O objetivo que as gestoras de investimentos estabeleceram para crescer no segmento de ativos alternativos é abrir o mundo dos ativos ilíquidos ao investidor de varejo. Para isso, a indústria nacional conta com diversos veículos, como os Fundos de Investimento em Participações (FIP), holdings de investimento, fundos multimercado sofisticados e os chamados fundos alternativos. Dentre todos esses, os FIPs e os fundos alternativos foram os que mais cresceram no mercado espanhol, registrando uma Taxa de Crescimento Anual Composta (TCAC) aproximada de 11,5% e 10,6%, respectivamente.
No entanto, durante o último evento da Associação da Indústria de Fundos de Luxemburgo (ALFI) em Madri, as firmas nacionais reconheceram que os veículos europeus, como os ELTIFs, têm cada vez mais peso em sua oferta porque lhes permitem ser mais internacionais, mas também pelas vantagens que oferecem ao investidor. Segundo a experiência de Enrique Mestre Nieto, sócio fundador da Alaluz Capital, “para saber se é necessário criar e registrar o veículo em Luxemburgo ou na Espanha, é preciso analisar a quem ele se destina, seu tamanho e estratégia, e os aspectos fiscais, bem como onde se deseja distribuir o produto”.
Na opinião de Luis Felipe Castellanos, Managing Partner da Alantra, na Espanha, o desenvolvimento do mercado privado tem sido semelhante ao dos demais países europeus. E reconhece que um dos desafios enfrentados pela indústria é fazer com que os fundos tenham volumes que sejam atrativos para investidores institucionais, mas também individuais. “A grande esperança é a banca privada. De forma geral, o peso dos alternativos em suas carteiras está em 5% e espera-se que aumente para 15%”, aponta. E reconhece que, no caso espanhol, a sobrevivência de muitos desses fundos se deve ao setor público, que “lança campanhas para apoiar a iniciativa privada”.
Nesse sentido, as firmas da indústria concordam que o fato de ter reduzido para 10.000 euros o mínimo para que os investidores de varejo possam investir em capital de risco é uma grande oportunidade para “desbloquear o acesso” aos ativos privados. “Este é um dos motivos, junto com a mudança nas sicavs, a fiscalidade e os retornos negativos dos últimos anos, que fez com que o peso do private equity e do venture capital mudasse a composição das carteiras”, reconhece Enrique Mestre Nieto, sócio fundador da Alaluz Capital.
Mudanças no modelo de negócio
O aumento da presença dos investidores de varejo nas aplicações alternativas também implicou uma mudança no modelo de negócio das firmas. Nesse sentido, Castellanos reconhece quatro tendências no setor: “Em primeiro lugar, e dado que estamos diante de um negócio que precisa de escala, estamos vendo um processo de concentração em que as gestoras maiores estão comprando firmas de nicho. Além disso, as gestoras estão formando equipes específicas para atender esses clientes e também ajustando seus produtos, principalmente optando por fundos evergreen. Por fim, o tema da liquidez é muito relevante para os investidores de varejo, por isso estamos tentando dar liquidez a um subjacente que é ilíquido, sobretudo para atrair a banca privada. Isso explica o grande desenvolvimento que o setor de secundários está tendo na indústria”.
Uma visão que também é compartilhada por Felipe Zambrano, diretor da Langham Hall, que ainda acrescenta mais um aspecto: cuidar da experiência do investidor. “É necessário gerir as expectativas do investidor e ser especialmente transparente, oferecer certa educação financeira para que compreendam bem essa classe de ativo. Também é preciso dar especial atenção à gestão da liquidez, pois são um perfil muito sensível”, comenta.
Por fim, as firmas reconhecem que esperam um aumento na demanda por ativos de dívida privada, bem como uma reativação do private equity e do venture capital, graças à atual política monetária. “A alta dos juros paralisou o mercado de private equity, já que impediu a saída de investidores que estavam comprometidos. Agora, com o ciclo de queda dos juros, a situação mudou e esses investidores ‘presos’ começarão a se mover para novos investimentos”, afirma Castellanos. Nesse contexto, Zambrano reconhece que “vão aparecer novos players na indústria, que virão com mais peso tecnológico e maior digitalização”.