A Moody’s Analytics alertou para os impactos das recentes tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos sobre a economia da América Latina. Segundo o relatório, a administração Trump “ameaçou tarifas sobre o México, Colômbia e Brasil nas duas primeiras semanas de seu governo”. As medidas estão associadas ao déficit comercial dos EUA com a região, ao fluxo de imigração não documentada e às políticas cambiais de alguns países latino-americanos.
A instituição destaca que, embora “Trump tenha adiado tarifas sobre o México e retirado a ameaça de tarifas punitivas contra a Colômbia”, espera-se um aumento significativo na taxa efetiva de tarifas sobre as importações da América Latina. “Os principais pontos de atrito – o grande déficit comercial com o México e a imigração crescente – provavelmente não serão resolvidos apenas por meio de negociações”, afirma o relatório.
O México será o país mais afetado, devido à sua “dependência dos EUA para exportações e investimentos”. A Moody’s prevê que “os EUA acabarão por impor tarifas generalizadas sobre as exportações mexicanas, embora em um nível inferior aos 25% inicialmente previstos”. No entanto, o documento ressalta que o impacto da política comercial americana será sentido em toda a região devido à desaceleração da economia global.
A Moody’s alerta que um agravamento das tarifas pode levar a América Latina a uma recessão. O relatório afirma que, em um cenário de elevação de “10 pontos percentuais na tarifa efetiva dos EUA sobre o México e o restante da América Latina”, haveria “uma contração generalizada na região, com queda na produção, aumento do desemprego, inflação elevada e colapso do comércio”.
A política tarifária também afeta o Brasil, especialmente devido aos esforços do governo de “buscar alternativas ao dólar para transações comerciais e financeiras internacionais”. Segundo a Moody’s, “as tentativas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de promover o uso do renminbi e de outras moedas dos BRICS despertaram a ira da administração Trump”.
O relatório também aponta preocupações com as tarifas sobre o aço e o alumínio. “As tarifas sobre aço e alumínio anunciadas esta semana, com entrada em vigor prevista para março, adicionam mais incerteza ao cenário econômico global”, afirma a Moody’s. O México e o Brasil são, respectivamente, o segundo e o terceiro maiores fornecedores de aço para os EUA, e a medida pode impactar suas economias, embora “o efeito macroeconômico não deva ser expressivo, pois o aço representa menos de 1% das exportações totais do México e cerca de 5% das do Brasil”.
A Moody’s conclui que, caso o conflito comercial se intensifique, a recessão global se tornará inevitável. “Em um cenário de tarifas mais agressivas, com a taxa efetiva entre EUA e México e entre EUA e Brasil subindo para 20%, e a tarifa sobre importações chinesas chegando a 40%, a economia global rapidamente entraria em recessão, com impactos desproporcionais sobre a América Latina”. O relatório projeta que, nesse caso, “as economias da região só recuperariam suas perdas de produção e emprego por volta de 2028”.