perfil do cliente e nas solicitações do assessor financeiro. A busca é feita entre um universo de 1.700 fundos previamente categorizados pela equipe de investimentos da Aiva. Esse “menu” pode ser expresso em gráficos e no idioma que se desejar. O relatório pode ser convertido em um e-mail que se adapta à nacionalidade do cliente (por exemplo, se for chileno, falará em pesos) e ao vocabulário do destinatário (se for advogado, contador, engenheiro…).
Em resumo, a Aiva busca a escalabilidade do negócio de gestão patrimonial e, nas palavras de Queirolo, “o difícil em qualquer empresa é fazer isso sem abrir mão da especialização”, ou seja, de uma gestão de ativos profissional e de qualidade.
“Isso é uma corrida permanente e o mundo continua mudando, surgem novas tecnologias, o mercado é cada vez mais difícil, os países mudam, as estruturas patrimoniais também. Queremos continuar trabalhando para integrar escalabilidade e especialização: para conseguir isso, o essencial é escutar”, disse Queirolo.
A visão das gestoras
A apresentação de Cármen Olds, Diretora de Advisory – NIM Solutions da Natixis Investment Managers, concentrou-se na análise dos portfólios latino-americanos, mostrando o retrato deste momento de turbulência devido à política tarifária de Trump. E os investidores da região têm menos renda variável que seus pares da Europa e dos Estados Unidos, mas, dentro da classe de ativos, demonstram uma inclinação significativa para ações norte-americanas.
Nesse contexto, a Natixis defende o aumento da exposição das carteiras a ativos alternativos e propõe revisar e melhorar a diversificação.
Rodrigo García, portfolio manager da Sun Capital, apresentou o fundo balanceado da empresa e explicou qual é o processo de investimento em ativos de qualidade dos seus gestores. A estratégia é concentrada e de forte convicção, selecionando companhias com capacidade de formação de preços no mercado e bons fluxos de caixa.
Na hora de investir em renda fixa, a Sun Capital busca títulos corporativos de alta qualidade. No que diz respeito aos títulos do Tesouro, a gestora prefere uma duration mais baixa que a do restante do mercado, pois considera que há risco de aumento das taxas no contexto da guerra tarifária.
Por sua vez, Ryan Friedman, Head de Multi-Manager Investments da Investec, apresentou um panorama econômico que aponta um risco de recessão nos Estados Unidos. O nível de incerteza é excepcionalmente alto e os investidores devem preparar suas carteiras para um agravamento das condições de mercado.
Juan Hernández, diretor para a América Latina da Vanguard, destacou a boa convivência entre os fundos de gestão ativa e os ETFs, ressaltando que “o mundo precisa de assessoria” financeira e que hoje estamos em uma indústria de soluções que se adaptam ao cliente.
Hernández analisou a chegada dos ETFs ativos ao mercado e o crescimento dos ativos alternativos, defendendo uma indústria transparente que caminha para a cobrança fixa pela assessoria (modelo fee based).
Matt Morgan, Head de renda fixa da Jupiter Asset Management, falou sobre o fundo dinâmico da gestora, uma estratégia que serve para navegar tempos de volatilidade.
Morgan comparou as turbulências dos mercados com episódios como a crise hipotecária de 2008 e a pandemia de coronavírus. Em ambos os casos, a intervenção dos bancos centrais para sustentar os mercados tinha “um argumento moral”, mas atualmente a situação é mais complexa e é difícil fazer previsões.
De toda essa crise, o pior resultado para os investidores seria que o Fed “chegue tarde demais”. Morgan acredita que neste momento é melhor esquecer Trump (ninguém pode realmente prevê-lo) e concentrar-se na economia buscando oportunidades.