O mundo vive um novo cenário, marcado por um ciclo de cortes nas taxas de juros por parte dos principais bancos centrais dos mercados desenvolvidos, mas também de regiões emergentes. Segundo os especialistas, desde o último trimestre, a maioria das instituições monetárias tem adotado uma postura mais cautelosa.
O melhor exemplo disso é o Fed (Federal Reserve), que voltou a focar na inflação, pois a atividade econômica continua firme, enquanto a desinflação estagnou.
“O Fed mantém seu enfoque dependente dos dados e está começando a direcionar sua atenção para o mercado de trabalho, portanto, acreditamos que as condições do mercado de trabalho poderão definir o caminho para suas futuras decisões políticas. De forma similar, o Banco da Inglaterra e o Banco Central Europeu também cortaram as taxas de juros em 25 pontos base no terceiro trimestre de 2024, com ênfase na dependência dos dados e sem se comprometer com um caminho específico para as taxas”, explicam da Capital Group.
De acordo com as perspectivas da Invesco para este ano, as taxas de juros permanecem, em geral, restritivas nas principais economias, mas estão sendo flexibilizadas. “Por um lado, é provável que o Fed se torne neutro até o final de 2025, mas a melhora nas perspectivas de crescimento pode adiar os cortes. Por outro lado, os bancos centrais europeus estão flexibilizando suas políticas, com um crescimento relativamente mais fraco que o dos EUA”, indicam.
Divergências na política monetária
Essa realidade nos leva a uma primeira conclusão: sim, estamos em um ciclo de queda nas taxas, mas veremos certas divergências entre as políticas monetárias dos principais bancos centrais. Na verdade, a Capital Group acredita que essa divergência continuará a ser um fator relevante nos próximos meses. Isso é refletido no relatório Central Bank Watch, elaborado pela Franklin Templeton, que revisa a atividade dos bancos centrais das nações do G10, mais dois países adicionais (China e Coreia do Sul), e suas previsões.
De acordo com o relatório, a mudança de postura do Fed voltou a focar na inflação, uma vez que a atividade econômica segue firme enquanto a desinflação estagnou. “É provável que as políticas do presidente eleito também impactem as previsões para as taxas de juros do Fed, que só prevêem dois cortes em 2025. Do outro lado do Atlântico, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra observam um crescimento insuficiente, mas mantêm cautela quanto ao futuro das taxas de juros, já que as incertezas internas e geopolíticas continuam elevadas”, indicam.
“É provável que a divergência nas políticas monetárias continue a ser um fator relevante nos próximos meses. O Banco do Japão continua sendo a exceção nos mercados desenvolvidos, pois iniciou um ciclo de aumento das taxas de juros para pôr fim a uma era de taxas de juros negativas. Mantemos uma abordagem relativamente prudente em relação às taxas japonesas, dada a possibilidade de o banco central fazer novos ajustes em sua política, em resposta a pressões sobre a moeda. Na Europa, o trajeto de flexibilização da política monetária pode depender de quão importante os responsáveis políticos consideram os riscos de queda no crescimento, em comparação com o ritmo e a progressão das pressões salariais e da inflação nos serviços”, afirmam na Capital Group.
Outra conclusão do relatório da Franklin Templeton é que “a maioria dos bancos centrais se tornou mais cautelosa do que há um trimestre”. Segundo sua análise, embora o Banco do Canadá tenha cortado novamente sua taxa de referência em 50 pontos base em dezembro, esse pode ser seu último grande movimento. “O Riksbank também parece adotar uma postura mais neutra, e acreditamos que o Banco da Reserva da Nova Zelândia terá que aplicar menos cortes do que o mercado está projetando. Por sua vez, o Banco Nacional da Suíça e o Banco Popular da China continuam sendo os mais moderados”, destacam sobre o comportamento de outras instituições monetárias importantes.
Por fim, o documento destaca que alguns bancos centrais enfrentam uma série de dilemas. “Acreditamos que o Norges Bank cortará as taxas, provavelmente no primeiro trimestre, seguido pelo Banco da Reserva da Austrália no segundo trimestre. Ambos foram os últimos a se juntar à tendência de flexibilização. Por sua vez, o Banco do Japão provavelmente continuará subindo as taxas em 2025, embora de forma gradual, embora acreditamos que a rigidez da inflação dê ao banco central uma margem ampla para se tornar mais agressivo.”