O mercado de wealth management está mais competitivo, com crescimento de players em atuação, ao mesmo tempo em que grande parte do público alvo não sabe o que faz um family office, diz Sigrid Guimarães, CEO e sócio-fundadora da Alocc, em entrevista a Funds Society.
Fundada há 20 anos por ela, que conheceu o setor durante sua jornada de 14 anos nas organizações Globo, onde trabalhou no setor de tesouraria, a Alocc tem hoje R$ 10,5 bilhões sob gestão, divididas entre cerca de 350 famílias, além de muita experiência somada no assunto, segundo a CEO.
“O planejamento patrimonial é um processo demorado que envolve levantar e analisar todos os ativos de uma família”, diz Sigrid. Ela conta que o conceito de family office é pouco disseminado no Brasil, e que muitos possíveis clientes se surpreendem com o trabalho da gestora no primeiro encontro.
“As pessoas acham que é só para clientes ‘ultra-high’, mas não é bem assim“, diz, explicando também que o perfil de sua clientela é mais previdenciário. “O family office faz mais sentido para quem já está numa fase mais madura da vida, pensando na aposentadoria ou em deixar um legado para os filhos”, afirma.
Segundo Sigrid, a discussão da gestora com o cliente “não começa com a escolha de um CDB ou um fundo, mas sim com a fundação do planejamento financeiro, entendendo quanto ele precisa ter de colchão de liquidez”. Ela conta que muitas casas se apresentam como uma gestora de patrimônio, mas na verdade não são. “Simplesmente ter alguém para fazer investimentos e um advogado para fazer o testamento não torna alguém um FO“, afirma.
Ela afirma que a experiência necessária para formar uma equipe de family office leva um tempo considerável. “Não é fácil você virar esse tipo de gestora. Para eu contratar uma pessoa aqui hoje, para trabalhar aqui, eu demoro dois anos para colocar essa pessoa no pleno funcionamento“, explica, colocando que a necessidade de falar sobre todos os assunto leva tempo na formação. Hoje a Alocc conta com cerca de 65 funcionários. Quase todos com CFP (Certified Financial Planner), que segundo Sigrid, não é um título obrigatório na casa, mas incentivado.
A CEO conta que a Alocc recebeu uma grande demanda no pós pandemia, com um foco diferente nos serviços prestados. “Antes, 90% das pessoas nos procuravam apenas para gestão financeira, mas agora buscam também por planejamento e sucessão“, diz. “Essa nova demanda vai além da gestão financeira tradicional, abrangendo também questões de sucessão, que antes eram tabu. Hoje, as famílias querem discutir e planejar suas heranças, garantindo que tudo esteja bem estruturado”.
Alocc quer ampliar serviços a mais clientes
Hoje, um dos objetivos da gestora é tornar seu serviço acessível a um número maior de famílias, mantendo a personalização e a eficiência, diz Sigrid. Para isso, a Alocc está atualmente investimento na sistematização de seus processos e no desenvolvendo tecnologia, e mantendo o padrão de qualidade da gestora, que ‘tem uma gestão financeira focada no cliente, e não no mercado‘, de acordo com a CEO.
Para isso, a gestora conta com um método próprio. “Investimos tempo, energia, tecnologia e dinheiro para desenvolver uma metodologia que agiliza esse processo, permitindo uma análise rápida e precisa”, diz. “Nosso objetivo final é atender mais famílias e oferecer esse serviço de alta qualidade, que muitos acreditavam ser impossível de escalonar”.
Liquidez, diversificação e eficiência
A CEO explica que o método conta com esses três pilares básicos. “A liquidez é o dinheiro que você acessa em uma crise financeira. Recomendamos um colchão de segurança de três anos do seu custo de vida. Se você gasta 10 mil por mês, deve ter 360 mil em renda fixa. Durante a pandemia, vimos que seis meses não eram suficientes”, diz.
Já na diversificação, “a distribuição de investimentos em várias categorias para atravessar crises e garantir rentabilidade a longo prazo”. E no último quesito, “selecionar bons gestores e buscando a maior eficiência possível”.