Quando o mundo desenvolvido se agita, geralmente a América Latina treme. No entanto, nesta segunda-feira, 5 de agosto, para a memória, o fato é que as grandes praças bursáteis regionais estão suportando a sacudida, e não é absurdo se perguntar se os ativos de muitos países da região não são a descorrelação ideal com o resto do mundo.
O colapso das bolsas mundiais impacta especialmente a cotação do dólar, elemento-chave na região.
Brasil: por enquanto, susto é passageiro
Os mercados brasileiros acordaram hoje em estado de agitação. O Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, chegou a cair 2,18% na abertura. No entanto, o índice reduziu a queda para 0,49%. Outro indicador que disparou com o susto geral foi o do dólar.
A moeda norte-americana saltou quase 2% e chegou a ser cotada a R$ 5,86 reais, o nível mais alto desde maio de 2020, no auge da pandemia. No entanto, nesta tarde, o real conseguiu reverter a situação e a moeda brasileira subia 0,11% em relação ao dólar. Cabe destacar, no entanto, que o real já perdeu 17% de seu valor desde o início do ano, situando-se atualmente como uma das cinco moedas mais desvalorizadas do mundo.
Segundo Marcelo Noronha, presidente do Bradesco, os mercados brasileiros exageraram na reação. “Considerar que estamos em recessão apenas com base em dados de emprego me parece uma reação excessiva”, afirmou Noronha durante uma apresentação à imprensa sobre os resultados do segundo trimestre do banco.
México com quedas moderadas
No México, a bolsa de valores e o peso registram um mau começo de semana devido às pressões globais, mas dentro de margens moderadas. O principal índice bursátil do país, o da Bolsa Mexicana de Valores (BMV), recua 1%, situando-se em 51.717 pontos a pouco mais de uma hora do fechamento da sessão.
Segundo o correspondente da Funds Society, Antonio Sandoval, a bolsa do México parece um pouco mais defensiva em relação à sua similar e referência norte-americana, já que em Wall Street se reporta uma queda média de 2,81%, com o índice de ações tecnológicas Nasdaq liderando a queda ao recuar 3,35%.
O peso mexicano até se recupera contra o dólar desde seus mínimos alcançados na sessão asiática e europeia, quando superou a barreira de 20 pesos por dólar. A moeda mexicana está cotada a 19,41 unidades, embora ainda mostre uma depreciação de 1,31% em relação ao fechamento da semana passada.
Mauricio Guzmán, chefe de Estratégias de Investimento da SURA Investments no México, apontou que, embora a volatilidade persista por algum tempo, mantém a visão de uma economia em normalização e continuam esperando que os cortes de taxa para os EUA comecem em setembro, entendendo também que o Federal Reserve conta com ferramentas suficientes para estimular a economia, e que o processo desinflacionário ocorrido até agora lhe dá uma boa margem de manobra. Portanto, mantêm por enquanto a recomendação pela renda variável sobre a renda fixa, enquanto monitoram de perto como analistas a situação no México e no mundo.
Chile, maior aversão ao risco
Os mercados chilenos replicaram as quedas internacionais, ecoando a maior aversão ao risco. A bolsa local, medida através do benchmark S&P IPSA, chegou a um mínimo intradiário de 6.082 pontos a cinco minutos da abertura da jornada bursátil, anotando uma queda de 3,7%. Desde então, a contração se moderou levemente e, a um par de horas do fechamento da sessão, anota uma queda de 3,12%, situando-se em 6.118 pontos.
No mercado cambial, o efeito foi ainda mais tênue, aponta de Santiago Javiera Donoso, correspondente da Funds Society. Os números da Bolsa Eletrônica do Chile mostram que o dólar atingiu um pico de 969 pesos chilenos às oito da manhã, para depois recuar durante a manhã. No momento de escrever esta nota, subia apenas 0,37% – ou 3,5 pesos – até 954 pesos.
“O mercado da América Latina atuou com perdas contidas, mostrando uma resiliência importante que se explica pelos sólidos fundamentos que a região tem e a perspectiva positiva que apresenta frente aos cortes de taxa nos Estados Unidos, o que traria fraqueza para o dólar e fortalecimento das moedas locais. Além disso, os ruídos políticos internos têm se diluído enquanto vemos demanda relevante por parte de locais e internacionais por ativos na América Latina”, explicou à Funds Society Gonzalo Tocornal, gestor de portfólio de dívida corporativa da LarrainVial.
A LarrainVial Asset Management publicava nesta segunda-feira sua visão da dívida corporativa latino-americana, um ativo que na semana passada mostrou um comportamento muito diferente do restante do mercado: “Foi uma semana muito boa para os bônus regionais, que subiram mais de meio ponto em meio à aversão ao risco dos mercados. Os títulos de alto rendimento subiram cerca de 75 pb, liderados pelos subsoberanos petrolíferos como Petrobras e Petroperú, junto com bônus estressados como Intercement e Volcan. Por outro lado, os bônus grau de investimento da região subiram fortemente, especialmente a parte longa dos papéis mexicanos como Bimbo, Televisa e América Móvil (+2,5%), explicado pela queda de 37pb do UST10y a 3,85% em meio a dados fracos de emprego nos EUA, aumentos de taxas no Japão, resultados decepcionantes das empresas tecnológicas no índice S&P e um FOMC sem surpresas”.
Argentina, atentos ao dólar
A volatilidade nos mercados é uma dor de cabeça adicional para os argentinos, já submetidos a uma complexa crise monetária e de dívida. Em entrevista com Marcelo Soba, Fernando Marengo, economista-chefe da BlackToro Global Wealth Management, assinala que a Argentina é uma economia que atualmente está fora dos mercados internacionais e opera com pouco volume. Mas as turbulências poderiam afetar para baixo os preços dos bônus.
Os analistas argentinos estão atentos a várias variáveis: evolução do dólar, preços das matérias-primas e, em geral, uma maior aversão ao risco nos mercados, o que complicaria a chegada de investimentos ao país.