Os investimentos temáticos experimentaram um enorme aumento de popularidade no início de 2020, atingindo seu auge em 2021. Foi o que, segundo Daire Dunne, gestor do fundo Emerging Market Development Fund na Wellington Management, poderia ser descrito como “uma era de crescimento impulsionada pelos governos de todo o mundo que estimularam a economia global à medida que saíamos dos confinamentos pelo COVID-19”. Sobre o que aconteceu com o investimento temático e o que esperar dele nesta era pós-coronavírus, conversamos com ele nesta entrevista.
O que aconteceu com a investimento temático?
A tecnologia e o comércio eletrônico experimentaram um boom com a pandemia que acelerou a transformação digital de muitos bens e serviços; a conscientização sobre a mudança climática aumentou e deu lugar a uma nova onda de demanda por investimentos sustentáveis; as criptomoedas e o blockchain dominaram as manchetes; os investimentos inundaram as empresas de atenção à saúde e biotecnologia à medida que o mundo se apressava para desenvolver vacinas contra o COVID; e por último, mas não menos importante, o trabalho remoto mudou o funcionamento das empresas. Todas essas tendências combinadas levaram à aceleração de muitas mudanças estruturais de longo prazo às quais a investimento temático costuma se dirigir. Muitas das carteiras temáticas que registraram os maiores fluxos de entrada se concentraram nessas tendências, e obtiveram bons resultados com uma alta beta e uma pegada de alto crescimento. No entanto, grande parte desse boom se reverteu em 2022, à medida que o aumento da inflação e das taxas de juros freava a rentabilidade dos mercados de renda variável, dando lugar a preocupações em torno do crescimento econômico mundial e da possibilidade de uma recessão global.
O desempenho decepcionou os investidores?
O estilo growth teve um desempenho muito inferior ao value, e muitas carteiras temáticas passaram por um período desafiador em termos de rentabilidade. Na nossa opinião, essa queda se deveu mais a um efeito de fator (neste caso, o crescimento) nas carteiras temáticas do que à própria investimento temático. Outro obstáculo estava relacionado à pureza da exposição dessas carteiras: embora o rótulo dessas carteiras fosse voltado para um tema específico, os componentes eram em grande parte semelhantes (o que amplificava os vieses de fator). Isso levou à ideia errônea de que o investimento temático pode ser muito concentrado, muito orientado para o crescimento, com alto risco e alta rentabilidade.
O investimento temático está fora de moda?
À medida que o apetite por risco diminuiu nos últimos dois anos, o interesse pelo investimento temático também diminuiu, e os investidores optaram por ativos percebidos como “alternativas mais seguras,” como o dinheiro, a renda fixa, a renda variável de alta qualidade e a orientada para o valor. Acreditamos que existe uma desconexão nesse sentido, já que nem todas as carteiras temáticas devem ser consideradas carteiras de crescimento. Há evidências claras de que algumas tendências globais podem ser captadas com carteiras de valor, desde que os investidores mantenham a disciplina quanto à pureza temática à medida que constroem sua exposição.
Falando de modo geral, vemos que as temáticas mais comentadas são tecnologia/sustentabilidade e IA. O que acontece com o resto das temáticas das quais ouvimos falar há tanto tempo?
Quando mergulhamos no investimento temático, observamos o conjunto de oportunidades através de uma lente de desenvolvimento econômico, focando nos motores das mudanças estruturais globais. Dedicamos muito tempo a analisar o apoio político às tendências estruturais que identificamos. Nossa análise, iniciada há mais de uma década, identifica três áreas de mudança estrutural relacionadas a: inovação, sustentabilidade e inclusão.
Nesse sentido, quais temáticas estão demandando agora os investidores?
Um tema prioritário que temos discutido recentemente com nossos clientes é a desglobalização, o nacionalismo e a consequente crescente atenção à segurança dos recursos. Os confinamentos que afetaram o mundo lembraram os países da importância da autossuficiência para os suprimentos essenciais. Com o aumento das tensões geopolíticas, estamos vendo um novo foco na realocação das cadeias de suprimentos fundamentais e na segurança dos bens em detrimento da eficiência econômica. Nossos clientes têm demonstrado um crescente interesse em nosso tema de Segurança Estratégica e em nossa abordagem de energia Next Generation. Esses temas também possuem interessantes pegadas fatoriais em suas exposições subjacentes, abrangendo crescimento, núcleo e valor.
As temáticas relacionadas com os mercados emergentes estão entre elas?
Dentro da estratégia de Desenvolvimento de Mercados Emergentes, temos exposição a esses temas estruturais por meio de nossa temática de automação e robótica, que se beneficiaria da crescente demanda por equipamentos de fabricação à medida que os países aproximam as cadeias de suprimentos do território nacional, e de nossa temática de Consciência Ambiental, que investe em fontes de energia em transição e energias renováveis. Mais de 80% da fabricação mundial ainda ocorre nos mercados emergentes, portanto, a região desempenha um papel fundamental no investimento temático.
Como os investidores estão usando as estratégias temáticas em suas carteiras?
O investimento temático serviria como uma atraente fonte alternativa de alfa. As carteiras temáticas tendem a ser menos correlacionadas com os ciclos de mercado e abrangem vários países e regiões. As carteiras temáticas também podem ter diferentes perfis de risco e fatores, o que serviria como um bom complemento às alocações existentes e proporcionaria benefícios adicionais de diversificação.
Em particular, o que esta estratégia de renda variável temática de mercados emergentes pode agregar às carteiras dos investidores?
Nossa estratégia de Desenvolvimento de Mercados Emergentes é apropriada para investidores que buscam uma alternativa às exposições tradicionais nesse tipo de mercados. Como tal, a estratégia de Desenvolvimento de Mercados Emergentes normalmente terá uma menor sensibilidade ao ciclo de crescimento e um perfil de correlação mais baixo do que os índices tradicionais de mercados emergentes. A diversificação alcançada pela metodologia de construção da carteira também pode proporcionar um perfil mais atraente em mercados em baixa ao longo do tempo.
Quais temáticas são predominantes nos mercados emergentes?
Através de nossa estratégia, identificamos temas sob a perspectiva do desenvolvimento econômico, principalmente nos três âmbitos de mudança estrutural descritos anteriormente: inovação, sustentabilidade e inclusão. Nesse sentido, a equipe determinou os temas que considera mais atraentes com base em políticas positivas, rentabilidade e pureza das oportunidades de investimento no tema.