A 19ª edição da Aiva Latam Conference, em Punta del Este, Uruguai, foi a ocasião para mostrar o balanço dos 30 anos do escritório, com mais de 300 consultores financeiros convidados, mais de 40 marcas financeiras representadas e uma bateria de inovações em marcha com o objectivo de continuar a crescer.
Num mundo cada vez mais imprevisível, onde os últimos cinco anos, em termos de acontecimentos, foram mais do que muitas décadas, a Aiva quer ser o GPS dos investidores latino-americanos, aquele mecanismo capaz de recalcular constantemente o itinerário, disse no início do evento, Elizabeth Rey, presidente da empresa.
E para isso, a empresa latino-americana sediada no Uruguai se torna cada vez mais rica e complexa: intensifica-se o papel educativo da Universidade Aiva, com a criação de um sistema de mentoria baseado em tecnologia, e incorporam-se ferramentas de inteligência artificial, fortalecendo as relações com a Investec, destacou Agustín Queirolo, Sócio Diretor.
Renda variável no ano da renda fixa
A Natixis IM abriu as apresentações dos gestores com a recomendação de rotação dos setores de investimento nas empresas em tempos de volatilidade. Para isso, recorreu ao índice criado pelo Prêmio Nobel da Economia Robert James Shiller.
“As megacaps sempre ganham no mercado de ações dos EUA? A história diz para não apostar nisso. A verdade é que nos últimos 30 anos investir no S&P nos leva a uma sobreexposição a empresas de grande capitalização e os dados mostram que isso nem sempre dá bons resultados”, afirmou Gabriel Gaione, se apoiando nos dados do índice Siller, que gere uma das marcas boutique federadas pela Natixis: Ossian.
O mercado é cíclico e não recompensa as mesmas empresas pelo mesmo tempo. Além disso, historicamente, vimos que as empresas vencedoras não foram aquelas que desenvolveram a nova tecnologia, mas aquelas que a utilizaram e foram suas maiores beneficiárias. Esta é uma boa lição em relação aos setores da moda, como inteligência artificial, quando empresas farmacêuticas poderiam ser ‘mais interessantes’ quando se trata de investir, do que os próprios desenvolvedores de IA, acrescentou Gaione, gerente de vendas da Cono Sur.
Então, rotatividade setorial, bom trabalho de avaliação e gestão ativa, recomendou Natxis.
A Allianz GI examinou as economias da China e da Índia na sua apresentação, O Tigre e o Dragão: uma história de duas economias.
Malie Conway, Chefe de Clientes Globais e Mercados Crescidos da Allianz, analisou a economia dos dois gigantes globais e parou na China, onde estão sendo feitos investimentos massivos em inovação enquanto se procuram novos mercados.
Mas em termos de crescimento de valor, a Índia poderá ser a próxima China, explicou Conway, já que é atualmente o segundo maior mercado emergente e o quinto maior mercado em termos de ações. Além disso, ao contrário da China, por lá o governo incentiva o investimento financeiro.
O especialista da Allianz concluiu que é importante diversificar, investindo tanto na China como na Índia; a primeira pelo seu enorme potencial e a segunda pela valorização presente e futura.
Schroders, Latam Financial Services e JP Morgan mostraram sua “visão crítica do mercado, com oportunidades e desafios”, em palestra moderada por Patricia Wolf, da Aiva.
Rafael Cantisani, Diretor de Vendas para Argentina e Uruguai da Schroders, destacou que o ambiente deste ano favorece uma abordagem seletiva, saindo do ruído e focando na economia dos EUA com estruturas como o crédito securitizado, que se alavanca no mercado de consumo.
Pablo Mendioroz, diretor executivo da Latam Financial, resumiu os assuntos mais relevantes do ano e os contextualizou.
Assim, considera que acontecimentos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia, provocam quedas acentuadas nas bolsas, cuja recuperação acontece em média em 43 dias, segundo ele, e por isso seu impacto nos investidores é, por ora, limitado. Por outro lado, a inflação, depois de 2022, deixa todos muito sensíveis: “Quando a inflação é maior que 5% nos Estados Unidos, a situação se complica. Mas abaixo disso, não muda tudo, e por isso pensamos que as taxas vão baixar”, disse Mendioroz.
Em terceiro lugar, há eleições nos Estados Unidos este ano, mas, mais uma vez, o impacto no mercado deverá ser limitado.
