A indústria tem estado atenta às mudanças que foram feitas nos limites de investimento dos fundos de pensão no Chile, buscando as oportunidades que abrem em diferentes mercados. Parte disto é o mundo dos mútuos hipotecários endossáveis, negociados na Bolsa de Produtos, onde se espera um boom nestes investimentos.
Parte do pacote de medidas anunciado em meados de abril –junto com a ampliação dos limites das alternativas e a aprovação para fundos de pensão investirem na bolsa de ações da startup ScaleX–, a Superintendência de Previdência, com a aprovação do Banco Central do Chile deu luz verde ao investimento em títulos representativos de mútuas hipotecárias endossáveis residenciais e não residenciais.
“Este é um bom passo para que atores institucionais do porte e da qualidade das AFPs tenham acesso a um instrumento que a Bolsa irá custodiar, securitizar e permitir o acesso a um mercado secundário”, afirma o gerente geral da Bolsa de Produtos do Chile, Christopher Bosler, em entrevista à Funds Society.
Em particular, o executivo destaca que as AFP só poderão aceder a mútuos residenciais em particular de forma indireta, pelo que se espera que a indústria de fundos capte essa procura. “É uma camada importante que os fundos de investimento proporcionam. Têm muita experiência nisso e permitem-nos almejar uma maior diversificação e controlo de riscos, sendo que as funções de administração também são abrangidas pelos fundos”, sublinha.
Isso abriria mais a frente para os fundos de dívida privada, que já são os principais players de um dos mercados mais relevantes da Bolsa de Produtos: o de faturas.
Bosler sublinha que os fundos de pensões já podiam investir em algumas mútuas hipotecárias –e já o fizeram– mas este regulamento reclassifica-os, retirando-os dos “cabazes” de rendimento fixo e alternativos, onde eram anteriormente distribuídos, e deixando-os na área de ativos tradicionais.
“Isso expulsa as cotas da AFP em alternativas, que buscam retornos ainda maiores com riscos adicionais e muitos deles fora do Chile. Esse é o incentivo regulatório: liberar cotas alternativas e permitir que as mútuas hipotecárias endossáveis residenciais e não residenciais concorram com outros instrumentos tradicionais”, explica o executivo.
Isto deixa-os a competir com activos semelhantes –como obrigações bancárias, por exemplo– onde têm uma vantagem, com retornos mais elevados, em vez de outras categorias de alternativas –como infra-estruturas– com retornos mais atraentes.
Um mercado com potencial
Embora o mercado de empréstimos hipotecários endossáveis seja novo na Bolsa de Produtos, o potencial de crescimento que eles vêem nele é grande.
“Hoje, no Chile, os empréstimos hipotecários residenciais são originados na ordem de 12 a 13 milhões de UF por ano, no mundo dos instrumentos endossáveis não bancários. O mundo bancário não endossável é muito maior e deve representar 90% do mercado. Esses outros 10%, que rondam os 1,2 mil milhões de dólares anuais, são o mercado que esta norma pretende impulsionar”, afirma Bosler.
Num mercado onde os originadores do ativo, as sociedades mútuas, vendem principalmente a seguradoras, esta mudança regulatória poderá abrir um novo canal de procura, através de fundos de investimento onde as AFPs possam contribuir.
“Pensamos que os volumes deste tipo de instrumentos de valores mobiliários deverão crescer ao longo do tempo”, prevê o executivo, acrescentando que o limite imposto pela regulamentação ronda os 1% do total dos fundos geridos pelas AFP: isto é, cerca de 1.500 milhões de dólares.
Neste momento, Bosler descreve que os gestores de pensões estão interessados no ativo, onde o espaço das mútuas hipotecárias endossáveis subsidiadas –que têm um risco de crédito quase soberano– já lhes é familiar. “Eles estão interessados, porque lhes permite diversificar a carteira em mútuos não subsidiados, tanto residenciais como não residenciais, ou seja, comerciais”, comenta
Por sua vez, os gestores de fundos também estão interessados no assunto, uma vez que a mudança “tornou o ativo mais atrativo”.
Além disso, o director-geral da Bolsa de Produtos sublinha que a maior profundidade deste mercado e a maior concorrência reduzirão as taxas de financiamento da habitação. Nesse sentido, o executivo assegura que a medida “visa o objetivo de melhorar a questão do acesso à habitação”.
As prioridades do mercado de ações
Depois de ver a implementação da regra que vêm promovendo há alguns anos, a questão dos fundos mútuos – de todos os tipos – continua entre as prioridades da Bolsa de Produtos.
O mútuo simples é um contrato de crédito bilateral padrão, implementado pela regulamentação que obtiveram no final do ano passado no mercado. “A Bolsa de Valores permite um mercado transacional super simples que permite a um investidor ou credor comprar esses títulos de curto prazo”, explica Bosler.
Assim, esta iniciativa – que se destaca pela padronização e potencial– complementa a curva de vencimento dos instrumentos disponíveis na Bolsa. Por um lado, as faturas, com prazos entre 30 e 40 dias; depois, empréstimos mútuos simples, de 60, 90 dias ou mais; e finalmente o crédito à habitação, com prazos de 10 ou 15 anos. “Estamos complementando a gama de produtos por duração”, comenta o executivo.
Agora, a empresa está trabalhando para adicionar garantias reais a empréstimos mútuos simples, como hipotecas, garantias de faturas ou garantias de folha de pagamento de outros instrumentos, para que, eventualmente, os investidores estendam o prazo desses empréstimos.
“O mútuo simples tem tido muito sucesso. As taxas de transação são muito atrativas”, afirma Bosler, acrescentando que desde outubro do ano passado as transações desse tipo de ativo totalizam 70 bilhões de pesos chilenos (cerca de 75 milhões de dólares). “É um produto novo e interessante que vamos promover”, acrescenta.
Seguindo em frente, o profissional antecipa que o desafio é “aumentar a profundidade do instrumento para o comprador, para que mais instituições possam ter acesso a esses instrumentos”. Para isso, estão trabalhando em coisas como mecanismos de avaliação diária de ativos.