O BNP Paribas Asset Management Brasil tem apostado na combinação de NTN-Bs e títulos prefixados para atravessar o atual cenário de juros altos, mantendo uma estratégia cautelosa e focada em proteção de capital, segundo Gilberto Kfouri Jr., CIO da gestora, em entrevista a Funds Society.
Na visão do executivo, a taxa Selic – atualmente em patamar elevado – tende a iniciar um ciclo de queda gradual, embora em ritmo cauteloso, acompanhando a desaceleração da inflação. Ele projeta que os cortes levem a Selic para níveis em torno de dois dígitos médio no horizonte de 2025 e até no final de 2026, possivelmente encerrando o ciclo próximo de 15,25% ao ano, mas já enxergando uma possível redução no aumento da taxa: “A segunda alta de 50 p.b. já começa a ficar fora do radar”, diz.
Essa perspectiva de alívio nos juros impacta os investidores institucionais, que ainda desfrutam de altos juros reais no curto prazo, mas já começam a ajustar portfólios para um ambiente de rendimentos decrescentes. O gestor destaca que, com juros elevados, os títulos públicos oferecem carrego atrativo, permitindo bom retorno sem necessidade de assumir riscos excessivos – mas reforça que é preciso planejar os próximos passos conforme a política monetária for afrouxando.
Alocação em NTN-B e prefixados sob gestão ativa de risco
Diante desse panorama, Kfouri descreve uma mudança tática na alocação dos fundos da BNP Paribas AM. Historicamente com posição relevante em títulos indexados à inflação (NTN-Bs) – aproveitando os elevados juros reais embutidos nesses papéis – a gestora mantém foco nesses ativos, mas recentemente passou a incrementar exposição em títulos prefixados . “Agora começamos a fazer um mix, adicionando um pouco mais de prefixado, sem aumentar o risco total dos fundos”, explicou. O movimento considera a possibilidade de desaceleração global e valorização cambial, fatores que podem impactar as taxas de inflação implícita.
“Há benefício nos prefixados de prazo intermediário, dado que o ciclo de cortes de juros deve se estender”, explica o CIO, ressaltando que a janela de entrada para aproveitar esses ganhos pode ser limitada caso a curva de juros feche rapidamente.
Nesse sentido, a gestão tem balanceado a duração (duration) das carteiras – alongando moderadamente os prazos, mas mantendo o risco sob controle para evitar volatilidade excessiva. Kfouri enfatiza que qualquer aumento de risco é calibrado de forma prudente, assegurando que a exposição a juros prefixados esteja dentro de limites confortáveis diante de possíveis cenários adversos.
Atualmente, o orçamento de risco nos fundos da BNP Paribas AM gira em torno de 35% a 40%. “A gente está mantendo esse patamar, mas trocando parte do risco de NTN-B para juro nominal”, detalhou Kfouri.
Crédito privado: diferenciação entre bancário e corporativo
Na seara de ativos de crédito privado, o CIO adota uma postura seletiva e diferenciada entre crédito bancário e crédito corporativo. Ele observa que, após um período de maior stress no mercado, houve uma abertura de spreads no final de 2024, especialmente em crédito corporativo, elevando os prêmios de risco.
Setorialmente, a alocação em títulos de crédito bancário permanece elevada, dadas as condições mais defensivas desse segmento e a redução recente do diferencial de prêmio de risco entre dívidas de bancos e de empresas não financeiras. Em outras palavras, títulos emitidos por bancos vêm oferecendo retorno adicional mais próximo ao dos títulos corporativos, o que justifica uma preferência relativa por crédito bancário pela maior solidez e liquidez dessas instituições.
Por outro lado, em crédito corporativo, a gestora segue atuando de forma bastante cautelosa, concentrando-se em emissores de alta qualidade de crédito e prazos mais curtos, de olho na liquidez. Kfouri explica que a estratégia de crédito privado busca otimizar a relação risco-retorno mantendo o prazo médio das carteiras dentro de faixas pré-estabelecidas, sem extrapolar risco.
“Seguimos estrategicamente cautelosos”, afirma, citando fatores de atenção como a incerteza fiscal doméstica e a trajetória da política monetária dos EUA que adicionam volatilidade ao cenário. Assim, mesmo com demanda ainda forte por papéis privados – notadamente debêntures incentivadas indexadas ao IPCA, favorecidas por isenção tributária – o crescimento da carteira de crédito é conduzido com prudência, calibrando novos investimentos conforme as condições de mercado.
“É uma gestão de credibilidade. A gente não teve problema de crédito nos últimos anos, mesmo em casos como Americanas, onde a gente não tinha posição justamente por uma análise crítica do setor”, destacou.
Ambiente internacional e influência nas decisões locais
Kfouri também pontuou as variáveis globais em seu panorama, com destaque para a condução da política monetária nos Estados Unidos. Ele observa que, após um ciclo agressivo de alta de juros pelo Federal Reserve, os sinais de moderação da inflação americana podem levar a uma pausa nas elevações ou até cortes moderados nos Fed Funds ao longo de 2025.
“Você já começa a discutir queda de juros lá fora”, afirmou. “Deu uma parada nos Estados Unidos, mas pode ter uma retomada de queda”, completou, mencionando que esse movimento é relevante para o Brasil.
Esse possível afrouxamento monetário nos EUA tende a aliviar a pressão sobre os mercados emergentes – incluindo o Brasil – ao reduzir a atratividade relativa dos títulos americanos e favorecer fluxos de capital para países com prêmios de juros elevados. Para o CIO, um Fed menos hawkish criaria um cenário mais benigno para ativos de risco globalmente, abrindo espaço para que o Banco Central do Brasil prossiga com cortes na Selic sem provocar desequilíbrios cambiais significativos.
No entanto, ele adota uma postura de cautela: “É bem complicado, porque aumentou muito a incerteza”, avaliou. “Mesmo o Trump recuando, depois ele fala que não, recuou provisoriamente só por 90 dias, e mesmo que volte atrás de uma forma mais empática, fica uma perda de credibilidade”, explicou.
Portanto, a equipe de gestão monitora atentamente os indicadores internacionais e mantém hedges e buffers de liquidez para proteger as carteiras contra volatilidade importada. Em resumo, embora o viés externo pareça caminhar para um suporte aos mercados locais – com queda de juros globais e apetite maior por emergentes –, a gestora adota uma postura de “otimismo vigilante”, ajustando posições conforme novas informações surgem.