Na vigésima edição de seu seminário anual de investimentos, além de lançar a nova marca com a qual operarão, a gestora Moneda Patria Investments focou nas oportunidades e desafios da América Latina e na tendência que tem atraído a atenção dos mercados nos últimos anos: a inteligência artificial.
No hotel W de Santiago, a empresa apresentou sua nova marca – evidenciando sua integração com a gigante brasileira Patria Investments, ocorrida há algum tempo – para um auditório cheio de profissionais da indústria, incluindo o presidente da Patria, Olimpio Matarazzo, e delegações com representantes do Brasil e do Peru.
“É inegável que o cenário mundial é preocupante”, disse o presidente e fundador da empresa, Pablo Echeverría, em seu tradicional discurso de abertura. O executivo destacou as tensões geopolíticas globais e as vantagens da América Latina, como as energias renováveis, as matérias-primas como lítio e cobre, e o potencial que o nearshoring oferece.
Em seguida, foi a vez do convidado estrela: Ilan Goldfajn, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que delineou o contexto da região, seus desafios e oportunidades.
Ventos Favoráveis
“As pessoas estão impacientes por uma mudança, mas faltam recursos”, disse o especialista, referindo-se a uma região com baixos níveis de crescimento e produtividade. No entanto, as oportunidades existem, em um contexto onde, “ao contrário do passado, há uma maior simetria entre o mundo e a região”, com uma necessidade mútua que abre a possibilidade para um “ponto de inflexão”.
Os avanços em energias renováveis, as vantagens latino-americanas em lítio e cobre, sua natureza e biodiversidade, somados ao contexto de paz em um mundo “polarizado e fragmentado”, pintam um panorama de oportunidade para a América Latina. No entanto, Goldfajn alertou que a região já perdeu oportunidades semelhantes no passado.
O que falta, então? Para o líder do BID, é crucial melhorar as condições de investimento, o estado de direito e a segurança cidadã. Além disso, acrescentou, um componente relevante para melhorar a produtividade está na educação.
Com isso, o profissional ressaltou que o banco multilateral está trabalhando com entidades públicas e, mais recentemente, privadas para incentivar o crescimento e o investimento na região.
A Tendência do Momento
Posteriormente, a atenção do evento se concentrou na inteligência artificial, com a participação de dois palestrantes especializados nessa tendência: Ajay Agrawal, fundador do Creative Destruction Lab (CDL), a maior incubadora de startups de IA do mundo, e Cuky Pérez, economista e cientista de dados chilena que tem trabalhado na implementação dessa tecnologia em empresas como a Airbnb.
Agrawal se concentrou em explicar o princípio fundamental da IA: as previsões. Isso implica usar informações passadas para obter informações futuras, o que pode ser aplicado a uma infinidade de atividades. Assim, a redução do custo das previsões impulsionou o crescimento da inteligência artificial, a ponto de, em 2022, conquistar o “linguagem natural”.
Para além dos avanços da tecnologia, o profissional enfatizou a importância de uma estratégia de IA nas empresas. Ou seja, como essa tecnologia se integra na operação ou funcionamento de uma empresa.
“Estamos apenas começando a perceber o potencial da IA”, disse Agrawal, acrescentando que “é difícil encontrar uma indústria onde não vejamos um enorme potencial”. É difícil também, disse ele, encontrar uma indústria onde não se perceba a diferença entre os atores que adotam a tecnologia e os que não adotam.
Pérez, por sua vez, relatou suas experiências na implementação dessa tecnologia, após 24 anos no Vale do Silício. Na Airbnb, em particular, criaram uma startup interna, o que resultou no lançamento de uma nova linha em 13 cidades, chamada Airbnb Plus, com um modelo de IA para sondar variáveis como comodidades e estilo de decoração.
“Mais do que correr para comprar produtos ou ferramentas, é preciso investir na base”, recomendou a especialista, referindo-se às equipes de TI das empresas. Nessa linha, fez um apelo: “É preciso se obcecar com o problema, não com a tecnologia”.
Realidade Local
Como nos anos anteriores, este seminário contou com apresentações de dois economistas nacionais, que compartilharam suas perspectivas.
José Luis Daza, sócio fundador e CEO da QFR Capital Management, focou no contexto global. O mundo, disse ele, está em uma tendência de menor crescimento e redução da população, com uma maior proporção de idosos.
Sebastián Edwards, professor da Anderson Graduate School of Management da UCLA, por sua vez, focou na perda de liderança regional do Chile e fez um apelo para se concentrar em estimular a economia por meio de três pilares: água, portos e tecnologia e serviços.