A alocação em ativos no exterior pelos brasileiros, que atualmente fica numa média de 2% entre os investidores, mostra um percentual abaixo de seus pares globais e latinos. Mas na visão de Paula Salamonde, diretora do segmento institucional e iShares ETF da BlackRock Brasil, e de Cauê Mançanares, CEO da Investo, gestora de ETFs que hoje integra o grupo VanEck, o mercado internacional resguarda boas oportunidades, com estratégias que permitem um potencial de diversificação inexistente em relação aos ativos domésticos, bem como de maior geração de alfa, através de veículos transparentes e de baixo custo, os ETFs.
‘Há várias oportunidades a serem capturadas, com estratégias que complementam a nossa economia doméstica”, diz Salamonde, da BlackRock Brasil, durante o TAG Summit, evento promovido pela gestora TAG destinado a investidores institucionais e multi-family offices. Segundo ela, usando como exemplo o segmento de renda variável, através de ativos no exterior, o investidor tem a possibilidade de acessar várias outras indústrias no exterior, das quais carecemos no Brasil. “Por aqui temos prevalência do setor de commodities, financeiro, com outras tantas indústrias fora do nosso mercado”, diz. Ela afirma ainda que apesar do CDI local atualmente incentivar um ‘home buyance’ ainda maior, no longo prazo é possível gerar mais alfa com ativos no exterior, do que apenas se ficar comprado no mercado local.
“Nos últimos 10 anos, o mercado americano tem constantemente aportado um bom retorno para os investidores que buscaram a diversificação”, diz. “Temos renda fixa pagando prêmios que não víamos há 20 anos nos EUA”, exemplifica. Salamonde afirma que apesar do CDI em alta no Brasil, há um interesse pelos EUA, nas conversas que tem com fundos de pensão, family offices e assets. “Nosso call é a duration média de 3 a 7 anos”, diz sobre a renda fixa dos Treasuries. “Entendemos que dá ao investidor um sweet spot, onde você consegue segurar uma taxa de 4% ao ano, em dólar, enquanto nos títulos de longo prazo há uma volatilidade maior, e nos de curto prazo não há esse retorno”. No entanto, a call da BlackRock vai além dos títulos valorizados pelo Federal Reserve.
Segundo Salamonde, tem chamado atenção da gestora global alguns dados sobre a economia americana. “Temos algo muito particular, que nunca observamos nos últimos 20 anos: cerca de US$ 8 trilhões sentados em money market funds e deposits”, diz, traçando um paralelo com o investidor brasileiro, “os investidores americanos também estão sentados no ‘CDI’, esperando que os mercados se movam, para colocar o dinheiro para trabalhar”. Na visão global, a BlackRock também está atenta à Ásia, segundo a diretora de institucionais. “Temos a bolsa japonesa incentivando as empresas colocando seu dinheiro para trabalhar. Japão é um call nosso desde o ano passado”, diz. “Outro mercado é a Índia, que tem uma questão de valuation muito alto. Tem uma questão de mercado muito favorável a ela”. A China também tem chamado atenção, por altos retornos, mas não é uma call. “Somos conservadores em relação ao país”, diz.
Investo defende estratégia ‘básica’, para estágio inicial
Segundo Cauê Mançanares, CEO da Investo, gestora de ETFs que recentemente foi adquirida pelo grupo VanEck, “se vamos sair de ‘não ter nada do exterior’ para ‘ter alguma coisa’, vamos pegar algo bem básico e generalizado”, sugere.
“Vamos pegar todos os países que conseguirmos, todos os setores, de tamanhos grandes e pequenos. ‘Mas é uma estratégia muito básica’, sim, mas aí você pode adicionar aos poucos essas visões táticas que você traz para o mercado, sempre com essa base coberta e estrutural de alocação”, diz.
Mançanares ironiza os percentuais de alocação no exterior pela indústria de fundos do Brasil. “Por que alocamos 98% de nosso capital num país que representa menos de 0,5% na economia do mundo?”, diz, colocando que todos os países tem um certo viés doméstico, mas no Brasil esse é um dos maiores do mundo. Ele é cético também com um foco muito grande nos EUA, por parte dos investidores.
“Não sabemos o que vai acontecer, se os EUA vão continuar a ter essa hegemonia na próxima década. As coisas evoluem muito rápido, há 10 anos começavamos a usar o Iphone no nosso trabalho”, afirma. Ele diz que se o investidor aportar nos EUA somente pelo fato de que hoje ele representa 60% do mercado global, poderá deixar de fora algo relevante que ocorre no meio do caminho. “Recomendamos fortemente não olhar só para um país”.