O mercado de renda variável no Brasil atualmente não é dos mais atraentes para players como fundos de pensão, que batem suas metas atuariais enchendo as carteiras com NTN-B expressivas, que chegam a esticar o prêmio a “+ 6%”. A baixa performance do Ibovespa no ano, também deixa de atrair clientes, seja do setor de wealth, ou mesmo do varejo mais popular. Mas é justamente nesse contexto que moram grandes oportunidades, segundo gestoras focadas em renda variável, algumas com muitos desses clientes institucionais na clientela.
Diante de uma pergunta sobre ‘como concorrer com as NTN-B’, essas casas -algumas com muitos desses clientes institucionais na clientela, e 100% de exposição em RV-explicam sobre como concorrer com esses títulos e quais estratégias buscam. No evento TAG Summit, promovido pela alocadora de fundos e multi-family office TAG Investimentos, as gestoras Oceana Investimentos, Tenax Capital e GTI Administração de recursos, expõe argumentos sobre por quê apoiar em RV nesse momento. Confira abaixo:
- Oceana Investimentos (Gestora com 15 anos e R$ 10 bi AUM, 100% em RV, maiora gestora de RV para institucionais);
“A visão que sempre tivemos, é que investimento deve ser visto como oportunista. Tem momentos que o mercado vai oferecer oportunidades com assimetrias muito positivos e margem de segurança”, começa Alexandre Rezende, fundador e COO da gestora.
“Imagina um apartamento que deveria valer R$ 1 milhão. Se alguém me oferece por R$ 950 mil, será que é um bom investimento? Depende do que vai acontecer no futuro. De outra forma, se alguém me oferecesse por 400 mil reais, a conta que devo fazer é outra”, afirma. “De repente eu estou errado, não vale R$ 1 milhão, vale R$ 900 mil. Esse é o conceito de margem de segurança”, explica.
Segundo Rezende, na Oceana os investimentos sempre são feitos em ativos cuja probabilidade de perder dinheiro seja baixa. E para isso, ele conta com a taxa do retorno composto. “Se você consegue compor seu capital de maneira decente e evitar perdas, você acaba batendo num retorno acumulado que é muito superior ao investidor que está navegando em NTN-B“, diz.
Ele explica que para um portfólio institucional -o que compreende bem, visto que a Oceana atende 52 fundos de pensão- a forma ideal é “portfolio all weather”, que pode performar e defender bem os patrimônios em vários cenários. “Qual a dinâmica que vemos no Brasil? A taxa de juros abre, há uma migração inicial da bolsa para aqueles títulos públicos. Depois do vencimento ou da venda deles, você faz o que? Compra mais NTN-B?”, indaga, colocando que nesse momento o prêmio pode estar mais baixo, por exemplo a 3%, e a bolsa, mais cara.
“Então você vai estar comprando bolsa cara e vendendo quando está barata”, diz. “A ideia é que você possa carregar ativos em diferentes cenários no portfolio weather”. Rezende não vê a ‘bolsa barata’ como um todo, mas que há empresas com bons yields em vista. “Hoje temos a oportunidade de comprar o melhor shopping malls no Brasil, que no cenário que olhamos está a IPCA + 15%”, afirma, sem citar nomes. “Voltando para meu ponto original, a cabeça do investidor é a cabeça com bom faro de oportunidade”, afirma, colocando que há oportunidades específicas dentro de RV que “podem trazer assimetrias muito melhores do que carregar uma NTN-B + 6%, mesmo que seja na curva”.
- Tenax Capital (gestora com dois anos, com três fundos: macro, variável e crédito; R$ 1,3 bi AUM)
Segundo Alexandre Silveiro, CEO, os investidores olham hoje para um cenário inédito. “Temos uma curva de juros reais, onde, em vários vértices mais longos, elas estão acima de 6%. Vimos isso várias vezes. O que não vimos são juros reais nos EUA, de 10 anos, a 2%, como vimos nos últimos meses”, diz, colocando que os juros americanos e os mercados globais estão conseguindo conviver com os juros mais altos. “Precisamos aprender a conviver com isso”, diz.
O CEO da Tenax diz que há várias oportunidades em RV, mesmo com NTN-B + 6%. Ele se baseia num estudo feito pela gestora. “Concluímos que as ações mais sensíveis são as ações domésticas. As ações de commodities são afetadas, mas seus negócios são menos afetados”, afirma. Ele diz que a gestora usou o índice SMLL e olhou as ações num histórico de 15 anos, a fim de ver como se comportaram os Earning Yields (lucro dividido pelo preço, uma métrica inversa da conhecida P/L). Com isso, a Tenax comparou essa métrica com o yield do NTN-B, obtendo um diferencial de 5,2% (de spread, considerando IPCA + yields da NTN-B, + 5,2%).
“Se você pegar quando você vai receber de lucros, nos preços atuais do índice SMLL, vai receber 5,2% a mais que o NTN-B. Na média dos últimos 5 anos, isso foi 2,9%, e dos últimos 10 anos, 2,5%”, afirma, argumentando que à época haviam NTN-B de 5% e 5,5%, logo não eram tão mais baixas.
Ele diz que a conclusão sobre os EY o leva a prospectar três cenários possíveis para haver um equilíbrio entre esses valores:
- 1) Ajuste das NTN-B, com abertura: “No primeiro, o pior de todos, para equilibrar esse spread, a NTN-B teria que se abrir 250 bps. Ou seja, a NTN-B mais longa precisaria ir para 870 bps”;
- 2) Queda no lucro das empresas: “O lucro das companhias caírem 25%. Não me parece muito provável dado o universo de crescimento para ações domésticas no Brasil”;
- 3) Alta no preço das empresas: “Teria que subir 31% para se ajustar a essa media histórica de diferencial de L/P e de NTN-B”.
GTI Administração de recursos (Casa com 17 anos, monoproduto e foco em RV)
Segundo André Gordon, sócio-fundador da GTI, “os melhores momentos para comprar bolsa, na verdade, são nos momentos ruins”. Ele afirma que a GTI tem empresas descontadas de 15% ao ano, usando WACC (Weighted Average Capital Cost), e que mesmo assim encontram “upsides”.
Gordon avalia que o risco de estar fora da bolsa é em geral sempre desconsiderado. “Quando você sai da bolsa, você sai na hora errada. Em geral, o grosso do fluxo para a bolsa está nos melhores períodos econômicos”, quando ela está ‘mais cara’, avalia. Ele cita como exemplo a empresa SLC Agrícola. “A empresa tem terras, mais outros tantos mil hectares de terras arrendadas. Hoje, se voêe avalia a empresa só pelo que ela tem de terra própria e ativo biológico, você tem um upside no atual preço, de 35% a 40%, só baseado nessa avaliação”, diz.
Segundo ele, “o momento é para investir em bolsa, seja pela diversificação, ou pelas oportunidades específicas. Vimos épocas muito mais desafiadoras, com juros reais muito mais altos, e empresas em situações muito piores”.