Com os pés firmemente plantados em sua terra natal, Lima, a Credicorp Capital vê oportunidades para crescer em seus outros dois principais mercados: Chile e Colômbia. Para isso, conforme delineado pelo CEO da empresa, Eduardo Montero, estão impulsionando diferentes segmentos em suas três principais linhas de negócios — gestão de ativos, mercado de capitais e wealth management, e apostando fortemente na tecnologia.
“Por natureza, somos um grupo originário do Peru e temos uma participação significativa”, explica o executivo em entrevista à Funds Society. Embora eles estejam interessados em continuar fortalecendo seus negócios no Peru, veem mais oportunidades de crescimento — em termos relativos — nos outros dois países andinos. “Na Colômbia e no Chile, definitivamente, temos espaço para crescer muito mais do que já crescemos até agora”, comenta.
Montero apresenta um panorama diversificado de participações de mercado em seus três principais mercados. No Peru e na Colômbia, eles são líderes em volumes negociados na bolsa, indica ele. Em contraste, dados da Bolsa de Santiago para os primeiros nove meses do ano colocam sua corretora chilena em sétimo lugar em ações e oitavo em renda fixa. Na Colômbia, têm a maior corretora do mercado, mas ainda assim veem espaço para crescer.
Na gestão de fortunas, o executivo aponta que possuem uma participação de mercado entre 25% e 30% no Peru, enquanto na Colômbia e no Chile, essa participação gira em torno de 3%. Além disso, enquanto detêm 32% do mercado peruano de fundos mútuos, dados da organização setorial desse setor no Chile — a Associação de Administradoras de Fundos Mútuos (AAFP) — apontam uma participação inferior a 1%.
“No Chile, temos vontade de continuar crescendo e ter uma participação mais relevante do que temos hoje”, destaca Montero.
Em linha com esse objetivo, a empresa peruana traçou sua estratégia para seus principais negócios, aproveitando suas capacidades de investimento, sua estrutura internacional e fortalecendo sua oferta no mercado de capitais.
O encanto dos alternativos
Como muitas casas de investimento em todo o continente, a Credicorp Capital está atenta à tendência de maior demanda por estratégias de investimento em mercados privados.
Além de veículos imobiliários nos três países onde operam principalmente e uma estratégia de infraestrutura — que possuem com um parceiro que atualmente opera no Peru e na Colômbia —, a empresa está expandindo suas capacidades de investimento em dívida privada. Recentemente, lançaram seu segundo fundo desse tipo no Peru, enquanto na Colômbia já possuem um. Agora, o foco está em Santiago: “Há interesse. Temos muito interesse em desembarcar no Chile em 2025 para implementar essa prática”, relata Montero.
“Queremos ser um jogador importante em alternativos”, afirma o principal executivo da empresa, acrescentando que “a expectativa é que o crescimento dos mercados privados duplique o crescimento dos mercados públicos nos últimos anos”.
Além do público-alvo clássico dos mercados privados, os institucionais, a Credicorp Capital está interessada em ampliar o acesso a outros segmentos de clientes, como a banca privada. Atualmente, estão trabalhando para adaptar estratégias que normalmente são desenhadas para institucionais a investidores de menor escala.
Foco em corporativos
No negócio de mercado de capitais, a empresa está apostando no segmento corporativo. “Temos crescido de maneira significativa em uma oferta de cash management para o segmento corporativo”, explica o CEO, onde oferecem soluções como câmbio, mercado de capitais e um fundo de liquidez.
Para fortalecer essa linha de negócios, têm contratado banqueiros e avançado no desenvolvimento de um portal dedicado a clientes corporativos, para que possam realizar transações de forma digital.
Esse negócio é forte na Colômbia, onde foi desenvolvido ao longo dos anos. Recentemente, obtiveram uma licença de corporação financeira no país, o que permite ampliar a proposta de valor para os corporativos, incorporando transações em contratos futuros e outros derivativos de moeda.
Nos últimos 18 meses, implementaram esse negócio no Chile e “está funcionando muito bem”, segundo o executivo.
Por outro lado, Montero ressalta que estão focados em “continuar trabalhando com nossos mercados locais”, onde o desafio é aumentar a liquidez. “O desafio na Colômbia e no Peru é tornar os mercados mais atraentes para que haja mais volume”, comenta.
Nesse sentido, vê com otimismo o impacto que a integração das principais bolsas da região andina — a Bolsa de Santiago, a Bolsa de Valores da Colômbia e a Bolsa de Valores de Lima — no holding nuam pode trazer. “Estamos acompanhando muito de perto o projeto e os desenvolvimentos que estão sendo feitos, porque acreditamos que pode ser uma oportunidade muito importante”, diz.
Além disso, o profissional aponta que o contexto global é favorável, com a queda das taxas de juros em mercados desenvolvidos aumentando a atratividade relativa dos ativos na região.
Uma ponte para o resto do mundo
Ao discutir os planos da Credicorp Capital no negócio de gestão de fortunas, o principal executivo enfatiza o caráter internacional que a estrutura da Credicorp assumiu.
“Nos vemos como uma única empresa que opera em vários países”, explica, com propostas de valor homogêneas para as diferentes linhas de negócios. No caso da gestão de fortunas, o profissional destaca o conceito de conectar “dois mundos”: a região e o plano internacional.
Para isso, têm aproveitado sua plataforma no exterior, ancorada principalmente em Miami. A empresa conta com uma RIA e uma corretora nos EUA, além de seu multi-family office, Vicctus. Também oferecem a possibilidade de captação de fundos a partir do Panamá, onde operam o Atlantic Security Bank.
Além de fornecer acesso internacional a seus clientes, estão interessados em captar fluxos dos EUA para os diferentes mercados da região. “Essa dualidade vamos continuar construindo e avançando, porque acreditamos que é uma vantagem competitiva importante”, aponta.
O esforço para fortalecer a área de gestão de fortunas, que Montero descreve como “uma grande aposta para crescer”, inclui um reforço da equipe de banqueiros no Chile e na Colômbia. “Temos um plano de crescimento em banqueiros para ampliar nossas capacidades de distribuição nesse aspecto”, afirma.
Investir em tecnologia
Outra vertente relevante em seus planos de crescimento é o uso de tecnologia. “Como empresa, temos investido a um ritmo de 16% da receita em tecnologia nos últimos anos”, relata Montero, qualificando o número como “significativamente alto para as empresas”.
Até agora, concentraram-se principalmente na modernização dos “core” de suas diferentes operações, fortalecendo a estabilidade e centralizando as operações. Mudaram o core administrativo contábil de finanças nos três países e o core de gestão de ativos no Peru. Atualmente, estão implementando essa última melhoria na Colômbia, com a intenção de repetir o processo no Chile.
No futuro, Montero antecipa que “o investimento em capacidades para atender melhor os clientes vai aumentar”, melhorando as ferramentas voltadas ao investidor. Isso inclui desde a entrega de informações até plataformas transacionais, entre outros.
Com tudo isso, as iniciativas que o holding financeiro vem impulsionando, a partir de “uma mudança de direção na empresa como um todo” no ano passado, têm dado frutos. “Os resultados da empresa estão aparecendo”, comemora o CEO, com um aumento de quase 50% nos lucros entre 2022 e 2023. Este ano, acrescenta, o crescimento continua em dois dígitos.
“Os resultados no Chile, em particular, estão superando significativamente as expectativas”, destaca o executivo, acrescentando que estão “muito entusiasmados com o que está por vir”.