As últimas previsões do Fundo Monetário Internacional indicam que, enquanto o crescimento das economias avançadas “está desacelerando ligeiramente” para 1,5%, as economias emergentes “experimentam um crescimento estável” de 4,1%. Além disso, as gestoras concordam que os emergentes desfrutam de fundamentos sólidos e valorações exigentes, além de terem liderado a normalização monetária. Isso fez com que as firmas de investimento tenham dado um papel privilegiado em suas perspectivas para o segundo semestre aos mercados emergentes.
Na opinião de Mali Chivakul, especialista em mercados emergentes para J. Safra Sarasin Sustainable AM., as moedas latino-americanas foram afetadas por preocupações fiscais e institucionais. Por exemplo, ele aponta que, no Brasil, o iminente risco fiscal foi ignorado pelos mercados nos primeiros meses do ano. No entanto, à medida que o tempo passa, ficou claro que o Brasil não conseguirá atingir este ano a meta fiscal de déficit primário zero sem alguns cortes importantes nos gastos.
“O real brasileiro perdeu 12,5% no acumulado do ano, a maior queda entre os principais mercados emergentes, apesar do bom andamento de sua economia”. Ele afirmou que o anúncio de cortes orçamentários, como o congelamento de R$ 15 bilhões comunicado pelo governo, pode ajudar a reverter o quadro. “Sem cortes credíveis e um novo compromisso com as normas fiscais, o real provavelmente permanecerá no nível atual”, explica.
Corte do Fed deve beneficiar emergentes
Na opinião de Álex Smith, responsável por especialistas de investimento em renda variável asiática da abrdn, é provável que os cortes de taxas nos EUA, que se espera que comecem em algum momento de 2024, apoiem os países emergentes. Nesse sentido, ele argumenta que a história demonstrou que os mercados emergentes e asiáticos tendem a superar os americanos quando o Federal Reserve (Fed) corta as taxas. “Isso ocorre porque, além do apoio político, seu potencial de crescimento e benefícios é maior, suas valorações são mais atraentes e, em um ciclo de corte de taxas, estão expostos a moedas com maior carry – ou seja, a rentabilidade obtida por manter essas moedas – em relação ao dólar americano”, explica.
Em contrapartida, podem ser desfavorecidos pela força do dólar, que pressionou ainda mais as moedas desses mercados, após um desempenho fraco no primeiro trimestre. “Embora não prevemos um fortalecimento do dólar a partir de agora, dada a desaceleração da atividade nos Estados Unidos e a queda gradual da inflação, também não esperamos que o dólar se enfraqueça muito até o final do ano. Nosso objetivo para o dólar no final do ano é apenas 1% abaixo do nível atual. Isso implica um movimento lateral para as moedas emergentes até o final do ano. No entanto, houve uma série de riscos idiossincráticos derivados das eleições que influenciaram essas moedas e poderiam fazê-las variar ainda mais”, aponta Chivakul.
O comportamento das moedas
Ao identificar qual foi a moeda mais atraente, o especialista da J. Safra Sarasin Sustainable AM aponta para a lira turca, que é a moeda que ofereceu o maior carry de todos os mercados emergentes. “Desde fevereiro, observamos uma nova melhora da inflação e das expectativas de inflação. A dolarização caiu e os balanços comerciais melhoraram. A taxa real (ex ante) aumentou significativamente. A taxa de câmbio dólar – lira turca estabilizou em torno de 32 após as eleições locais de março, devido principalmente às entradas de capital estrangeiro. Embora a moeda ainda precise se corrigir mais, continuamos esperando um bom verão e um carry elevado para compensar qualquer depreciação até o final do ano”, comenta.
Por fim, destaca que a Ásia tem sido a região com maiores desvantagens de carry, onde ainda há pressões sobre a maioria das moedas. “Embora não haja motivos para que o Banco Popular da China desvalorize o yuan chinês (CNY), é provável que se deprecie lentamente durante o segundo semestre. No entanto, as possíveis tarifas americanas poderiam enfraquecê-lo muito mais até o final do ano. A fraqueza do CNY geralmente se traduz também em fraqueza regional. Esperamos que a rúpia indiana se mantenha mais ou menos estável, dadas as maiores entradas no mercado local de títulos e a intervenção do Banco de Reserva. A rúpia indonésia continuará sob pressão enquanto o dólar permanecer forte”, resume sobre os principais mercados.
