Alexandre Sabani, Gestor da Perfin Equities
Alexandre Sabani destacou que, apesar do ciclo difícil para ativos de risco, o momento atual do mercado apresenta características únicas em comparação com crises anteriores, como a de 2014/2015. “Nossa situação de contorno é muito mais fácil em relação a outras crises, a gente está se afogando num copo d’água”, diz, parafraseando uma citação do banqueiro André Esteves.
Ele ressaltou a importância de acompanhar a confiança no Banco Central e a execução de políticas de risco, que podem ser grandes gatilhos para um período de crescimento no mercado de ações nos próximos anos. “Se o BC manter credibilidade na busca pela meta de inflação e mostrar minimamente uma disciplina fiscal, a gente entra num ciclo virtuoso muito grande na bolsa”, afirma.
O economista considera que apesar do Ibovespa estar em torno de 120 mil pontos, os múltiplos das empresas estão mais comprimidos, refletindo uma atividade econômica mais saudável. “A atividade econômica está levando ao crescimento dos lucros das empresas, mesmo que os gatilhos políticos e econômicos não se concretizem”, afirmou Sabani. Ele destacou que, ao contrário de 2015, quando muitas empresas estavam em dificuldades financeiras, as companhias atualmente apresentam saúde financeira robusta.
Nossa situação de contorno é muito mais fácil em relação a outras crises, a gente está se afogando num copo d’água”, afirma.
Alexandre Manoel, Economista-Chefe da AZ Quest
Alexandre Manoel manteve uma visão construtiva sobre os fundamentos econômicos do Brasil no médio prazo, destacando as surpresas positivas, como a introdução do arcabouço fiscal, e que uma eventual piora dos cenários fiscais, com uma pressão maior em cima do Banco Central seria um “suicídio econômico” para o governo.
“A gestora continua construtiva com os fundamentos no Brasil no médio prazo, diante desse desafio que se apresenta, por basicamente um motivo: partimos do princípio que o Lula é um sobrevivente pragmático”, afirma. Ele vê os ativos brasileiros ‘muito depreciados’, porém considera o governo “comprometido com a parte fiscal e tributária”. “Os sinais negativos não se concretizaram naquilo que era a maior preocupação para os investidores”, pondera.
Para o economista, são necessárias algumas indicações para reverter a situação atual. Primeiro, o Banco Central precisa mostrar comprometimento com a meta de inflação, o que deve acontecer quando o futuro presidente do BC for indicado. Ele afirma que após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que dividiu os votos dos diretores, o mercado absorveu negativamente o evento, considerando que em 2025 “quem vai ser o presidente do BC será o Lula”.
Ele afirma que para manter a credibilidade da autoridade monetária, seria necessário ter um nome visto como técnico e não político. Nesse sentido, a possibilidade de o atual diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, ser indicado seria positiva, considera Manoel. “Agora o mercado quer o Galípolo no Banco Central”, diz.
Outro ponto crucial é o governo acenar com um compromisso fiscal. “Aí vai ter de contingenciar algo como R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões e mostrar que não vai afrouxar o fiscal”, disse Manoel. Além disso, ele sugeriu que uma reforma nas despesas obrigatórias, como a desvinculação de benefícios do salário mínimo, é essencial para assegurar a sustentabilidade do arcabouço fiscal.
Sem essas sinalizações, “o mercado tem cada vez mais convicção que o próximo passo [do governo] vai ser alterar o compromisso com o arcabouço fiscal e afrouxar o limite atual de gastos”, alertou Manoel. Segundo ele, seria muito ruim haver uma mudança do limite atual de 2,5% de crescimento do gasto para algo como 3% ou 4%, “ou seja, furar o teto novamente”.
Para Manoel, “o que mais conquistou o mercado na proposta do arcabouço foi a colocação de um limite de despesas, e agora ficou claro que o arcabouço não se sustenta só com aumento de receitas”. Ele avaliou como “vitoriosa” a agenda de aumento de receitas do governo, que conseguiu 1% do PIB de arrecadação, mas criticou a falta de compromisso com a redução de despesas e o cumprimento das metas fiscais.
Fernando Monteiro, Gestor de Multimercados da Bradesco Asset Management
Fernando Monteiro enfatizou a importância da diversificação e da gestão de riscos nos fundos multimercado. Ele destacou que, apesar da incerteza global, o ambiente atual oferece oportunidades significativas para o Brasil, especialmente com a expectativa de cortes nas taxas de juros em economias desenvolvidas.
Monteiro apresentou dados históricos que mostram o desempenho superior do IMA-B 5 em relação ao CDI nos últimos 20 anos, reforçando a tese de investimento de que momentos de redução de taxa são favoráveis para otimizar o retorno das carteiras. “Estamos próximos de ver o copo meio cheio, com um ciclo econômico propício para posições em ativos de renda fixa”, afirmou, colocando que o momento é uma “oportunidade para potencializar os retornos das carteiras em um ciclo de redução de taxas de juros na economia global”.
O gestor afirma que a indústria de multimercados obteve resultados positivos em relação ao CDI, mesmo num ambiente de incerteza global, e que a expectativa é que a queda global de juros chegue nos Estados Unidos. “Temos um ciclo de cortes que já começou na Europa, Suíça e Canadá, e que vai chegar aos EUA”, afirma.