Os limites de investimento de fundos de pensões em ativos alternativos no Chile são uma questão que está em cima da mesa há algum tempo, com atores pedindo um aumento desse teto numa categoria de investimento que chama cada vez mais a atenção de gestores e investidores. E depois de uma longa – e inquieta – espera, agora o mercado local pode comemorar a decisão do Banco Central de aumentar gradativamente o teto até 2027, além de incorporar novos investimentos.
Atualmente, a regulamentação estabelece limites entre 13% e 5% dos multifundos – com mais espaço para o fundo A e menos para o fundo E – para ativos alternativos, mas essa faixa aumentará a partir de agosto deste ano. No dia 1 de agosto, essa faixa subirá para 15% e 5%, respectivamente. Aumentando gradativamente a cada 12 meses, o máximo final, de 20% para o fundo A e 6% para o fundo E, entrará em vigor em 1 de agosto de 2027.
O mundo dos gestores especializados comemora a decisão. “Este é um anúncio que esperávamos há algum tempo”, afirma Jorge Prieto, sócio e gestor de carteira da Frontal Trust, enquanto da Associação dos Administradores de Fundos de Pensões (AAFP), a presidente Paulina Yazigi destaca que a decisão “está em “benefício direto aos associados, pois aumenta as pensões.”
Esse é um dos grandes benefícios, segundo os atores locais. Devido à sua natureza de poupança de longo prazo e à sua grande dimensão, os fundos de pensões são excelentes candidatos para incorporar alternativas nas suas carteiras.
E o efeito seria sentido na rentabilidade das carteiras. “Um aumento de 1% na rentabilidade impacta, no médio e longo prazo, um aumento de 20% a 25% na previdência”, enfatiza Yazigi.
Mas não se espera apenas que o benefício chegue aos futuros pensionistas. Os gestores locais – que vêem a classe de ativos com interesse crescente desde que as administradoras de fundos de pensão (AFP) foram autorizadas a investir nestes fundos em 2017 – vêem o desenvolvimento com otimismo, esperando que ele injete dinamismo e novas oportunidades na indústria local.
Efeito na indústria local
Esta medida, dependendo da forma como for canalizada, poderá trazer fluxos relevantes para a indústria. “Tendo em conta o aumento dos limites previsto para agosto de 2024 e considerando a atual exposição dos fundos de pensões, estimamos um aumento significativo dos recursos disponíveis para novas alocações”, explica Susana Gutiérrez, Head of Research and Strategy da HMC Capital, a Funds Society.
As projeções da empresa para o agregado das carteiras indicam que os montantes disponíveis para novos compromissos a nível do sistema poderão passar de 1 bilhões de dólares a 2.5 bilhões de dólares nesse ano. Além disso, Gutiérrez destaca que esse número deverá continuar a aumentar, atingindo 7.7 bilhões de dólares em 2027.
“Estas estimativas sugerem um crescimento contínuo dos fundos acessíveis ao investimento, refletindo uma evolução positiva e um fortalecimento progressivo do setor dos fundos de pensões”, comenta o executivo.
De qualquer forma, a expectativa é que o impacto seja percebido ao longo do tempo. Embora não espere um efeito significativo no curto prazo, dado que os limites não vão se afastar muito dos níveis atuais, Eduardo Befferman, Head de Private Equity & Venture Capital da Activa Alternative Assets, prevê um maior dinamismo no médio prazo. “Abre-se uma oportunidade para os gestores locais oferecerem mais e novos produtos de investimento em ativos alternativos que visam melhorar o retorno dos fundos de pensões no longo prazo”, comenta.
Isto poderia abrir uma oportunidade para os gestores locais, em particular. Embora as AFP tenham privilegiado o investimento em estratégias alternativas no exterior, segundo Prieto, da Frontal Trust, este anúncio leva a pensar que os fundos de pensões “poderiam aumentar a sua participação em ativos alternativos locais”. Claro, destaca o executivo, tudo dependerá da atratividade relativa dos veículos nacionais e internacionais.
Mais competição?
Os ativos alternativos são uma área de interesse dos gestores locais, um espaço que vem crescendo ao longo dos anos e gerando um ecossistema com diversas soluções alternativas. Isto inclui um conjunto de casas de investimento boutique especializadas nestas classes de ativos e o desenvolvimento de soluções multiempresas que tradicionalmente se concentravam em ativos líquidos. Em suma, é difícil encontrar um gestor em Santiago que não fale sobre alternativos, e os números da Associação Chilena de Administradores de Fundos de Investimento (Acafi, por su sigla en español) dos últimos trimestres sugerem que é o espaço mais dinâmico dentro da indústria de fundos no país andino.
Agora, isso significa que um boom na indústria, como resultado dos novos limites das AFPs, irá gerar maior concorrência? Não necessariamente.
“A recente expansão dos limites de investimento em ativos alternativos poderia estimular a concorrência na indústria de gestão de fundos, bem como a entrada de novos players”, comenta Gutiérrez, da HMC.
Além disso, observa ele, os gestores já existentes poderiam mudar o foco. “Essa mudança regulatória poderia incentivar as AFPs a adotarem uma abordagem mais seletiva, o que por sua vez incentivaria os gestores a se diferenciarem de forma estratégica”, projeta o executivo.
Já Befferman, da Activa, destaca que a frente de fornecimento no Chile já está bastante desenvolvida. “A mudança de limites não gerará necessariamente um aumento na diversidade de gestores, porque é um mercado bastante amplo e com muitos atores concorrentes”, explica.
Novos investimentos
O reajuste dos limites alternativos não foi a única novidade que o Banco Central trouxe esta semana. A entidade também incorporou dois novos instrumentos às possibilidades de investimento dos fundos de pensão: fundos mútuos hipotecários endossáveis e ações que são negociadas na plataforma startup da Bolsa de Valores de Santiago, ScaleX.
Os fundos mútuos hipotecários – que são negociados em bolsas de mercadorias –, em particular, são um espaço que tem gerado interesse no mundo dos ativos alternativos, especialmente com o aumento da dívida privada no país andino.
“Na Bolsa de Produtos observamos um aumento na popularidade do empréstimo hipotecário endossável dentro da gama de instrumentos alternativos”, indica o gerente geral da empresa, Christopher Bosler.
“Agora com esta potencial autorização da Superintendência de Previdência, que facilita e melhora o acesso de investidores institucionais, se espera que esses ativos sejam gradualmente adicionados às carteiras de investimentos das AFPs e AFCs (Fundos de Desemprego*), o que atrairá mais capital, impulsionará suas colocações e melhorará a rentabilidade dos futuros pensionistas”, acrescenta.
O executivo destacou ainda que, além de diversificar as carteiras dos investidores institucionais, esta medida tem potencial para injetar liquidez no mercado hipotecário. “A concorrência será incentivada, com taxas de juro mais baixas e condições mais favoráveis para os devedores”, prevê.
*Esse fundos operam no Chile como uma forma de seguro e são destinados a oferecer suporte financeiro aos trabalhadores que perdem seus empregos sem justa causa