Em meio a um cenário econômico global volátil, a decisão do Federal Reserve (Fed) sobre as taxas de juros desta semana deve vir sem novidades, segundo economistas de várias instituições ouvidos pela Funds Society. Eles indicam que o Fed deve manter os juros inalterados, refletindo uma postura cautelosa diante de dados econômicos mistos e pressões inflacionárias persistentes.
André Diniz, economista da Kinea, destacou que, desde a última reunião do Fed, os dados de inflação mostraram uma leve melhora, mas os números de emprego apresentaram resultados variados, mantendo a média sem grandes mudanças. “A comunicação do Fed deve manter um tom cuidadoso, sem pressa para cortes de juros, e focada na observação dos dados econômicos. Espera-se que as novas projeções econômicas reflitam uma abordagem conservadora, com a possibilidade de cortes de juros apenas no último trimestre do ano”, explicou Diniz.
Matheus Spiess, da Empiricus Research, também compartilha dessa visão. Ele observou que o contexto econômico global tem sido dominado pela política de juros dos principais bancos centrais, com destaque para o Fed, que mantém as taxas de juros elevadas em um esforço para controlar a inflação. Spiess mencionou que a reunião do Fed coincidirá com a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI), que, sob a gestão de Jerome Powell, ganhou maior relevância. “A decisão do Fed deve refletir os dados robustos da economia americana, mantendo uma postura cautelosa e conservadora em relação à política monetária”, comentou Spiess.
A manutenção dos juros elevados nos Estados Unidos tem implicações significativas para os mercados globais e, em particular, para o Brasil. Segundo Diniz, a demora na redução das taxas de juros americanas pode reduzir o fluxo de capitais para o Brasil, pressionar a valorização do real e aumentar o custo dos empréstimos em dólar para empresas brasileiras. “A continuidade dos juros altos nos EUA demanda ajustes por parte do Banco Central do Brasil, que deverá adaptar sua política econômica para mitigar os efeitos adversos”, afirmou Diniz.
Spiess acrescentou que a decisão do Fed e a postura conservadora em relação à política de juros terão impacto nas curvas de juros globais, incluindo a brasileira. Ele destacou que o Brasil, como mercado emergente, é particularmente sensível às políticas monetárias dos Estados Unidos, que influenciam diretamente o fluxo de capitais e a volatilidade do mercado.
Alexandre Dellamura, mestre em Economia e head de conteúdo da Melver, destacou que os juros americanos, atualmente entre 5,25% e 5,50%, devem ser mantidos na reunião desta semana. Ele apontou que o payroll de maio superou as expectativas, com a criação de 272 mil vagas não-agrícolas, frente a uma previsão de 180 mil, e um aumento salarial de 0,4% em comparação com os 0,3% esperados. “Os dados de emprego reduziram o otimismo daqueles que esperavam por uma queda nas taxas de juros já neste trimestre. A maior probabilidade de redução das taxas de juros está concentrada no último trimestre de 2024, devido à queda gradual, embora lenta, da inflação”, explicou Dellamura.
Dellamura ressaltou que a manutenção dos juros elevados pelo Fed pode levar a uma maior volatilidade nos mercados de capitais, exacerbada pelo cenário político americano e pelas questões fiscais no Brasil. Ele sugeriu que, diante desse cenário, o Banco Central do Brasil deve ajustar sua política econômica para se alinhar às condições globais de juros altos.