A dívida privada se consolidou como um mercado resiliente e diversificado, segundo o último relatório elaborado pelo Union Bancaire Privée (UBP). “Dizem que a dívida privada surgiu como classe de ativo após a crise financeira mundial. A contração dos empréstimos bancários, combinada com o relaxamento quantitativo e a política de taxas de juros zero, criou condições em que tanto mutuários quanto investidores recorreram à dívida privada. Esta perspectiva da dívida privada, na qual se trata de uma classe de ativo relativamente nova, associada a condições específicas de política monetária, leva a questionar a sustentabilidade da dívida privada e, em particular, como continuará sendo relevante para mutuários e investidores agora que as taxas de juros se normalizaram”, explicam.
Nesse sentido, sua resposta é clara: a entidade espera que a dívida privada continue evoluindo e crescendo. “Esse crescimento continuará enquanto houver uma oferta insuficiente de financiamento bancário e existirem intermediários financeiros não bancários, como fundos, para canalizar financiamento a possíveis mutuários. Em particular, embora o período de baixas taxas de juros tenha impulsionado o crescimento da dívida privada, seu crescimento contínuo não depende de nenhuma política monetária em particular. Durante a última década, os empréstimos diretos e, em menor medida, os imóveis comerciais, foram os segmentos dominantes dentro da dívida privada”, explicam no relatório.
Além disso, estão convencidos de que os investidores buscarão se diversificar cada vez mais, afastando-se desses segmentos e favorecendo aqueles que oferecem tanto resiliência quanto retornos atraentes. “Acreditamos que os setores da economia real, como os imóveis residenciais e o financiamento respaldado por ativos, satisfazem esses requisitos e atrairão investidores. A originação será um diferenciador importante entre os gestores de ativos. A economia real é mais fragmentada do que o mundo das firmas de capital privado ou dos imóveis comerciais. Originar transações na economia real exigirá capacidade de originação, através da qual os gestores de ativos se diferenciarão”, argumentam.
Aprofundando nos ativos
É curioso, mas a dívida privada existe há mais de 4.000 anos em diferentes formas, graças à sua própria natureza: é negociada de forma privada entre o mutuário e o credor. «O ponto forte da dívida privada é sua diversidade de estratégias e transações. Sua longevidade deve-se à sua flexibilidade e à forma como pode se reinventar para novas oportunidades de financiamento. O recente crescimento da dívida privada deve-se à escassez de empréstimos bancários e à evolução dos intermediários financeiros não bancários. Esperamos que a dívida privada continue crescendo e, em particular, que o faça em estratégias distintas das que foram preeminentes na última década», aponta o relatório da UBP.
Nesse sentido, uma das conclusões do relatório é que o aumento da demanda por dívida privada entre os mutuários é impulsionado por uma mudança na oferta de crédito por parte do sistema bancário. «Na ausência de uma mudança na oferta de crédito bancário, que acreditamos ser pouco provável, a demanda por dívida privada continuará crescendo», insistem. Isso provocou que o crédito direto ou direct lending seja o segmento que mais cresceu, segundo os dados da Preqin, seguido pela dívida em dificuldades, dívida imobiliária e dívida mezzanine.
Outra das conclusões destacáveis do relatório da UBP é que o direct lending tem dominado a narrativa em torno da dívida privada desde a crise financeira global. «Os gestores de fundos de capital de risco têm sido capazes de mobilizar uma enorme quantidade de capital para o financiamento de transações, o que resultou na originação de mutuários por parte das empresas de capital de risco. Cada vez mais, segundo o relatório, os gestores de fundos buscam diversificar-se, afastando-se desse tipo de empréstimos apoiados por patrocinadores e dirigindo-se a outros setores, como o financiamento respaldado por ativos», explicam.
Por sua vez, o relatório indica que provavelmente os investidores em fundos de empréstimo direto tenham uma exposição indireta ao setor de capital de risco. «Observamos relatórios recentes de um atraso nas saídas de capital de risco e um aumento dos empréstimos nas empresas de portfólio para financiar os dividendos das empresas de capital de risco e os pagamentos aos seus investidores. É muito provável que esses relatórios reflitam ciclos de curto prazo, mas servem para lembrar que a originação de transações é um fator determinante da diversificação», destacam.
A demanda por crédito privado
Na opinião da UBP, nem todos os investidores têm a resistência necessária para manter suas alocações de investimento durante os períodos de vendas no mercado. «Uma alocação à dívida privada oferece diversificação em relação aos mercados de dívida pública. Dentro da dívida privada existem muitas oportunidades de diversificação, e os quatro grandes segmentos oferecem diversificação entre si e em relação aos mercados de dívida pública. Pode-se encontrar uma maior diversificação fora dos empréstimos diretos apoiados por patrocinadores e do financiamento imobiliário comercial. Acreditamos que os investidores se sentirão cada vez mais atraídos por outras estratégias», indica o relatório.
Por último, o relatório indica que a expectativa do mercado é que a transição para taxas de juros normalizadas foi completada e que as taxas de curto prazo atingiram seu máximo. Isso implica que os comentários do mercado passaram a focar em quando as taxas começarão a cair e quão rápido isso acontecerá, e, diante disso, os mercados de títulos já se moveram. «Os spreads de crédito caíram significativamente, antecipando melhores tempos pela frente. No entanto, alguns setores ainda precisam emergir da transição e provavelmente continuarão enfrentando ventos contrários. Para os mutuários altamente alavancados, não é suficiente que as taxas tenham atingido seu pico; eles precisam que as taxas caiam. No setor imobiliário comercial, pode levar alguns anos para superar o excesso de oferta e a lacuna de financiamento. Acreditamos que faz sentido investir agora, ao entrar em um período de queda nas taxas. No entanto, sugerimos que é melhor escolher aquelas estratégias que não dependam de uma queda rápida das taxas, sejam menos alavancadas e não se espera que enfrentem ventos contrários nos próximos anos», concluem da UBP.