Melhores rendimentos
Considerando essa imagem macro, o responsável por especialistas de investimento em renda variável asiática da abrdn aponta três fatores que explicam por que os mercados emergentes podem oferecer melhores resultados do que os mercados desenvolvidos. O primeiro motivo tem a ver com a política monetária dos EUA e a probabilidade de que o Fed baixe as taxas. “Quando as taxas são elevadas, seus mercados sofrem. No entanto, os países emergentes contam agora com posições de conta corrente e reservas mais sólidas, o que os ajudou a evitar outro taper tantrum desde que o Federal Reserve começou a subir as taxas de juros. Em muitos países emergentes, a inflação está nos níveis desejados, então vários bancos centrais já adotaram medidas de relaxamento monetário e estão se adiantando ao Federal Reserve”, aponta Smith.
Em segundo lugar, destaca que as valorações dos mercados emergentes são muito atraentes. Especificamente, a renda variável emergente está atualmente negociando a um P/L de 14,4 vezes, em comparação com 19 vezes dos mercados desenvolvidos. Isso implica que há espaço para que os mercados emergentes voltem a ser alvo de uma rotação significativa. Em relação à renda fixa, afirma que o grau de investimento dos países emergentes oferece um prêmio de spread de cerca de 50 pontos base em relação aos seus equivalentes dos mercados desenvolvidos, enquanto o alto rendimento dos países emergentes oferece um prêmio de spread de mais de 125 pontos base em relação aos de classificação semelhante dos mercados desenvolvidos.
“Essa situação é reforçada por perspectivas de crescimento encorajadoras. Segundo o Fundo Monetário Internacional, espera-se que as economias emergentes cresçam a um ritmo médio de 4% em 2024, em comparação com apenas 1,4% das economias avançadas. Essa evolução se explica parcialmente pela mudança no destino do capital que é investido nos mercados emergentes ricos em recursos”, argumenta o especialista da abrdn.
Por fim, destaca que os investidores estão voltando a focar nos fundamentos, o que favorece os mercados emergentes. “Os balanços das empresas dos mercados emergentes saíram reforçados da pandemia, refletindo a posição dominante que ocupam em seus mercados internos e regionais (e até globais). No passado, os investidores ignoravam empresas de muito boa qualidade dos emergentes, tanto em renda variável quanto em renda fixa, devido ao seu país de origem”, explica Smith.
Além disso, adverte que as classificações de crédito dos países emergentes estão limitadas pelo rating soberano do seu país de origem, o que contradiz a força subjacente do emissor. “Os eventos do passado levaram os investidores a evitar o espaço chinês de high yield, apesar de existirem empresas com lucros robustos semelhantes aos das empresas de serviços públicos, balanços sólidos e linhas de financiamento diversificadas. O investimento nos mercados emergentes oferece muitas oportunidades aos investidores que buscam investir em empresas estáveis e de alta qualidade a valorações pouco exigentes”, conclui o especialista da abrdn.
Oportunidades de investimento
A Amundi considera que os mercados emergentes podem superar os desenvolvidos em 2024, pois muitos dos fatores que frearam essa classe de ativos, como as altas taxas de juros, estão diminuindo progressivamente. “Desde a dívida corporativa dos mercados emergentes até o mercado de títulos indiano, passando pelas ações de crescimento e geradoras de renda, as oportunidades se estendem por toda a classe de ativos”, citam como principais oportunidades.
Em específico, em renda variável, a Amundi sustenta que os mercados emergentes oferecem oportunidades interessantes e valorações relativamente atraentes se comparadas aos EUA. “Favorecemos a América Latina e a Ásia, destacando a Índia devido ao seu robusto crescimento e trajetória de transformação”, apontam. No caso da renda fixa, a Amundi acredita que há uma oportunidade histórica nos títulos de mercados emergentes para aproveitar as oportunidades históricas e se preparar para uma pronunciação estrutural da curva. “Em meio a uma volatilidade ainda elevada nesta fase desinflacionária, favorecemos os títulos governamentais e o crédito investment grade. Os títulos de mercados emergentes se beneficiarão da flexibilização do Fed e os títulos em moedas locais se tornarão atraentes à medida que o dólar americano perca força”, argumenta a gestora em suas perspectivas semestrais.