Europa: é a primeira vez que se ouve tanto falar do tema no encontro de asset managers e assessores financeiros independentes, que chega à sua sétima edição totalmente consolidado. Durante dois dias, mais de 44 empresas internacionais analisaram o mercado, seus riscos e oportunidades, com um político onipresente: Donald Trump.
Investir na Europa, mas sabendo que os ativos americanos continuarão dominando os portfólios sul-americanos e isso não vai mudar. Porém, nestes tempos de volatilidade, é necessário diversificar regionalmente. Essa diversificação também ocorre por classe de ativo, e os alternativos são a estrela ascendente do Kick-Off 2025 da LATAM ConsultUs, cada vez mais presentes, enquanto os clientes ainda hesitam e não chegam nem perto de levar suas carteiras aos 20% recomendados por muitos analistas.
Do Mercantilismo do século XVIII ao futuro dos veículos que devemos chamar de “servidor móvel”
O bom do evento da LATAM ConsultUs é que oferece uma variedade de pontos de vista e até mesmo viagens no tempo. A conferência de Jim Caron, CIO do Portfolio Solutions da Morgan Stanley Investment Management, intitulada “Como investir em um mercado plenamente valorizado?”, foi muito além de uma visão tática de como enfrentar o ano-calendário que recém começamos.
Estamos em uma grande mudança secular, e o futuro não se parecerá com o passado recente, mudando a forma como pensamos sobre a alocação de ativos. Seguimos em um “bull market”, mas agora os investidores estão otimistas, em vez de eufóricos, disse o especialista da Morgan Stanley IM.
Na realidade, Donald Trump nos leva a um novo – e, ao mesmo tempo, antigo – Mercantilismo, aquele regime econômico do século XVIII em que parte da riqueza é estática e, por isso, os Estados devem protegê-la. Após a Segunda Guerra Mundial, criou-se o sistema comercial global porque se pensava que o Mercantilismo levava à guerra.
O presidente republicano é parte da equação, mas Jim Caron acredita que os Estados Unidos vivem atualmente algo inusitado: um país hegemônico, com moeda forte e, ao mesmo tempo, deficitário no comércio com quase todos os outros países. Com ou sem Trump, algo precisa mudar, ou o risco de uma crise mundial aumentará.
“Nossa tarefa é reduzir a correlação nos portfólios para estabilizar os retornos.” Nesse sentido, a Morgan Stanley recomenda investir na Europa, já que, segundo o especialista, o Velho Continente “perdeu o desempenho dos últimos 50 anos e há muito a recuperar”.
“Trump é um agente de mudança para a Europa”, acrescentou.
Juan Ramón Caridad, diretor de clientes estratégicos da Pictet AM na Ibéria e na América Latina, protagonizou um grande retorno ao Kick-Off com uma das palestras mais bem avaliadas, ao apresentar uma visão sobre o futuro em andamento.
“É a primeira vez em décadas que a demanda por energia aumenta nos países desenvolvidos”, e a causa é uma mudança fundamental: uma reindustrialização ligada ao big data e à inteligência artificial.
“Parem de olhar para os carros como se fossem apenas veículos. Na realidade, veremos chegar ‘computadores sobre rodas’, verdadeiros servidores móveis totalmente autônomos. E isso não é ficção científica – a maioria de nós estará lá para comprovar.” O problema é que essa transformação consumirá uma enorme quantidade de energia nos próximos cinco anos e, por ora, esse tema é uma verdade incômoda, mas também um eixo de investimento.
Investir em mercados privados e buscar novas tecnologias
Este ano, houve uma forte presença de firmas de ativos alternativos em Punta del Este: a chegada dos fundos Evergreen e uma melhor compreensão mútua do setor impulsionam essa classe de ativos.
Porém, estamos falando de 5%, 10% das carteiras para os mais ousados – a mudança é lenta e os clientes ainda são desconfiados.
Brian Gildea, Head of Evergreen Portfolios da Hamilton Lane, ofereceu uma visão global, destacando que, atualmente, os ativos alternativos estão distribuídos em cerca de 18.500 fundos e 1.500 famílias de fundos.
“Cada vez mais empresas não querem abrir capital. Há 20 anos, era uma medalha de ouro, mas hoje em dia, grandes e boas companhias preferem permanecer privadas”, disse o especialista.
Para Gildea, ficar fora dessa classe de ativos significa perder uma parte significativa do mercado, justamente o setor que está proporcionando os melhores retornos.
Matthew Lamb, CEO da Pacific Asset Management, reforçou essa aposta na modernidade com uma proposta totalmente nova: uma plataforma de gestão de ativos baseada em tecnologia.
“Os asset managers precisam parar de oferecer produtos e passar a fornecer soluções. Devem considerar mais os assessores financeiros e oferecer mais tecnologia”, disse Lamb.
Estados Unidos versus Europa
Assim como os demais palestrantes, Sunita Kara, Global Head of High Yield da AVIVA Investors, insistiu na importância da gestão ativa nesta fase de volatilidade, “que veio para ficar”. Donald Trump e suas políticas voltaram ao centro do debate, e a especialista também defendeu investimentos na Europa, onde os retornos serão “mais previsíveis”.
Amadeo Alentorn, Lead Investment Manager de Systematic Equities da Jupiter AM, repetiu a mensagem e apontou que há uma concentração excessiva no mercado, criando um “efeito manada” entre os investidores.
“Os ‘7 magníficos’ são uma narrativa para ajudar a entender o que está acontecendo, mas essa simplificação não permite perceber que não há um fio condutor entre essas empresas. Por exemplo, hoje a Tesla enfrenta dificuldades”, destacou.
Patricia Justo, Senior Relationship Manager da T. Rowe Price, gestora sediada em Baltimore, compareceu ao Kick-Off para acalmar os ânimos e garantir aos presentes que “é preciso continuar investindo em ações americanas”, pois as empresas do país têm baixo endividamento e continuam sendo líderes globais em tecnologia.
Trump é um líder “pró-negócios” e o consumidor americano tem emprego e dinheiro. Patricia Justo trouxe um dado concreto: as “7 magníficas” continuam se destacando porque, há muitos anos, as empresas americanas vêm lucrando mais. Sem dúvida, é preciso saber como se movimentar, mas para isso existem os gestores ativos, capazes de capturar crescimento em todos os setores.
Pelo segundo ano consecutivo, a Patria Investments defendeu os ativos da região. Diego Gianelli, Diretor de Economia e Estratégia de Mercados Globais, acredita que Trump será menos prejudicial do que aparenta, que o dólar provavelmente se desvalorizará e que a China injetará estímulos em sua economia. Esse cenário é especialmente favorável para os exportadores de commodities.
“De forma consistente, o High Yield da América Latina gera retornos superiores aos do HY americano”, afirmou.
Para Gianelli, as tarifas de Trump serão apenas parciais e temporárias – no fim das contas, uma arma de negociação.