Apesar de todos os debates gerados ao longo de 2024 sobre as dificuldades econômicas e financeiras da China, os bônus denominados em renminbis têm se comportado extraordinariamente bem nos principais mercados globais. Acreditamos que continuarão a se comportar bem em 2025. Nesse contexto e após um ano turbulento e cheio de desafios para o gigante asiático, qual poderia ser o cenário econômico que espera o país?
Para responder a essa pergunta, é importante analisar a magnitude e o alcance das últimas políticas de estímulo aplicadas pelo governo de Pequim. Embora possam ser classificadas como enérgicas e decididas, são, na verdade, de natureza “defensiva”, já que visam mitigar os riscos de cauda, em vez de impulsionar indefinidamente a economia.
Essa situação é bastante distinta do que foi tentado pelo BCE sob a liderança de Mario Draghi, ou o que a própria China fez após a Grande Crise Financeira de 2008. Assim, é provável que políticas potentes sejam aplicadas em breves episódios, conforme a economia mostre sinais de perda de fôlego. Mesmo assim, Pequim dará atenção especial para não reacender a bolha imobiliária e evitar os problemas de risco “moral” que afligem os governos locais.
Por outro lado, os controles de capital, ainda rígidos, têm contribuído para manter a correlação negativa entre renda fixa e renda variável na China. Nesse sentido, o desempenho positivo dos bônus em renminbi, em meio a essa conjuntura econômica complexa, é, em parte, resultado dos controles de capital que retêm o capital dentro do país. Uma medida que pode ser ineficaz em alguns casos, mas que tem demonstrado sua utilidade em momentos de tensão.
Na verdade, se classificarmos todos os ativos disponíveis no mundo em momentos de grande dificuldade, o ativo-refúgio número um são os bônus chineses denominados em renminbi, que superaram até mesmo o ouro e os bônus do Tesouro dos EUA, de acordo com nossos cálculos. Além disso, ao analisar a crise da dívida dos governos locais chineses, sugerimos que os investidores considerem as dificuldades atuais da China como equivalentes à crise da dívida enfrentada por nossa região. Se a Europa conseguiu superar, por que a China não conseguiria?
Quanto às perspectivas para sua moeda, o renminbi tem boas avaliações. Seu desempenho e a taxa de câmbio com o dólar serão determinados mais por considerações políticas do que por uma lógica puramente mercantilista. Nesse sentido, muitos acreditam que, caso as tarifas afetem as exportações chinesas, Pequim deveria devaluar o renminbi, como fez em 2018, para minimizar o impacto dessas medidas.
No entanto, suspeitamos que, neste cenário, os Estados Unidos não permitiriam que a China devaluasse sua moeda novamente. Além disso, dado que a fragilidade dos ativos de risco chineses é muito maior agora do que em 2018, a China não teria interesse em devaluar o renminbi, o que prejudicaria ainda mais a confiança. Em qualquer caso, o “preço sombra” do câmbio dólar/renminbi para a economia real é, em nossa opinião, muito mais baixo do que o atual, pois a balança comercial da China, que deverá alcançar este ano 1,0 trilhão de dólares (Datastream), é notavelmente grande e, teoricamente, deveria pressionar o câmbio dólar/renminbi.
Ao mesmo tempo, o preço sombra do dólar em relação ao yuan para os mercados financeiros pode ser mais elevado. De qualquer forma, o centro de gravidade do dólar/yuan está abaixo da taxa de câmbio à vista, e qualquer normalização das relações econômicas e políticas entre China e Estados Unidos provocaria uma correção significativa do câmbio, e não um novo aumento, como muitos acreditam.
Em resumo, e considerando os fatores expostos, podemos continuar a ver os bônus em renminbi como uma grande fonte de valor, capazes de gerar retornos totais extraordinários. Esses instrumentos têm se comportado de maneira sólida e constante ao longo dos anos, em contraste com a visão predominantemente negativa sobre todos os ativos chineses.
Embora seja provável que os rendimentos da renda fixa estejam próximos do fundo, os fatores que impulsionariam os rendimentos para cima provavelmente serão moderados devido à natureza defensiva das políticas de estímulo. Além disso, a maior parte dos indicadores sugere que a relação dólar/renminbi deve se comportar de acordo com decisões políticas, e não com tentativas mercantilistas.
Coluna elaborada por Stephen Li Jen, CEO da Eurizon Capital SLJ.