O mercado tem boas oportunidades de renda fixa, em títulos soberanos e privados, que podem até dobrar de valor após o primeiro corte de juros pelo Federal Reserve, apontam gestoras globais no DAVINCI Masterpiece, em São Paulo, no primeiro de uma série de quatro eventos, promovidos pela distribuidora uruguaia especializada na distribuição independente de fundos de investimento para o mercado da América Latina.
Entre os palestrantes, gestores da Allianz Global Investors, que distribui nos mercados US Offshore através da Voya; a britânica Jupiter Asset e o grupo Investec. Nas palestras, foram apresentadas majoritariamente estratégias voltadas à renda fixa, mas também alguns fundos de renda variável. Todos voltados aos clientes da DAVINCI no Brasil, companhia que procura fazer uma curadoria das ‘melhores ideias’ para os investidores, segundo o country head de Brasil, Federico Vilaseca.
Bonds promissores
Carlos Carranza, portfolio manager e Emerging Markets Debt na Allianz, prevê bons retornos de bonds de países emergentes com o corte de taxa de juros pelo Fed, que ele acredita que não deverá mais subir as taxas. Ele afirma que os retornos podem até dobrar, a depender dos títulos.
“Na Argentina, por exemplo, temos bons títulos que valem 40 centavos para cada 100; Equador que vale 25 centavos a cada 100. E são países cujos títulos possuem oportunidades de dobrar seu valor”, afirma, ressaltando as qualidades fiscais do país. “Eles tem um acordo com o FMI, reservas do Banco Central subindo e uma política estável, podem facilmente negociar. Os títulos do Equador registraram um retorno de 50% neste ano. Na Argentina, nos últimos 6 meses, os títulos renderam 100%, dobrando seu valor”, diz.
Segundo Carranza, há muitos países emergentes em situações favoráveis, porém com preços de títulos que ainda não refletem a realidade local. “Então, quando o Fed reduzir as taxas, esses países terão uma grande performance no futuro”, afirma, colocando até mesmo bons de soberanias mais polêmicas na fila, como do país comandado por Nicolas Maduro.
“Minha opinião é que devemos comprar esses títulos de baixo valor, inclusive da Venezuela, um país polêmico com uma política difícil e desafiadora. Os títulos da Venezuela dobraram seu valor nos últimos 12 meses, passando de 7 centavos por dólar para 15 centavos por dólar, um retorno de 100% para um título soberano”. Ele diz que o ponto é claro: “Há muitos países com uma grande oportunidade de aumentar seus preços e o momento histórico de compra é quando o Fed para de aumentar as taxas, muda o ciclo e começar a baixar as taxas”.
O portfolio manager da Allianz diz inclusive que está comprado em Brasil, aproveitando o que considera excelentes spreads nos títulos locais, hoje com um dos maiores juros reais do mundo, com uma inflação de 3,7% e uma taxa de juros de 10,50%. “Os títulos brasileiros oferecem um spread de 450 pontos base acima do índice de emergentes, e ainda assim a inflação está em torno de 4%. É um país onde vemos valor e que tem uma das taxas reais mais altas entre os mercados emergentes. Como investidores internacionais, acreditamos que os títulos brasileiros são uma boa compra”, ressalta, mostrando o fundo da Allianz em que é um dos gestores, o Allianz Emerging Markets Select Bond, fundo que pode investir em EM Hard Currency, EM Local Currency e EM Corporate (inclusive High Yield).
Já a Jupiter Asset, gestora britânica especializada em renda fixa, apresentou, com o head William López e o sales manager Santiago Mata, ambos de América Latina e US Offshore, uma estratégia também voltada à aquisição de bonds, com apetite para crédito privado de mercados emergentes na carteira, no fundo Jupiter Dynamic Bond, com duração baixa e títulos garantidos.
Outro fundo, com estratégias também voltadas para bonds, é o Jupiter Global Fixed Income Fund, com alocações em títulos soberanos globais. “Estamos no dobro de rate maturity. Vamos ter um retorno de dois dígitos daqui um ano, porque esperamos que a taxa de juros dos EUA vai cair”, diz Mata, ante expectativas positivas sobre os próximos passos do Federal Reserve.
S&P ainda não precificou corte de juros
Ryan Friedman, head of multi-management, da Investec, apresentou um fundo multimercado, o Investec Multi Asset Cautions, que apresenta uma possível alocação em RV de até 40%, e é uma das estratégias disponíveis da gestora fundada na África do Sul para clientes brasileiros. “O S&P não precificou o corte de juros pelo Fed”, afirmou, demonstrando num gráfico como a bolsa americana segue relativamente barata, antes a reação dos bonds, já precificados e mais caros.
O gestor vê três cenários possíveis na economia global: um ‘Soft landing’, com cenário positivo para equities e bonds; uma recessão cíclica normal, ruim para ações e boa para os títulos de dívida; ou um ‘No Landing’, que é ruim para as ações e inicialmente ruim para os títulos privados, que depois engatam em alta.
A gestora, que segundo Friedman é fundamentalmente baseada na criação de boas relações pessoais, visando encontrar os ‘melhores gestores globais’, também tem um fundo de 100% em RV, o Investec Global Trends, que busca captar as principais tendências disruptivas dos setores econômicos, nos mercados globais.