Ante um ambiente com muitos processos burocráticos e analógicos, falta de digitalização e estruturas fragmentadas, a startup Bloxs almeja ser a principal infraestrutura digital para o mercado de capitais no Brasil. Fundada em 2018, a empresa se posicionou como uma plataforma completa que facilita a emissão, gestão e investimento em ativos estruturados, utilizando tecnologia de ponta para transformar o mercado financeiro tradicional.
“A Bloxs sempre teve a digitalização como um pilar fundamental, incluindo o uso de blockchain para otimizar processos e aumentar a segurança das operações financeiras”, diz Felipe Souto, CEO da Bloxs, em conversa com a Funds Society. A empresa hoje conta com uma plataforma que une buy-side e sell-side, atendendo na primeira categoria, majoritamenete, boutiques de investimento, empresas captadoras de recursos e assessores financeiros, e na segunda, gestores de fundos estruturados, como FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios).
Lá, os gestores podem buscar produtos que se adequem às suas necessidades e preferências, segundo Souto. “A Bloxs utiliza machine learning e inteligência artificial para entender as preferências dos investidores no buy-side”, diz, sobre o ‘match’ entre as operações e os investidores, que vão encontrar os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) estruturados na plataforma por players do lado da venda.
No sell-side, por exemplo, uma boutique pode ter um ambiente mais estruturado, “utilizando um espaço de trabalho digitalizado que facilita a coordenação de todos os participantes envolvidos na operação”, diz Souto, exemplificando que o cliente pode incluir “advogados e prestadores de serviços para colaborar dentro da plataforma, mantendo todos os documentos atualizados e as tarefas organizadas” diante da estruturação de um papel.
‘Mercado Livre’ do mercado financeiro
Uma das empresas referências para o CEO da startup é a plataforma de e-commerce Mercado Livre. Segundo Souto, a Bloxs almeja se tornar um marketplace voltado ao mercado financeiro, incorporando um ecossistema seguro e confiável, além de ágil. “Temos dois caminhos para ser um marketplace: um onde qualquer um entra e vende o que quer, e outro, o qual almejamos onde você tem lojas oficiais, como uma Apple Store dentro do Mercado Livre”, diz.
Ele vê a empresa uruguaia como um exemplo do que pode ser feito para dentro da plataforma Bloxs. “Podemos ter uma boutique, com sua ‘loja’ oficial, disponível aos investidores”, afirma. Segundo Souto, a construção desse ecossistema não encontra concorrência no Brasil, que ocorre apenas para cada parte que compõe a empresa, como no caso das securitizadora e tokenizadora da startup, ou mesmo das estruturas de integração de serviços, como escrituração, custódia e depósito. “Existem concorrentes para cada serviço, mas não um com todos juntos”.
Emissão de CRI ‘em cliques’
A Bloxs também ambiciona agilizar os processos de emissão de papéis no mercado, como dos CRIs e CRAs. “Quando você fala para as pessoas: Ah, a gente pode encurtar esse prazo,’ existe muito uma resistência de ‘não, não tem como, é impossível’, mas eu acho que a nossa ideia é mostrar que é possível’, diz Souto, usando como exemplo o caso da transformação das CCBs (Cédulas de Crédito Bancário). “Se você, por exemplo, tivesse falado há 15 anos que uma CCB poderia ser gerada de forma digital em questão de minutos, ninguém acreditaria. Hoje isso é uma realidade”, argumenta.
“Então por que não o mercado de capitais também chegar a uma situação em que um CRI, uma nota comercial ou uma debênture também possam ser emitidos com um clique?”, diz, colocando que essa transformação deverá baratear custos, como no caso das cédulas de crédito. “A emissão de CCB começava com precificações de 3% de fee. Hoje, com APIs automizadas, consegue-se cobrar base points“.
Mas no momento, a startup foca em dar um acesso completo aos títulos estruturados, facilitando o monitoramento pelos clientes: “Com a nova plataforma, a emissão de um CRI pode ser gerenciada completamente online, desde a estruturação inicial até a distribuição final”.
Investimento em blockchain mira em futuro do mercado
A Bloxs investiu significativamente em tecnologia blockchain com a visão de digitalizar e automatizar processos no mercado de capitais, visando maior segurança, eficiência e redução de custos. “Imagine um CRI que tenha um lastro em uma terra e, se o pagamento não for realizado, o contrato inteligente pode automaticamente acionar a execução da garantia”, diz.
A empresa estabeleceu em junho uma parceria estratégica com a Bywise, startup focada em soluções corporativas, para desenvolver a rede blockchain ChainMax, adaptada especificamente para as necessidades do mercado de capitais.
A rede foi desenhada para ser interoperável, o que significa que pode se integrar com outras redes blockchain existentes, como a Hyperledger, rede blockchain escolhida pelo Banco Central para a Drex, a CBDC (Central Bank Digital Currency) em desenvolvimento, e a Ethereum.