O futuro cenário macroeconômico do Brasil não é exatamente positivo para o ex-diretor do Banco Central e atual CIO da ASA Investments, Fabio Kanczuk. Em palestra sobre o ambiente de política Fiscal e monetária no país nesta quinta (27), durante o 13º Seminário de Gestão de Investimentos da Abrapp (Associação Brasileira da Entidades Fechadas de Previdência Complementar), o economista se mostrou cético em relação à manutenção da meta contínua de inflação em 3%, anunciada pelo governo Lula na última quarta (26).
“Imaginem o seguinte cenário para daqui dois anos: a inflação está em 4,5%, e os juros parados em 10,5%, com [Gabriel] Galípolo na presidência do Banco Central. A atividade começa a desacelerar… e daí o Lula fala: Galípolo, baixa esse juros aí! O então chefe do BC então responde: Presidente, não consigo baixar, a inflação está acima da meta”, diz Kanczuk, concluindo: “Aqui é difícil não imaginar o Lula falando: ‘Então muda essa meta!’.
O ex-diretor do BC ressaltou ainda que o cenário internacional atual é pior do que durante o governo de Dilma Rousseff (2011-16): “O fiscal agora está pior do que na época da Dilma. O juro real americano na época era zero. Agora é 2%. Então, puxou toda a base pra cima.” Ele argumentou que essa elevação na base torna a situação ainda mais complicada, pois os investidores internacionais tendem a fugir do Brasil em cenários de deterioração fiscal, reduzindo os investimentos no país.
Alta dos juros neutros
Kanczuk explicou que uma situação fiscal pior resulta em um aumento dos juros neutros – a taxa que não é inflacionária nem deflacionária. “Fiscal pior significa juros neutro maior”, afirmou. Segundo ele, quando o cenário fiscal se agrava, o Banco Central precisa elevar os juros para conter a inflação. “Quando fiscal piora, você sobe o juros”, diz. Indagado sobre o se o Banco Central aumenta juros no médio prazo nesse contexto, o economista afirmou que sim.
Ele também destacou que o modelo econômico usado no Banco Central tenta extrair o juro neutro observando o impacto da Selic sobre a atividade econômica. “Nos últimos semestres, vemos a atividade aumentando, sem ser afetada.” Isso, segundo Kanczuk, é um indicativo de que os juros neutros podem estar mais altos do que o consenso de mercado estima. “Não diria que estou chocado com juros neutros acima de 6 pontos. Isso é fora do consenso, mas é minha melhor resposta.”