Neste contexto, para o especialista, o segredo nas ações é procurar ativos em empresas subvalorizadas. E as small caps são uma boa oportunidade num contexto de taxas mais baixas.
Marina Valentini, Vice-Presidente e estrategista da JP Morgan, indicou que, de acordo com sua empresa, este ano haverá uma desaceleração nos Estados Unidos e no Japão, enquanto Europa e China deverão se reativar.
“As oportunidades estão em empresas fora do S&P Magnificent 7”, disse Valentini, que acrescentou preferência pelo Japão, um país com crescimento econômico, fluxos financeiros favoráveis e chegada de reformas corporativas, que irá melhorar as avaliações.
Júpiter, renda fixa global e a oportunidade única na vida
Com Júpiter AM e Harry Richards, Gestor de Investimentos, veio a grande convicção sobre a necessidade de prolongar a duração da renda fixa, um dos grandes temas do momento no mercado.
Depois de várias décadas de taxas de juro fixas, o rendimento fixo está novamente a entrar nas preferências dos gestores de ativos e, como disse Richards, atualmente “pode ser uma oportunidade única na vida” para um investidor.
Santiago Mata, gerente de vendas para a América Latina e os EUA na área offshore, conhecedor do público, propôs “ir direto ao ponto”, colocando os números na mesa: “Se as taxas de juros subirem, podemos ver rendimentos de dois dígitos, mas se isso não acontecer, pode-se esperar 8%”.
E o que é mais interessante, mesmo no pior cenário, se as taxas subirem, o rendimento ainda será positivo.
O tempo e as lições de humildade do mercado
Oscar Isoba, chefe de distribuição para os EUA offshore e América Latina da Brookfield Oaktree Wealth Solutions, enfrentou um público especialmente difícil, que incorpora os ativos alternativos aos portfólios com parcimônia e desconfiança.
Para isso, Isoba destacou os numerosos erros dos analistas (por exemplo, anunciando uma recessão) e como a realidade dos mercados sempre nos torna humildes.
“O sucesso deste negócio depende do tempo, o que é extraordinário é que o sistema está organizado de maneira totalmente contrária a isso. Relatórios a cada três meses, bônus anuais… Algo que deveria ser de longo prazo é, na realidade, de curto prazo”, apontou.
Assim, a oferta da Brookfield Oaktree Wealth Solutions consiste em trazer “coisas diferentes” com duas propostas: crédito privado e infraestrutura, “empacotados” e estruturados para os clientes.
Vanguard e Golden Hind, “o retorno do dinheiro sólido”
Pablo Bernal, chefe de gestão de patrimônio para a América Latina da Vanguard, trouxe uma estratégia de renda fixa junto com a Golden Hind.
“O ano de 2023 foi um ano de consolidação para a renda fixa, começamos a ver os benefícios de ter taxas mais altas, algo que vamos ver novamente em 2024. É muito benéfico para um portfólio ter taxas e penso que a renda fixa recuperou seu poder de diversificação”, disse Bernal.
Para o especialista, a flutuação do tipo de câmbio na América Latina dá muito sentido a investir em renda fixa. Assim, Bernal concordou com a Jupiter que estamos em um momento único para aumentar a renda fixa e a duração nas carteiras.
E quanto à inflação? “A característica do momento é que são taxas reais, não por inflação. A renda fixa volta a ser um ativo que te protege da inflação”, destacou Bernal.
Expandindo limites e as novidades da Aiva
Expandir limites foi o lema da conferência da Aiva, onde se destacou a aliança entre a gestora Golden Hind e a Investec Investment Management.
A Investec assumirá plena responsabilidade na gestão das principais estratégias de investimento da Golden Hind (Cautious, Balanced, Dynamic e Global Trends).
“Juntos, Golden Hind e Investec continuarão buscando oportunidades para ampliar a gama de produtos na América Latina com o objetivo de melhorar a proposta de valor para o cliente”, anunciaram.
Outros parceiros da Aiva, como a StoneX100, destacaram sua oferta de serviços financeiros destinados a garantir a segurança dos ativos. Por sua parte, Ariel Amigo, da Investors Trust, anunciou fortes investimentos em tecnologia e a apresentação iminente de uma nova plataforma que mudará e melhorará sua maneira de trabalhar.